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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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Liderança de Duarte supera a de Macchi

DO ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Com um temperamento oposto ao do atual presidente, Nicanor Duarte Frutos terá condições de fazer um governo diferente da administração de Luis González Macchi, que chega ao final com a reprovação de nove entre dez paraguaios, mas para isso terá que vencer o desafio de se desvincular do sistema que mantém o Partido Colorado no poder há 56 anos.
A análise é do cientista político José Nicolás Morinigo, professor da Universidade Católica de Assunção e diretor do Gabinete de Estudos de Opinião.
"A pergunta é se ele poderá assumir uma liderança acima do sistema de partido-Estado que é a forma clássica de atuar do Partido Colorado, vinculado por sua vez a lideranças econômicas que têm seu desenvolvimento no campo da economia informal", disse o analista em entrevista à Folha, em Assunção.
As indicações que deu durante a campanha, porém, são um mau presságio, para Morinigo, que cita suas ligações com donos de fábricas de cigarro acusados de contrabando para o Brasil. (RW)
 

Folha - Duarte Frutos poderá fazer um governo diferente do de Luis González Macchi?
José Nicolás Morinigo -
Acho que pode haver algumas mudanças. Em termos de temperamento, os dois representam dois pólos opostos. O atual presidente tem uma liderança muito débil. Ele tem muito pouca motivação pelo poder, ao contrário de Duarte Frutos, que é uma pessoa que trabalhou muito para conseguir o poder político e se mostra muito motivado no exercício do poder.
Mas a pergunta que nos fazemos é se ele será capaz de assumir uma liderança acima do funcionamento do sistema vinculado ao conceito do partido-Estado que é a forma clássica de atuar do Partido Colorado, vinculado por sua vez a lideranças econômicas que têm seu desenvolvimento no campo da economia informal, da economia mafiosa.

Folha - E há indicações de que ele possa conseguir isso?
Morinigo -
De fato, Duarte Frutos não conseguiu se desprender de tudo durante sua campanha eleitoral. Reinerio Santacruz, que foi o candidato colorado a governador de Alto Paraná [Departamento cuja capital é Ciudad del Este], é um conhecido representante da economia subterrânea, e esteve bastante vinculado à candidatura de Duarte Frutos.
Santacruz é um dos maiores fabricantes de cigarro da fronteira com o Brasil, acusado de contrabando. Isso demonstra que, mesmo com os critérios muito críticos que diz ter sobre a corrupção, Duarte Frutos pode não conseguir se safar da estrutura do Partido Colorado com esses empresários da economia subterrânea.

Folha - O entorno o prejudica?
Morinigo -
Sem dúvida. Ainda mais porque tem apoio forte de outros fabricantes de cigarros também vinculados a essa economia subterrânea. Me refiro ao seu ex-adversário Oswaldo Domínguez Dib, presidente do clube Olimpia, que também lhe deu um apoio forte. Ele é dono da Tabacalera Boquerón, empresa importante que mantém permanente conflito com a Souza Cruz e está metida no centro da discussão sobre o contrabando de cigarros ao Brasil.

Folha - Duarte sofre acusações pessoais de corrupção?
Morinigo -
Não há acusações nas quais sua vinculação seja ostensiva. As acusações se referem à sua administração como ministro da Educação, mas até agora não existem provas conclusivas.

Folha - O próximo presidente terá condições de combater a grave crise econômica por que passa o Paraguai?
Morinigo -
O novo governo terá sobretudo uma dificuldade que é o déficit fiscal. Com uma evasão fiscal de 72%, não há Estado que possa se sustentar. A primeira grande questão terá que ser reduzir o déficit fiscal e promover uma luta a fundo contra a corrupção, sobretudo na Receita Federal e no que se relaciona com a cobrança de impostos.
Mas esse governo terá a seu favor, por outro lado, uma produção de soja recorde, que alcançou 3,4 milhões de toneladas, com 1,3 milhão de hectares. Isso coloca o Paraguai como o 4º produtor mundial de soja. Também há a produção de algodão, que aumentou sensivelmente, de apenas 70 mil hectares de plantações para 240 mil hectares. E com um bom preço, o que gera uma tranquilidade pelo menos no setor camponês minifundiário.


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