São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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Passado desestimula "guerra total"

DO ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

A história recente da Colômbia oferece poucos motivos para otimismo sobre a possibilidade de que a opção pela ação militar contra a guerrilha, prometida por Alvaro Uribe durante sua campanha à Presidência, consiga pôr fim a um conflito de quatro décadas e que vem fazendo cerca de 3.500 vítimas ao ano.
O último presidente colombiano a declarar "guerra total" à guerrilha foi César Gaviria (1990-94), atual secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos). Após conseguir, no início do governo, um acordo de paz com os grupos M-19 e EPL (Exército Popular de Libertação) e a participação política destes numa Assembléia Constituinte, Gaviria fracassou em conseguir a paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o ELN (Exército de Libertação Nacional) e acabou optando por uma ação militar em seus últimos dois anos de governo.
O então ministro da Defesa, Rafael Pardo -senador eleito e um dos assessores de Uribe na campanha-, chegou a declarar que o líder das Farc, Manuel "Tirofijo" Marulanda, seria preso em, "no máximo, dois meses", mas a captura nunca aconteceu.
Muitos analistas consideram que a guerra declarada por Gaviria à guerrilha acabou tendo um efeito colateral que hoje torna ainda mais difícil a solução do conflito: a busca dos grupos rebeldes pelo financiamento por meio do narcotráfico.
Anteriormente, o presidente Júlio César Turbay (1978-82) também já havia declarado guerra ao M-19, adotando um estatuto de segurança nacional que levou, segundo organismos de proteção aos direitos humanos, a abusos e torturas contra sindicalistas e estudantes.
Ao final do governo Turbay, o M-19 tomou a Embaixada da República Dominicana, em Bogotá, e forçou o governo a uma negociação e a uma anistia aos seus membros.
A atual opção dos colombianos pela guerra aos rebeldes, expressa nas urnas com a vitória de Uribe no primeiro turno, decorre em grande parte da frustração pelo fracasso do processo de paz iniciado em 1998 pelo atual mandatário, Andrés Pastrana.
O diálogo não conseguiu conter as ações das Farc, como sequestros, tráfico de drogas e massacres, e acabou rompido em fevereiro, após o desvio de um avião comercial e o sequestro de um senador que estava no vôo.
Para o professor Manoel Alberto Alonso, diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Antioquia, as Farc têm capacidade para modificar sua estratégia de acordo com a ação do governo. "Nas últimas semanas, a guerrilha voltou sua estratégia para o ataque direto aos paramilitares e para a sabotagem da infra-estrutura", diz. "O governo leva seis meses para decifrar a estratégia da guerrilha e, quando consegue, ela já mudou. É uma guerra assimétrica, muito difícil de ser vencida", afirma.
Para muitos analistas, o incremento do conflito pela intensificação da ação militar provocará mais vítimas e poderá fazer com que a opinião pública volte a apoiar uma solução negociada para o conflito.
"A frustração com o processo de paz fez com que as vozes radicais tivessem mais aceitação, mas o pêndulo social vai oscilar pela prática. A frustração com a guerra vai fazer com que a opinião pública oscile de novo na direção do diálogo", diz Camilo González Posso, presidente do Indepaz (Instituto para o Desenvolvimento e para a Paz). "Infelizmente, essa ilusão simplista só se apagará com a dor que está por vir." (RW)


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