|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Eleições para governadores e parte do Congresso vão agitar política argentina até o fim deste ano
Indefinição política ainda se arrastará
DO ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES
Quem imagina que a posse do
novo presidente argentino, no dia
25 de maio, marcará o fim da
transição política forçada pela renúncia de Fernando de la Rúa está
redondamente enganado.
Entre o primeiro turno da eleição presidencial, ontem realizado, e o final do ano, haverá uma
chuva de outras eleições, para governadores e para renovar parte
do Congresso. Por extensão, uma
real definição do novo mapa político só ocorrerá em dezembro, sete meses após a posse do novo
presidente.
A renovação nas Províncias começou ontem mesmo, com a eleição de sete deputados, três por La
Rioja e quatro por Santiago del
Estero, além dos respectivos governadores e também do governador de San Luis.
São Províncias pequenas, que
reúnem, somadas, apenas 4,4%
do eleitorado total.
O jogo pesado, nas Províncias e
para o Congresso, começa mesmo logo depois da posse do novo
presidente, com a escolha, no dia
8 de junho, dos governadores de
Córdoba e da Cidade Autônoma
de Buenos Aires (a Capital Federal). São dois dos quatro distritos
com maior número de votantes.
Os outros dois são a fundamental
Província de Buenos Aires, com
9,473 milhões de eleitores (38%
do total), e Córdoba (8,8% dos
eleitores).
Apoio
Buenos Aires vota no dia 14 de
setembro, mas ainda não foi marcada a data do pleito em Santa Fé.
Em setembro, o Congresso renova (ou mantém, claro) 130 dos
257 lugares da Câmara de Deputados e 24 das 72 cadeiras do Senado.
Só a partir de então se saberá
com que apoio poderá governar o
presidente a ser eleito no dia 18 de
maio, data do segundo turno.
Hoje, o Congresso é fragmentado como o próprio quadro de
candidaturas presidenciais (apresentaram-se 19 listas, uma foi impugnada, sobraram 18).
O maior bloco (o peronista ou
Justicialista, nome oficial do movimento criado pelo general Juan
Domingo Perón em 1946) não
chega à maioria absoluta: tem 119
deputados, 10 a menos do que a
metade mais um.
Pior: o peronismo está rachado
em três correntes, não por acaso o
número de candidatos presidenciais que o peronismo apresentou
ao pleito de ontem.
Pelos cálculos de Laura Serra,
que cobre Congresso para o matutino "La Nación", Néstor Kirchner, um dos dois finalistas, se a
boca-de-urna estiver correta, tem
70 dos 119 deputados peronistas,
ao passo que seu rival, Carlos Menem, fica com menos ainda (30).
Os outros apoiaram Adolfo Rodríguez Saá, que ficou fora do turno final, sempre de acordo com
pesquisas boca-de-urna.
Racha ou unifica?
Para ter um mínimo de governabilidade, portanto, o novo presidente, seja qual for, terá que começar pela unificação do peronismo.
Há duas avaliações diametralmente opostas sobre o que acontecerá com o bloco peronista no
Congresso, a partir do resultado
eleitoral.
Mario Wainfeld, do jornal "Página12", imagina que o peronismo "tem perspectivas certas de
reunificar-se no poder, como o
fez entre 1989 e 1999" (anos em
que ganhou as presidenciais). Como vai ganhar de novo, já que as
pesquisas põem dois peronistas
no turno final, haveria chances de
repetir-se a colagem dos cacos do
movimento.
Mas Carlos Eichelbaum, que há
pelo menos 20 anos cobre o peronismo para o jornal "Clarín", antecipa o oposto: "O Partido Justicialista chega a estas eleições no
momento mais crítico, quase final, como estrutura única, de dimensão nacional, com um sistema interno de relações e códigos
reconhecíveis para todos os seus
membros e linhas, independentemente de suas diferenças".
Complica o cenário o fato de
que a União Cívica Radical, segunda força política, virtualmente
desapareceu do mapa presidencial, mas continua tendo 74 deputados entre os 257.
Como Ricardo López Murphy e
Elisa Carrió, dois dissidentes do
radicalismo, ficaram no terceiro e
quarto lugar, sempre segundo a
boca-de-urna, a questão é saber se
os deputados radicais estarão dispostos a apoiar o novo governo
peronista ou preferirão ficar na
oposição, como já antecipam os
dois dissidentes.
Seja como for, o vitorioso em
maio, qualquer que seja, começará o mandato em minoria na Câmara dos Deputados. E terá que
esperar até o fim do ano para saber se terá ou não maioria, a menos que prefira partir, de saída,
para um entendimento político
amplo com os derrotados agora.
É sintomático que, na antevéspera da votação, o presidente
Eduardo Duhalde tenha feito um
apelo para a união nacional, em
nome da governabilidade.
Esse tipo de sugestão é frequente em momentos de crise, mas, se
o peronismo não conseguiu unificar nem seus próprios quadros, a
ponto de ter tido três candidatos,
como supor que será possível que
todos os partidos o façam agora?
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior: Disputa envolverá peronistas com propostas distintas de governo Próximo Texto: Análise: Heterodoxia sai com vantagem para o segundo turno Índice
|