|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Defesa agressiva" é nova tática israelense
MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO
A reocupação ontem de Belém por tropas israelenses é mais um sinal da nova estratégia militar adotada na Cisjordânia, que vem sendo chamada de "defesa agressiva". Em vez de manter homens em bases fixas, sustentando uma
ocupação de áreas sob administração da Autoridade Nacional
Palestina (ANP), Israel agora cerca as cidades da região.
Diariamente, ao receber informações sobre a movimentação de
militantes, o Exército ataca da forma mais rápida possível, com objetivos preestabelecidos.
"Por um lado, o Exército usa o material de inteligência obtido
durante a operação "Muro Protetor". Há muitos presos, que vão
fornecendo informações importantes. Com base nelas, toda vez
que conseguem alguma informação confirmada, eles entram nas
cidades e prendem os militantes",
disse à Folha, por telefone, Shlomo Brom, general israelense reformado e pesquisador do Centro
Jaffee para Estudos Estratégicos,
da Universidade de Tel Aviv.
Brom acrescentou: "A outra
parte desse processo são as ações
preventivas: os grupos terroristas
tentam agora se reorganizar. E Israel busca impedir esse reagrupamento, com incursões programadas com essa finalidade".
A operação "Muro Protetor"
-ofensiva na Cisjordânia para
eliminar a "infra-estrutura do terror" palestino- não conseguiu
eliminar completamente as
ameaças terroristas. Os atentados,
como o de ontem, em Petach Tikva, continuam frequentes.
No domingo, o ministro da Defesa, Binyamin Ben Eliezer, disse
que as forças de segurança do país
têm se deparado diariamente
com pelo menos um ou dois homens-bomba. "Graças a Deus,
90% dos ataques têm sido impedidos pelo Exército e pelos serviços de segurança", afirmou.
A maior parte das atividades
militares israelenses se concentra
na região de Tulkarem e Qalqilya,
que serviriam como locais de encontro de militantes provenientes
de Jenin, Nablus e Ramallah com
destino às principais cidades de
Israel.
Com o colapso das forças de segurança da ANP, liderada por Iasser Arafat, ao longo dos 20 meses
de Intifada, o premiê israelense,
Ariel Sharon, tenta suprir a sua
ausência intensificando a presença do Exército nos territórios.
"Estamos tomando de volta em
nossas mãos a responsabilidade
sobre a vida de civis em Israel",
disse ao diário "The New York Times" uma fonte militar israelense.
Sharon viola, assim, os acordos
de paz de Oslo, de 1993, segundo
os quais forças palestinas -e não
israelenses- teriam de frear as
ações de grupos como Hamas e Jihad Islâmico. Tantas foram as
violações do tratado de ambas as
partes desde 2000, que ele vem se
tornando "letra morta".
A contínua escalada do conflito,
observou Brom, anestesiou aqueles que, nos primeiros meses da
Intifada, no final de 2000, criticavam Israel por cada incursão em
território palestino. "Pode-se dizer que o Exército de Israel age
com mais liberdade nos territórios hoje", disse Brom. Segundo
ele, essa liberdade de trânsito é em
parte resultante do 11 de setembro. Ao sentir na própria pele os
resultados do terrorismo, os EUA
já não fazem mais tanta pressão
sobre Israel quando o país entra
nas cidades palestinas dizendo estar atrás de terroristas.
Além disso, explicou Brom,
"com o passar do tempo e a seguida escalada do conflito israelo-palestino, o mundo acaba se acostumando". "As incursões passam a
parecer algo natural", disse ele.
Texto Anterior: Oriente Médio: Suicida palestino mata bebê e mulher Próximo Texto: Guerra sem limites: Bush compara terrorismo ao nazismo Índice
|