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Liderança de Duarte supera a de Macchi
DO ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
Com um temperamento oposto
ao do atual presidente, Nicanor
Duarte Frutos terá condições de
fazer um governo diferente da administração de Luis González
Macchi, que chega ao final com a
reprovação de nove entre dez paraguaios, mas para isso terá que
vencer o desafio de se desvincular
do sistema que mantém o Partido
Colorado no poder há 56 anos.
A análise é do cientista político
José Nicolás Morinigo, professor
da Universidade Católica de Assunção e diretor do Gabinete de
Estudos de Opinião.
"A pergunta é se ele poderá assumir uma liderança acima do
sistema de partido-Estado que é a
forma clássica de atuar do Partido
Colorado, vinculado por sua vez a
lideranças econômicas que têm
seu desenvolvimento no campo
da economia informal", disse o
analista em entrevista à Folha, em
Assunção.
As indicações que deu durante a
campanha, porém, são um mau
presságio, para Morinigo, que cita
suas ligações com donos de fábricas de cigarro acusados de contrabando para o Brasil.
(RW)
Folha - Duarte Frutos poderá fazer um governo diferente do de
Luis González Macchi?
José Nicolás Morinigo - Acho que
pode haver algumas mudanças.
Em termos de temperamento, os
dois representam dois pólos
opostos. O atual presidente tem
uma liderança muito débil. Ele
tem muito pouca motivação pelo
poder, ao contrário de Duarte
Frutos, que é uma pessoa que trabalhou muito para conseguir o
poder político e se mostra muito
motivado no exercício do poder.
Mas a pergunta que nos fazemos é se ele será capaz de assumir
uma liderança acima do funcionamento do sistema vinculado ao
conceito do partido-Estado que é
a forma clássica de atuar do Partido Colorado, vinculado por sua
vez a lideranças econômicas que
têm seu desenvolvimento no
campo da economia informal, da
economia mafiosa.
Folha - E há indicações de que ele
possa conseguir isso?
Morinigo - De fato, Duarte Frutos não conseguiu se desprender
de tudo durante sua campanha
eleitoral. Reinerio Santacruz, que
foi o candidato colorado a governador de Alto Paraná [Departamento cuja capital é Ciudad del
Este], é um conhecido representante da economia subterrânea, e
esteve bastante vinculado à candidatura de Duarte Frutos.
Santacruz é um dos maiores fabricantes de cigarro da fronteira
com o Brasil, acusado de contrabando. Isso demonstra que, mesmo com os critérios muito críticos que diz ter sobre a corrupção,
Duarte Frutos pode não conseguir se safar da estrutura do Partido Colorado com esses empresários da economia subterrânea.
Folha - O entorno o prejudica?
Morinigo - Sem dúvida. Ainda
mais porque tem apoio forte de
outros fabricantes de cigarros
também vinculados a essa economia subterrânea. Me refiro ao seu
ex-adversário Oswaldo Domínguez Dib, presidente do clube
Olimpia, que também lhe deu um
apoio forte. Ele é dono da Tabacalera Boquerón, empresa importante que mantém permanente
conflito com a Souza Cruz e está
metida no centro da discussão sobre o contrabando de cigarros ao
Brasil.
Folha - Duarte sofre acusações
pessoais de corrupção?
Morinigo - Não há acusações nas
quais sua vinculação seja ostensiva. As acusações se referem à sua
administração como ministro da
Educação, mas até agora não existem provas conclusivas.
Folha - O próximo presidente terá
condições de combater a grave crise econômica por que passa o Paraguai?
Morinigo - O novo governo terá
sobretudo uma dificuldade que é
o déficit fiscal. Com uma evasão
fiscal de 72%, não há Estado que
possa se sustentar. A primeira
grande questão terá que ser reduzir o déficit fiscal e promover uma
luta a fundo contra a corrupção,
sobretudo na Receita Federal e no
que se relaciona com a cobrança
de impostos.
Mas esse governo terá a seu favor, por outro lado, uma produção de soja recorde, que alcançou
3,4 milhões de toneladas, com 1,3
milhão de hectares. Isso coloca o
Paraguai como o 4º produtor
mundial de soja. Também há a
produção de algodão, que aumentou sensivelmente, de apenas
70 mil hectares de plantações para
240 mil hectares. E com um bom
preço, o que gera uma tranquilidade pelo menos no setor camponês minifundiário.
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