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Eleições regionais viram referendo sobre Berlusconi
Resultados da votação de hoje e amanhã demonstrarão se
o premiê se manteve popular após acusações de corrupção
Itália escolherá governantes de 13 das 20 regiões do país; para analista, campanha povoada de polêmicas pode derivar em alta abstenção
GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA
A onipresença do premiê italiano Silvio Berlusconi transformou as eleições regionais de
hoje e amanhã num referendo
pessoal. Essas serão as últimas
eleições até o fim do seu mandato, em 2013 -ele chefia o
Executivo há quase dois anos.
Cerca de 40 milhões de eleitores poderão escolher o governo de 13 das 20 regiões da Itália.
O resultado demonstrará se a
popularidade do líder está caindo, ante a série de escândalos
de corrupção, abuso de poder e
associação com a máfia que afeta seu governo direitista. Muitos eleitores desiludidos poderão optar pela abstenção.
A campanha foi carregada
por polêmicas, que desviaram a
atenção dos problemas sociais
e econômicos. Pela primeira
vez, Berlusconi conseguiu que a
TV pública Rai fosse censurada
e proibida de transmitir debates políticos. Em resposta, nasceu um movimento anticensura na internet, nas rádios e na
TV paga, e apresentadores censurados fizeram apelo pela liberdade de informação com
um show na última quinta.
Outra polêmica foi a exclusão
do maior partido governista, o
PDL (Povo da Liberdade), em
Lazio, por não entregar documentos das candidaturas no
prazo estipulado -Berlusconi
voltou a alegar perseguição da
Justiça. Ainda assim, a candidata apoiada pelo partido, Renata Polverini, concorrerá à
presidência da região Lazio
com a própria lista (chamada
lista cívica), e não com o PDL.
O chefe do instituto de pesquisas Ipsos, Nando Pagnoncelli, explicou à Folha que a campanha marcada por polêmicas
pode provocar grande abstenção. "Se o eleitor sente um clima político caótico, ele pode
desistir de votar", disse.
Para ele, a abstenção poderia
favorecer a esquerda e o maior
partido da oposição, o PD (Partido Democrático), segundo
mais votado no pleito nacional
de 2008. Mas a direita -representada pelo PDL e pela Liga
Norte, aliada do governo e terceira maior força política do
país- ainda teria vantagem de
cerca de dez pontos.
Para Pagnoncelli, os italianos
estão cansados da briga do premiê com a magistratura. "Os
eleitores querem que a política
resolva problemas como a crise
econômica." No último trimestre de 2009, o índice de desemprego na Itália foi de 8,6%, o
pior desde 2001. E o crescimento econômico em 2009 foi
negativo em 5%.
Berlusconi -que governou a
Itália por sete anos na última
década- culpa a oposição pelos problemas do país. O premiê espera obter solidariedade
popular depois da agressão que
sofreu em dezembro. Lançou o
livro "O Amor Ganha Sempre
da Inveja e do Ódio" e disse
que, agora que está solteiro, as
mulheres fazem fila por ele.
Confirmando a fama de mulherengo, fez incluir em algumas
listas eleitorais mulheres jovens, bonitas e ligadas ao mundo do espetáculo.
Muitos candidatos com ficha
suja por corrupção ou elo com
a máfia vão concorrer. Por isso,
Roberto Saviano, autor do livro
"Gomorra", que vive sob escolta permanente, escreveu um
apelo no jornal "La Repubblica", pedindo observadores internacionais no pleito italiano.
A coalizão de direita espera
vencer em ao menos 5 das 11
regiões governadas pela oposição. Considerando a variação
demográfica de cada região, a
vitória eleitoral não será avaliada pelo número de regiões vencidas por um partido ou uma
coalizão, e sim pelo percentual
de votos nacionais dos partidos. Uma eventual derrota direitista acentuaria a atual crise
entre os aliados de governo,
abrindo um debate interno sobre a liderança de Berlusconi.
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