UOL


São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES PARAGUAIAS

Candidato do Partido Colorado, no poder desde 1947, tinha 37,6% dos votos com 83% apurados

Nicanor Duarte vence e promete diálogo

ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Nicanor Duarte Frutos, 46, foi eleito ontem presidente do Paraguai, para um mandato de cinco anos. Com 83% das urnas apuradas, Duarte tinha 37,6% dos votos, mais de 14 pontos percentuais à frente do segundo colocado, Julio César "Yoyito" Franco.
Duarte Frutos, ex-jornalista e ex-ministro da Educação, deve assumir o cargo em 15 de agosto, com o desafio de enfrentar a pior crise econômica das últimas cinco décadas e de tirar do Paraguai o título de país mais corrupto da América Latina, segundo ranking da organização não-governamental Transparência Internacional.
Sua vitória, porém, mantém no poder o Partido Colorado, que governa o país ininterruptamente desde 1947 -incluindo o período da ditadura do general Alfredo Stroessner, de 1954 a 1989.
Segundo os dados da apuração divulgados pelo Tribunal Eleitoral do Paraguai, Franco, 50, vice-presidente entre 2000 e 2002, tinha 23,4% dos votos, seguido, no terceiro lugar, pelo ex-empresário Pedro Fadul, 49, do movimento independente Pátria Querida, com 22,4%.
O senador Guillermo Sánchez Guffanti, 60, da União Nacional dos Cidadãos Éticos (Unace), aparecia em quarto, com 12,9% dos votos. Sánchez foi apoiado pelo ex-general Lino Oviedo, condenado no Paraguai por uma tentativa de golpe em 1996 e acusado pelo assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999, e exilado hoje no Brasil.
Em seu discurso logo após a divulgação da pesquisa, sem esperar o reconhecimento de sua vitória pelos adversários, Duarte Frutos pediu apoio aos derrotados para governar e prometeu um "diálogo pluripartidário".
O apelo é um reflexo da divisão no Congresso prevista pelas pesquisas. O Partido Colorado não deverá ter a maioria, e no lugar dos três partidos que ganharam, nas eleições passadas, representação na Câmara de Deputados e no Senado, deverá haver, a partir de agosto, seis ou sete agremiações com representação.

Desafio
Apesar de pertencer a um grupo político adversário, dentro do Partido Colorado, do atual presidente, Luis González Macchi, muitos analistas vêem como principal desafio do próximo presidente superar o sistema clientelista e corrupto que mantém a agremiação no poder há tanto tempo.
A máquina partidária colorada é quase imbatível -a ponto de Duarte ter dito, à Folha, que, se uma garrafa d'água fosse candidata colorada à Presidência, seria eleita. O partido conta, oficialmente, com 1,2 milhão de filiados, num eleitorado de 2,4 milhões. Além disso, há denúncias de pressões sobre militares e funcionários públicos para participar de comícios do partido e votar em seus candidatos -com suas famílias, esse contingente representaria 40% do eleitorado.
Além disso, o partido conta ainda com outro trunfo -o transporte de eleitores. Com a prática disseminada de os partidos oferecerem ônibus para levar os eleitores às seções eleitorais -permitida pela legislação-, os colorados, que contam com a melhor estrutura partidária, levam vantagem sobre os demais.
"Nunca sofri pressões, mas muitos dos meus colegas preferem votar no Partido Colorado para manter a estabilidade e não ameaçar seus empregos", disse à Folha ontem o funcionário público Carlos Sánchez, 39, após votar -"em branco"- no Colégio Nacional, em Assunção.
O movimento nas seções eleitorais da capital foi tranquilo durante todo o dia. Não se viam filas ou manifestações. No Colégio Nacional, um eleitor que levava uma bandeira do clube de futebol Olimpia -atual campeão da Taça Libertadores da América- gritava: "Esse é o único que nos dá alegrias!"
A campanha eleitoral foi marcada pelo desânimo dos eleitores, diante da falta de perspectivas de mudanças. "Estamos muito mal, não podemos continuar assim por mais cinco anos", disse, ao chegar para votar, o comerciante Humberto Ismajovich, 35, eleitor de Pedro Fadul. "O atual governo é um desastre, com muita corrupção", afirmou.
Ainda assim, alguns eleitores do candidato colorado disseram acreditar na sua capacidade de mudar o atual quadro. "A corrupção está em todos os lugares onde está o ser humano, não é só no Paraguai", disse o administrador Joel Baez, 39. "Acredito que Nicanor tem condições de combater aos poucos a corrupção. Porque qualquer doença tem que ser combatida aos poucos, não dá para acabar com ela de uma vez", afirmou.


Texto Anterior: Murphy e Saá denunciam fraude
Próximo Texto: Virtual eleito quer fortalecer vínculo com o Brasil
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.