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Exército desconfia de americanos na Amazônia
DA ENVIADA A CAXAMBU
A hipótese de que a soberania
da Amazônia esteja em risco,
principalmente pela cobiça dos
"grandes do mundo" (ou as potências mais ricas), está incorporada à doutrina do Exército
brasileiro e o faz desconfiar
tanto da movimentação americana na vizinha Colômbia
quanto de atividades dos indígenas da região.
Essa é uma das conclusões
que podem ser tiradas da reunião do Grupo de Trabalho sobre Forças Armadas, Estado e
Sociedade, no primeiro dia do
encontro anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais), em Caxambu (MG).
Ao comentar o trabalho de
José Pimenta, da UnB, sobre as
relações dos indígenas ashaninka com as autoridades e militares no Acre, o especialista
Celso Castro, da FGV do Rio,
disse que o simbolismo da
Amazônia substituiu, para o
Exército, a estratégia de segurança nacional da Guerra Fria.
Ele contou que várias vezes,
em conversas com oficiais baseados nos Estados do Norte,
ouviu menção ao fato de que as
forças militares americanas "já
estão na Amazônia", uma referência ao Plano Colômbia de
combate ao narcotráfico e à
guerrilha, iniciado em 2002 e
que passa agora a uma nova fase, com o acordo a ser firmado
para o uso, pelos EUA, de bases
colombianas.
A "estratégia de resistência"
montada pelos militares para o
caso de ameaça à região, exemplificou Castro, cita líderes militares antípodas na época do
anticomunismo, como o vietnamita Ho Chi Min, mentor da
derrota dos colonialistas franceses, nos anos 50.
No mesmo grupo, Thiago
Moreira de Souza Rodrigues,
da UFF (Universidade Federal
Fluminense), apresentou pesquisa em curso sobre o paradoxo que a chamada "guerra às
drogas" representa para os militares brasileiros.
Na Constituição, o tráfico
aparece como problema de segurança pública e a atribuição
de combatê-lo é da Polícia Federal. Mas a face transnacional
da atividade criminosa significa que, nas atividades de patrulhamento das fronteiras, os militares frequentemente são
confrontados com ela.
Até agora, disse Rodrigues, as
Forças Armadas têm se oposto
ao envolvimento nesse combate -ao contrário do que aconteceu nos países vizinhos.
Já o trabalho de Pimenta
mostrou que, ao contrário da
retórica militar predominante
de que os indígenas seriam uma
ameaça à soberania das fronteiras amazônicas, o caso dos ashaninka mostra que eles, frequentemente, atuam como
guardiães da área. A etnia teve
papel fundamental em chamar
a atenção para a invasão do território do Acre por madeireiros
peruanos.
(CLAUDIA ANTUNES)
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