São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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"Guerra às drogas" no exterior não afeta a oferta dentro dos EUA

Conclusão é de estudioso Peter Reuter, que diz que efeitos adversos de políticas antidrogas são piores do que o tráfico

Economista afirma que o Plano Colômbia serviu para aumentar segurança no país, mas não reduziu fluxo de cocaína para os EUA


CLAUDIA ANTUNES
EM SÃO PAULO

Nos últimos 25 anos de "guerra às drogas", interna e externa, o número de presos nos EUA por envolvimento com o tráfico aumentou dez vezes, para 500 mil pessoas. Mas os preços da cocaína e da heroína diminuíram em até 80%, e a oferta se manteve igual.
Mesmo com a queda dos preços, houve diminuição de 25% dos usuários de cocaína e heroína de 1988 a 2000 (último ano para o qual há dados disponíveis). O consumo de maconha se mantém estável, e o de drogas sintéticas aumentou.
Os dados foram apresentados pelo economista Peter Reuter, renomado estudioso dos mercados de drogas, em depoimento ao Congresso americano, em maio. Sua conclusão: é difícil, se não impossível, comprovar relação entre a política focada na redução da oferta e da produção e a evolução do mercado americano.
A conclusão reforça a alcançada em 2004 por força-tarefa bipartidária, de que os US$ 30 bilhões gastos nos 20 anos anteriores na "guerra às drogas" no exterior não tiveram impacto no problema nos EUA.
Reuter sugeriu que a queda no uso de cocaína e heroína pode estar ligada a fatores epidemiológicos -como o envelhecimento dos que as consumiam nos anos 80. "Não há mais [nos EUA] uma epidemia, como a de crack nos anos 80, mas uma endemia. Se os preços não aumentaram, e a oferta não diminuiu, é difícil entender como repressão e encarceramento podem explicar isso", disse.
Professor do departamento de criminologia da Universidade de Maryland, Reuter foi o autor do documento alternativo apresentado pela União Europeia à assembleia da Comissão de Narcóticos da ONU, em março. A resolução oficial renovou a controvertida meta de acabar com o uso de drogas.
Em seminário na semana passada no Rio, Reuter provocou: "Não podemos fazer as drogas ilegais ficarem mais caras. Os efeitos adversos das políticas antidroga e do uso de drogas são piores que o tráfico".
No caso americano, Reuter prega a soltura de metade dos que cumprem pena por envolvimento com narcóticos, pois o custo de mantê-los presos seria maior do que as vantagens.

América do Sul
Ao analisar o Plano Colômbia, o economista avaliou que ele aumentou a segurança no país e fortaleceu um "amigo", mas não afetou o fluxo de cocaína para os EUA.
Disse que a erradicação de cultivos "em um país leva invariavelmente à expansão em outro". No ano passado, houve queda na área plantada na Colômbia e aumento na Bolívia, segundo a ONU. Em 2007, ocorrera o inverso.
É o "efeito balão", no jargão da área. Nos anos 80, um programa de apreensão patrocinado pelos EUA no Caribe levou os cartéis a se concentrarem no México. Hoje, com a intensificação da repressão pelo governo mexicano, as gangues reforçam suas redes nos vizinhos centro-americanos.
Mesmo os que defendem as atuais políticas, como a comissão da ONU, dizem que nos últimos anos houve uma "estabilização" da produção na América Latina, e não redução.
Reuter disse aos congressistas que "não há caso documentado" de programa de substituição de cultivos que tenha funcionado. Afirmou que a destruição da folha de coca não afeta o preço da cocaína. "São US$ 300 para comprar folha de coca necessária para produzir um quilo de cocaína, que rende US$ 100 mil nos EUA. Se a coca custar US$ 600, o impacto será insignificante."


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