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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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Eleições para governadores e parte do Congresso vão agitar política argentina até o fim deste ano

Indefinição política ainda se arrastará

DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

Quem imagina que a posse do novo presidente argentino, no dia 25 de maio, marcará o fim da transição política forçada pela renúncia de Fernando de la Rúa está redondamente enganado.
Entre o primeiro turno da eleição presidencial, ontem realizado, e o final do ano, haverá uma chuva de outras eleições, para governadores e para renovar parte do Congresso. Por extensão, uma real definição do novo mapa político só ocorrerá em dezembro, sete meses após a posse do novo presidente.
A renovação nas Províncias começou ontem mesmo, com a eleição de sete deputados, três por La Rioja e quatro por Santiago del Estero, além dos respectivos governadores e também do governador de San Luis.
São Províncias pequenas, que reúnem, somadas, apenas 4,4% do eleitorado total.
O jogo pesado, nas Províncias e para o Congresso, começa mesmo logo depois da posse do novo presidente, com a escolha, no dia 8 de junho, dos governadores de Córdoba e da Cidade Autônoma de Buenos Aires (a Capital Federal). São dois dos quatro distritos com maior número de votantes. Os outros dois são a fundamental Província de Buenos Aires, com 9,473 milhões de eleitores (38% do total), e Córdoba (8,8% dos eleitores).

Apoio
Buenos Aires vota no dia 14 de setembro, mas ainda não foi marcada a data do pleito em Santa Fé.
Em setembro, o Congresso renova (ou mantém, claro) 130 dos 257 lugares da Câmara de Deputados e 24 das 72 cadeiras do Senado.
Só a partir de então se saberá com que apoio poderá governar o presidente a ser eleito no dia 18 de maio, data do segundo turno.
Hoje, o Congresso é fragmentado como o próprio quadro de candidaturas presidenciais (apresentaram-se 19 listas, uma foi impugnada, sobraram 18).
O maior bloco (o peronista ou Justicialista, nome oficial do movimento criado pelo general Juan Domingo Perón em 1946) não chega à maioria absoluta: tem 119 deputados, 10 a menos do que a metade mais um.
Pior: o peronismo está rachado em três correntes, não por acaso o número de candidatos presidenciais que o peronismo apresentou ao pleito de ontem.
Pelos cálculos de Laura Serra, que cobre Congresso para o matutino "La Nación", Néstor Kirchner, um dos dois finalistas, se a boca-de-urna estiver correta, tem 70 dos 119 deputados peronistas, ao passo que seu rival, Carlos Menem, fica com menos ainda (30).
Os outros apoiaram Adolfo Rodríguez Saá, que ficou fora do turno final, sempre de acordo com pesquisas boca-de-urna.

Racha ou unifica?
Para ter um mínimo de governabilidade, portanto, o novo presidente, seja qual for, terá que começar pela unificação do peronismo.
Há duas avaliações diametralmente opostas sobre o que acontecerá com o bloco peronista no Congresso, a partir do resultado eleitoral.
Mario Wainfeld, do jornal "Página12", imagina que o peronismo "tem perspectivas certas de reunificar-se no poder, como o fez entre 1989 e 1999" (anos em que ganhou as presidenciais). Como vai ganhar de novo, já que as pesquisas põem dois peronistas no turno final, haveria chances de repetir-se a colagem dos cacos do movimento.
Mas Carlos Eichelbaum, que há pelo menos 20 anos cobre o peronismo para o jornal "Clarín", antecipa o oposto: "O Partido Justicialista chega a estas eleições no momento mais crítico, quase final, como estrutura única, de dimensão nacional, com um sistema interno de relações e códigos reconhecíveis para todos os seus membros e linhas, independentemente de suas diferenças".
Complica o cenário o fato de que a União Cívica Radical, segunda força política, virtualmente desapareceu do mapa presidencial, mas continua tendo 74 deputados entre os 257.
Como Ricardo López Murphy e Elisa Carrió, dois dissidentes do radicalismo, ficaram no terceiro e quarto lugar, sempre segundo a boca-de-urna, a questão é saber se os deputados radicais estarão dispostos a apoiar o novo governo peronista ou preferirão ficar na oposição, como já antecipam os dois dissidentes.
Seja como for, o vitorioso em maio, qualquer que seja, começará o mandato em minoria na Câmara dos Deputados. E terá que esperar até o fim do ano para saber se terá ou não maioria, a menos que prefira partir, de saída, para um entendimento político amplo com os derrotados agora.
É sintomático que, na antevéspera da votação, o presidente Eduardo Duhalde tenha feito um apelo para a união nacional, em nome da governabilidade.
Esse tipo de sugestão é frequente em momentos de crise, mas, se o peronismo não conseguiu unificar nem seus próprios quadros, a ponto de ter tido três candidatos, como supor que será possível que todos os partidos o façam agora? (CLÓVIS ROSSI)


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