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ANÁLISE
Viagem busca calar críticos e conquistar eleitores, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
George W. Bush tinha em mente a opinião pública dos EUA -a
eleição presidencial é em 2004- e
as críticas que vem recebendo por
não participar de homenagens a
militares mortos no Iraque ao desembarcar ontem em Bagdá.
A análise é de Ole Holsti, professor na Universidade Duke (EUA)
e autor de, entre outros, "Public
Opinion and American Foreign
Policy" (opinião pública e política
externa americana). Leia sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Qual foi o objetivo da visita de Bush ao Iraque?
Ole Holsti - A razão básica é que
estamos a um ano da eleição presidencial de 2004, e uma visita às
tropas é uma excepcional oportunidade para sair em todos os jornais do país ao lado dos militares.
Mais especificamente, porém,
Bush tem sido criticado tanto pelos democratas quanto por alguns
de seus colegas republicanos porque não tem ido às homenagens
feitas aos soldados mortos no Iraque. A base aérea de Dover, em
Delaware, à qual chegam os corpos, está fechada à imprensa, o
que não deveria ocorrer. Há, portanto, uma tentativa de impedir
que a mídia mostre as baixas militares, e isso é malvisto por uma
parte considerável da população.
Embora os casos não pareçam
ser relacionados, é claro que a visita do presidente ao Iraque no
Dia de Ação de Graças, que é um
dos feriados mais importantes para os americanos, tem ligação
com as críticas que ele vem recebendo internamente. Os grandes
jornais dos EUA publicarão sua
foto amanhã [hoje], o que, logicamente, é bom para sua imagem.
Folha - Que impacto a visita terá
sobre a opinião pública americana?
Holsti - Uma vez dissipada a surpresa, não creio que a visita venha
a ter um grande impacto. Afinal,
não se trata de algo novo em situações de conflito. Embora fizesse tempo que isso não ocorria,
inúmeros líderes americanos já
visitaram os militares no terreno.
Ademais, se fosse questionada
sobre a pertinência de uma visita
de Bush ao Iraque, a população
certamente a veria com bons
olhos. Assim, a surpresa não torna a visita tão mais impactante.
Questões como os planos de
saúde para os idosos, que tiveram
uma reforma de sua lei aprovada
há alguns dias, e a reforma do sistema de abastecimento de energia, cuja legislação não foi aprovada nesta semana, são mais importantes para os americanos hoje
que uma visita de Bush ao Iraque.
Folha - E quanto às tropas?
Holsti - A visita terá um impacto
bastante forte sobre os militares.
Como ela foi feita no Dia de Ação
de Graças, os soldados pensarão
que há pessoas muito importantes em Washington que, verdadeiramente, se preocupam com
eles. Trata-se de algo muito simbólico, que deverá servir para dar
mais ânimo às tropas.
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