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"Guerra às drogas" no exterior não afeta a oferta dentro dos EUA
Conclusão é de estudioso Peter Reuter, que diz que efeitos adversos de políticas antidrogas são piores do que o tráfico
Economista afirma que o Plano Colômbia serviu para aumentar segurança no país, mas não reduziu fluxo de cocaína para os EUA
CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO
Nos últimos 25 anos de
"guerra às drogas", interna e
externa, o número de presos
nos EUA por envolvimento
com o tráfico aumentou dez vezes, para 500 mil pessoas. Mas
os preços da cocaína e da heroína diminuíram em até 80%, e a
oferta se manteve igual.
Mesmo com a queda dos preços, houve diminuição de 25%
dos usuários de cocaína e heroína de 1988 a 2000 (último
ano para o qual há dados disponíveis). O consumo de maconha se mantém estável, e o de
drogas sintéticas aumentou.
Os dados foram apresentados pelo economista Peter
Reuter, renomado estudioso
dos mercados de drogas, em depoimento ao Congresso americano, em maio. Sua conclusão:
é difícil, se não impossível,
comprovar relação entre a política focada na redução da oferta
e da produção e a evolução do
mercado americano.
A conclusão reforça a alcançada em 2004 por força-tarefa
bipartidária, de que os US$ 30
bilhões gastos nos 20 anos anteriores na "guerra às drogas"
no exterior não tiveram impacto no problema nos EUA.
Reuter sugeriu que a queda
no uso de cocaína e heroína pode estar ligada a fatores epidemiológicos -como o envelhecimento dos que as consumiam
nos anos 80. "Não há mais [nos
EUA] uma epidemia, como a de
crack nos anos 80, mas uma endemia. Se os preços não aumentaram, e a oferta não diminuiu, é difícil entender como
repressão e encarceramento
podem explicar isso", disse.
Professor do departamento
de criminologia da Universidade de Maryland, Reuter foi o
autor do documento alternativo apresentado pela União Europeia à assembleia da Comissão de Narcóticos da ONU, em
março. A resolução oficial renovou a controvertida meta de
acabar com o uso de drogas.
Em seminário na semana
passada no Rio, Reuter provocou: "Não podemos fazer as
drogas ilegais ficarem mais caras. Os efeitos adversos das políticas antidroga e do uso de
drogas são piores que o tráfico".
No caso americano, Reuter
prega a soltura de metade dos
que cumprem pena por envolvimento com narcóticos, pois o
custo de mantê-los presos seria
maior do que as vantagens.
América do Sul
Ao analisar o Plano Colômbia, o economista avaliou que
ele aumentou a segurança no
país e fortaleceu um "amigo",
mas não afetou o fluxo de cocaína para os EUA.
Disse que a erradicação de
cultivos "em um país leva invariavelmente à expansão em outro". No ano passado, houve
queda na área plantada na Colômbia e aumento na Bolívia,
segundo a ONU. Em 2007,
ocorrera o inverso.
É o "efeito balão", no jargão
da área. Nos anos 80, um programa de apreensão patrocinado pelos EUA no Caribe levou
os cartéis a se concentrarem no
México. Hoje, com a intensificação da repressão pelo governo mexicano, as gangues reforçam suas redes nos vizinhos
centro-americanos.
Mesmo os que defendem as
atuais políticas, como a comissão da ONU, dizem que nos últimos anos houve uma "estabilização" da produção na América Latina, e não redução.
Reuter disse aos congressistas que "não há caso documentado" de programa de substituição de cultivos que tenha
funcionado. Afirmou que a destruição da folha de coca não
afeta o preço da cocaína. "São
US$ 300 para comprar folha de
coca necessária para produzir
um quilo de cocaína, que rende
US$ 100 mil nos EUA. Se a coca
custar US$ 600, o impacto será
insignificante."
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