São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Eleições regionais viram referendo sobre Berlusconi

Resultados da votação de hoje e amanhã demonstrarão se o premiê se manteve popular após acusações de corrupção

Itália escolherá governantes de 13 das 20 regiões do país; para analista, campanha povoada de polêmicas pode derivar em alta abstenção

GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA

A onipresença do premiê italiano Silvio Berlusconi transformou as eleições regionais de hoje e amanhã num referendo pessoal. Essas serão as últimas eleições até o fim do seu mandato, em 2013 -ele chefia o Executivo há quase dois anos.
Cerca de 40 milhões de eleitores poderão escolher o governo de 13 das 20 regiões da Itália. O resultado demonstrará se a popularidade do líder está caindo, ante a série de escândalos de corrupção, abuso de poder e associação com a máfia que afeta seu governo direitista. Muitos eleitores desiludidos poderão optar pela abstenção.
A campanha foi carregada por polêmicas, que desviaram a atenção dos problemas sociais e econômicos. Pela primeira vez, Berlusconi conseguiu que a TV pública Rai fosse censurada e proibida de transmitir debates políticos. Em resposta, nasceu um movimento anticensura na internet, nas rádios e na TV paga, e apresentadores censurados fizeram apelo pela liberdade de informação com um show na última quinta.
Outra polêmica foi a exclusão do maior partido governista, o PDL (Povo da Liberdade), em Lazio, por não entregar documentos das candidaturas no prazo estipulado -Berlusconi voltou a alegar perseguição da Justiça. Ainda assim, a candidata apoiada pelo partido, Renata Polverini, concorrerá à presidência da região Lazio com a própria lista (chamada lista cívica), e não com o PDL.
O chefe do instituto de pesquisas Ipsos, Nando Pagnoncelli, explicou à Folha que a campanha marcada por polêmicas pode provocar grande abstenção. "Se o eleitor sente um clima político caótico, ele pode desistir de votar", disse.
Para ele, a abstenção poderia favorecer a esquerda e o maior partido da oposição, o PD (Partido Democrático), segundo mais votado no pleito nacional de 2008. Mas a direita -representada pelo PDL e pela Liga Norte, aliada do governo e terceira maior força política do país- ainda teria vantagem de cerca de dez pontos.
Para Pagnoncelli, os italianos estão cansados da briga do premiê com a magistratura. "Os eleitores querem que a política resolva problemas como a crise econômica." No último trimestre de 2009, o índice de desemprego na Itália foi de 8,6%, o pior desde 2001. E o crescimento econômico em 2009 foi negativo em 5%.
Berlusconi -que governou a Itália por sete anos na última década- culpa a oposição pelos problemas do país. O premiê espera obter solidariedade popular depois da agressão que sofreu em dezembro. Lançou o livro "O Amor Ganha Sempre da Inveja e do Ódio" e disse que, agora que está solteiro, as mulheres fazem fila por ele. Confirmando a fama de mulherengo, fez incluir em algumas listas eleitorais mulheres jovens, bonitas e ligadas ao mundo do espetáculo.
Muitos candidatos com ficha suja por corrupção ou elo com a máfia vão concorrer. Por isso, Roberto Saviano, autor do livro "Gomorra", que vive sob escolta permanente, escreveu um apelo no jornal "La Repubblica", pedindo observadores internacionais no pleito italiano.
A coalizão de direita espera vencer em ao menos 5 das 11 regiões governadas pela oposição. Considerando a variação demográfica de cada região, a vitória eleitoral não será avaliada pelo número de regiões vencidas por um partido ou uma coalizão, e sim pelo percentual de votos nacionais dos partidos. Uma eventual derrota direitista acentuaria a atual crise entre os aliados de governo, abrindo um debate interno sobre a liderança de Berlusconi.


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