São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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POLÍTICA EXTERNA
Pré-candidato republicano apresenta sua visão do mundo
Para Bush, China e Rússia são competidores dos EUA

MARCIO AITH
de Washington

George W. Bush, governador republicano do Texas e pré-candidato favorito à Presidência norte-americana, segundo as pesquisas de intenção de voto, defendeu a reformulação da política externa de seu país ao propor que China e Rússia passem a ser tratados como "competidores" e prometer que irá financiar a instalação de defesas antimísseis nos países aliados dos EUA na Ásia.
Num discurso realizado na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, na Califórnia, Bush falou pela primeira vez sobre relações internacionais e deu o nome de "internacionalismo norte-americano" a sua concepção de política externa, um conjunto de propostas que, segundo analistas, está cheio de contradições mas é bem escrito.
Segundo o discurso lido por Bush, essa concepção se resume a um combate feroz a tendências de isolamento e de protecionismo que existem dentro dos EUA.
Essas tendências seriam resultado da idéia de que o país transformou-se na única grande potência no mundo. "Devemos combater o isolamento para evitar que o vácuo deixado por uma eventual retirada norte-americana do mundo estimule desafios ao nosso poder", leu Bush.
O candidato defendeu ainda brevemente em seu discurso o livre comércio nas Américas e colocou condições para que os EUA paguem sua dívida financeira com a ONU (Organizações das Nações Unidas).

Vexame
O discurso foi preparado durante quase dois meses por assessores do candidato republicano. E lido por ele duas semanas depois de ter sofrido um vexame, quando, "emboscado" durante uma entrevista a uma rede de televisão, não soube dizer o nome de líderes de dois países e de um território (Índia, Paquistão e Tchetchênia) que estiveram no centro das atenções mundiais nos últimos meses.
O vexame na TV havia reforçado as dúvidas sobre a capacidade de Bush de liderar os EUA no cenário internacional e o transformou em personagem de piadas em programas de TV e rádio.
Filho do ex-presidente George Bush (1989-1992), que também foi embaixador dos EUA em Pequim, o governador do Texas apostou no discurso para mudar essa imagem de leigo.
Segundo vários analistas, Bush conseguiu bons resultados, ao menos com as pessoas que acreditaram que ele teve alguma participação em sua redação.
O termo "internacionalismo" foi visto como uma boa opção de resposta às acusações do presidente Bill Clinton de que o Partido Republicano tem ameaçado jogar os EUA num período de isolamento do mundo.
Essas acusações vieram após a liderança republicana no Senado norte-americano ter rejeitado, em outubro passado, proposta de ratificação do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares.
A rejeição do tratado, principal pilar da política externa de Clinton para a não-proliferação nuclear, havia provocado protestos de governos pelo mundo.
Bush disse ser contrário ao isolamento dos EUA e, como Clinton, disse que Washington tem a obrigação de pacificar o mundo.
Mas manteve-se fiel ao seu partido ao concordar com a rejeição do tratado, numa primeira contradição em seu discurso.
Segundo Bush, o tratado "não impede a proliferação, principalmente em se tratando de regimes renegados. Não é verificável nem factível".

China e intervenção militar
O presidente Clinton reagiu ao trecho do discurso de Bush em que ele diz ser um problema caracterizar países como competidores "se isso significa dizer que nós sabemos com certeza que, nos próximos 20 anos, haverá uma relação de adversário com esses países". Clinton disse que é possível ter uma relação de parceria e de competição ao mesmo tempo.
Desde que assumiu, Clinton aproximou-se da China comercial e politicamente, qualificando a relação entre os dois países de "parceria estratégica". Essa política causou tensões com o Japão, rival da China e aliado de décadas dos EUA.
Bush disse que a China não é parceira estratégica dos EUA, mas competidora, e afirmou que, se eleito, não cometerá o "erro" de Clinton de viajar para a China sem passar pelo Japão, referindo-se à visita presidencial de Clinton a Pequim no ano passado.


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