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PALESTRA
Neta de líder soviético falou na Folha
Khruschova
vê crise russa
de identidade
RODRIGO UCHÔA
especial para a Folha
Como o Godzilla
visto há pouco nos
cinemas, a Rússia
se move no cenário
político mundial:
muito forte, com
boas intenções no fundo, mas
grande demais, sem lugar e fora
de seu tempo, o que acaba incomodando a todos.
A definição é da historiadora
Nina Khruschova, 35, diretora de
projetos especiais do Instituto
Eastwest, de Nova York. A instituição faz pesquisas na área de
política internacional. Nina, que é
neta de Nikita Khruschov, líder
soviético entre 1953 e 64, deu uma
palestra na Folha na quinta e respondeu a perguntas do público.
A "síndrome de Godzilla", relatada com bom humor por ela, se
refletiria na percepção que os russos têm de si mesmos hoje. Uma
crise de identidade vista na própria história, "onde a Rússia não
sabe se é Ocidente ou Oriente,
Ásia ou Europa, se quer integração ou isolamento do mundo".
A ação na Tchetchênia, território rebelde que vem sendo atacado pelos russos desde setembro,
foi tema de várias perguntas do
público presente ao evento.
Uma eventual intervenção de
forças estrangeiras nos moldes
das que impõem a paz em Kosovo
foi totalmente descartada pela palestrante. "A opinião pública russa ficaria horrorizada."
Com a atenuação do conflito
Leste-Oeste, os russos ficaram
sem saber se são ou não potência,
e "os EUA parecem continuar a
Guerra Fria, apesar de a terem ganhado".
Falando do fim da União Soviética, um monolito que se dissolveu só em 1991, tão perto na linha
do tempo, a historiadora se lembra de uma citação: "A Rússia tem
um "passado imprevisível". O que,
então, se dirá da previsibilidade
do futuro desse país?"
Ela apontou como o principal
problema da Rússia a instalação
de um "Estado gângster". "As
eleições parlamentares que se
aproximam (dezembro) trazem
alguma esperança, pois serão as
primeiras num verdadeiro processo democrático", afirmou.
Apesar disso, não há um plano
nacional para o país agora e, para
ela, nem o fascismo nem a ultradireita constituem uma opção.
O Partido Comunista russo
atual teria, então, apenas uma
participação popular como oposição a "uma liberalização cruel".
Khruschov e comunismo
Com bom humor, Nina Khruschova comparou seu avô Nikita a
Mikhail Gorbatchov, líder da
União Soviética de 1986 a 1991.
"Ambos foram reformistas, ambos eram calvos."
"Meu avô conseguiu, sobretudo, falar abertamente do que era a
Rússia (ele denunciou os crimes
de seu antecessor, Stálin). Falar
do poder de modo que ele parecesse menos aterrorizante."
Questionada sobre o fim do
projeto marxista e do experimento comunista da Rússia, ela disse
que eram temas utópicos, filosóficos. "A prática mostrou que a teoria filosófica comunista não funciona na Terra."
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