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Brasil vota na ONU contra investigação no Sri Lanka
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Em uma sessão de emergência que expôs profundas divisões entre seus membros, o
Conselho de Direitos Humanos
da ONU aprovou ontem uma
resolução sobre o conflito no
Sri Lanka que não faz menção
explícita aos abusos cometidos
e ignora apelos por uma investigação independente.
Sem consenso que pudesse
unir as duas propostas em discussão, o texto teve que ir a votação, rachando o conselho. A
resolução final foi aprovada
com o apoio de 29 países, incluindo o Brasil, contra 12 rejeições e seis abstenções.
A principal crítica de organizações humanitárias é que a resolução não inclui um reconhecimento explícito das graves
violações cometidas durante o
conflito e da responsabilidade
do governo cingalês em levar os
culpados à Justiça. Além disso,
alegam que a ausência de um
mecanismo de acompanhamento enfraquece a eficácia do
texto.
Entre 80 mil e 100 mil pessoas foram mortas durante as
três décadas de guerra civil no
Sri Lanka, que terminou há
pouco mais de uma semana,
com a morte do líder dos separatistas Tigres Tâmeis. Questionado pela Folha por que seu
país não aceita uma investigação independente, o embaixador do Sri Lanka na ONU, Dayan Jayatilleka, citou a história
e seus vencedores.
Reconciliação
"Acabamos de sair de três décadas de guerra. O momento é
de reconciliação", disse. "Por
que ninguém propôs uma investigação das forças aliadas
após a Segunda Guerra?"
Na abertura da sessão, a alta
comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, defendeu o acesso de "monitores independentes de direitos humanos" para verificar os abusos no
país. "Há fortes razões para
crer que ambos os lados ignoraram de forma grosseira o princípio fundamental de respeito
dos civis", disse Pillay.
Em sua intervenção, o Brasil
também lembrou que ações do
Exército do Sri Lanka "levantaram preocupações sobre sérias
violações de direitos humanos". Ainda assim, decidiu
apoiar a proposta do governo
cingalês, marcando uma divisão no grupo latino-americano.
México e Chile votaram contra,
e Argentina se absteve.
Segundo a embaixadora do
Brasil na ONU em Genebra,
Maria Nazareth Farani Azevêdo, o momento não é de criticar, mas de dar uma chance para que o governo do Sri Lanka
promova a reconciliação e as
investigações necessárias.
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