São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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"Defesa agressiva" é nova tática israelense

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

A reocupação ontem de Belém por tropas israelenses é mais um sinal da nova estratégia militar adotada na Cisjordânia, que vem sendo chamada de "defesa agressiva". Em vez de manter homens em bases fixas, sustentando uma ocupação de áreas sob administração da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Israel agora cerca as cidades da região.
Diariamente, ao receber informações sobre a movimentação de militantes, o Exército ataca da forma mais rápida possível, com objetivos preestabelecidos.
"Por um lado, o Exército usa o material de inteligência obtido durante a operação "Muro Protetor". Há muitos presos, que vão fornecendo informações importantes. Com base nelas, toda vez que conseguem alguma informação confirmada, eles entram nas cidades e prendem os militantes", disse à Folha, por telefone, Shlomo Brom, general israelense reformado e pesquisador do Centro Jaffee para Estudos Estratégicos, da Universidade de Tel Aviv.
Brom acrescentou: "A outra parte desse processo são as ações preventivas: os grupos terroristas tentam agora se reorganizar. E Israel busca impedir esse reagrupamento, com incursões programadas com essa finalidade".
A operação "Muro Protetor" -ofensiva na Cisjordânia para eliminar a "infra-estrutura do terror" palestino- não conseguiu eliminar completamente as ameaças terroristas. Os atentados, como o de ontem, em Petach Tikva, continuam frequentes.
No domingo, o ministro da Defesa, Binyamin Ben Eliezer, disse que as forças de segurança do país têm se deparado diariamente com pelo menos um ou dois homens-bomba. "Graças a Deus, 90% dos ataques têm sido impedidos pelo Exército e pelos serviços de segurança", afirmou.
A maior parte das atividades militares israelenses se concentra na região de Tulkarem e Qalqilya, que serviriam como locais de encontro de militantes provenientes de Jenin, Nablus e Ramallah com destino às principais cidades de Israel.
Com o colapso das forças de segurança da ANP, liderada por Iasser Arafat, ao longo dos 20 meses de Intifada, o premiê israelense, Ariel Sharon, tenta suprir a sua ausência intensificando a presença do Exército nos territórios. "Estamos tomando de volta em nossas mãos a responsabilidade sobre a vida de civis em Israel", disse ao diário "The New York Times" uma fonte militar israelense.
Sharon viola, assim, os acordos de paz de Oslo, de 1993, segundo os quais forças palestinas -e não israelenses- teriam de frear as ações de grupos como Hamas e Jihad Islâmico. Tantas foram as violações do tratado de ambas as partes desde 2000, que ele vem se tornando "letra morta".
A contínua escalada do conflito, observou Brom, anestesiou aqueles que, nos primeiros meses da Intifada, no final de 2000, criticavam Israel por cada incursão em território palestino. "Pode-se dizer que o Exército de Israel age com mais liberdade nos territórios hoje", disse Brom. Segundo ele, essa liberdade de trânsito é em parte resultante do 11 de setembro. Ao sentir na própria pele os resultados do terrorismo, os EUA já não fazem mais tanta pressão sobre Israel quando o país entra nas cidades palestinas dizendo estar atrás de terroristas.
Além disso, explicou Brom, "com o passar do tempo e a seguida escalada do conflito israelo-palestino, o mundo acaba se acostumando". "As incursões passam a parecer algo natural", disse ele.



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