São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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PALESTRA
Neta de líder soviético falou na Folha
Khruschova vê crise russa de identidade

RODRIGO UCHÔA
especial para a Folha


Como o Godzilla visto há pouco nos cinemas, a Rússia se move no cenário político mundial: muito forte, com boas intenções no fundo, mas grande demais, sem lugar e fora de seu tempo, o que acaba incomodando a todos.
A definição é da historiadora Nina Khruschova, 35, diretora de projetos especiais do Instituto Eastwest, de Nova York. A instituição faz pesquisas na área de política internacional. Nina, que é neta de Nikita Khruschov, líder soviético entre 1953 e 64, deu uma palestra na Folha na quinta e respondeu a perguntas do público.
A "síndrome de Godzilla", relatada com bom humor por ela, se refletiria na percepção que os russos têm de si mesmos hoje. Uma crise de identidade vista na própria história, "onde a Rússia não sabe se é Ocidente ou Oriente, Ásia ou Europa, se quer integração ou isolamento do mundo".
A ação na Tchetchênia, território rebelde que vem sendo atacado pelos russos desde setembro, foi tema de várias perguntas do público presente ao evento.
Uma eventual intervenção de forças estrangeiras nos moldes das que impõem a paz em Kosovo foi totalmente descartada pela palestrante. "A opinião pública russa ficaria horrorizada."
Com a atenuação do conflito Leste-Oeste, os russos ficaram sem saber se são ou não potência, e "os EUA parecem continuar a Guerra Fria, apesar de a terem ganhado".
Falando do fim da União Soviética, um monolito que se dissolveu só em 1991, tão perto na linha do tempo, a historiadora se lembra de uma citação: "A Rússia tem um "passado imprevisível". O que, então, se dirá da previsibilidade do futuro desse país?"
Ela apontou como o principal problema da Rússia a instalação de um "Estado gângster". "As eleições parlamentares que se aproximam (dezembro) trazem alguma esperança, pois serão as primeiras num verdadeiro processo democrático", afirmou.
Apesar disso, não há um plano nacional para o país agora e, para ela, nem o fascismo nem a ultradireita constituem uma opção.
O Partido Comunista russo atual teria, então, apenas uma participação popular como oposição a "uma liberalização cruel".

Khruschov e comunismo
Com bom humor, Nina Khruschova comparou seu avô Nikita a Mikhail Gorbatchov, líder da União Soviética de 1986 a 1991. "Ambos foram reformistas, ambos eram calvos."
"Meu avô conseguiu, sobretudo, falar abertamente do que era a Rússia (ele denunciou os crimes de seu antecessor, Stálin). Falar do poder de modo que ele parecesse menos aterrorizante."
Questionada sobre o fim do projeto marxista e do experimento comunista da Rússia, ela disse que eram temas utópicos, filosóficos. "A prática mostrou que a teoria filosófica comunista não funciona na Terra."


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