São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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SAÚDE

Relatório do governo americano adverte que fumar causa uma série de doenças até agora não relacionadas ao tabaco

Fumo afeta todo o corpo, alertam EUA

MAGGIE FOX
DA REUTERS

O fumo causa uma série de doenças que nunca antes se suspeitou fossem ligadas a ele, incluindo catarata, leucemia mielóide aguda e cânceres cervicais, renais, do pâncreas e do estômago, disse ontem o secretário da Saúde dos EUA, Richard Carmona.
Na realidade, disse ele no mais recente relatório sobre tabagismo do Departamento da Saúde americano, o fumo afeta praticamente todos os órgãos do corpo.
"Sabemos há décadas que fumar faz mal à saúde, mas esse relatório mostra que os danos são ainda piores do que imaginávamos", declarou Carmona.
"As toxinas da fumaça do cigarro vão para todos os lugares para onde flui o sangue. Espero que essa nova informação ajude a motivar as pessoas a parar de fumar e a convencer os jovens a nem sequer começar."

Pequena de fumantes
O relatório coincide com um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC), segundo o qual, em 2002, 22,5% dos adultos americanos se descreveram como fumantes, uma diminuição pequena em relação a 2001.
Para o CDC, essa redução não será suficiente para fazer o índice nacional de fumantes cair para 12%, meta fixada para 2010 pelo Departamento da Saúde.
Carmona disse que o cigarro mata estimados 44 mil americanos por ano. Os homens fumantes, afirmou, reduzem sua vida em 13,2 anos, em média, enquanto as mulheres fumantes o fazem em 14,5 anos.
O fumo custa ao país US$ 157 bilhões por ano -US$ 75 bilhões em custos médicos diretos e o restante em produtividade perdida. Os setores mais pobres e menos instruídos da população continuam a ser os que mais fumam, e, segundo o CDC, é preciso dirigir mais esforços a eles para incentivá-los a abandonar o hábito.

Pobres fumam mais
Quase 33% dos adultos que vivem abaixo do nível de pobreza fumam, contra 22% dos que estão acima desse nível. Um em cada quatro homens e uma em cada cinco mulheres se disseram fumantes.
Uma pesquisa do CDC com 31 mil americanos constatou que 28,5% das pessoas de 18 a 24 anos fumam, mas que apenas 9,3% das que têm mais de 65 anos o fazem.
O CDC estima que havia 45,8 milhões de adultos americanos fumantes em 2002 e que 41% deles disseram ter tentado deixar o hábito pelo menos uma vez. Tanto o CDC quanto Carmona disseram que é preciso intensificar os esforços para ajudar as pessoas a desistir do hábito.

Programas em empresas
Carmona destacou programas de empresas tais como a campanha "Butt Out and Breathe" (apague a bituca e respire), da Union-Pacific, que reduziu o índice de funcionários fumantes de 40%, em 1992, para 27% em 2003.
Alguns grupos opinaram que o governo precisa adotar medidas mais duras contra a indústria do cigarro.
"Um bom lugar para começar, em nível federal, seriam as propostas pendentes no Congresso para autorizar a FDA, a agência americana que regulamenta fármacos e alimentos, a cuidar do tabaco, assim como faz com outros produtos", disse M. Cass Wheeler, executivo-chefe da Associação Cardíaca Americana.
Para ele, os Estados deveriam elevar os impostos sobre o tabaco e proibir o fumo em locais públicos -a exemplo do que fez a Irlanda, que, em março, tornou-se o primeiro país do mundo a vetar o cigarro em todos os ambientes de trabalho e também espaços públicos fechados, o que inclui restaurantes e bares. Doenças relacionadas ao fumo matam 7.000 irlandeses por ano. A Irlanda tem o maior índice de doenças cardíacas na Europa.
A Campanha por Jovens Livres do Fumo concordou com Wheeler, mas mostrou-se pessimista. Segundo seu presidente, Matthew Myers, "a liderança da Câmara está preparando mais um acordo escuso para proteger a indústria do cigarro e, ao mesmo tempo, evitar propositalmente qualquer ação que possa reduzir o índice de mortes provocadas pelo consumo do tabaco".


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