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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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ANÁLISE

Viagem busca calar críticos e conquistar eleitores, diz analista

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

George W. Bush tinha em mente a opinião pública dos EUA -a eleição presidencial é em 2004- e as críticas que vem recebendo por não participar de homenagens a militares mortos no Iraque ao desembarcar ontem em Bagdá.
A análise é de Ole Holsti, professor na Universidade Duke (EUA) e autor de, entre outros, "Public Opinion and American Foreign Policy" (opinião pública e política externa americana). Leia sua entrevista, por telefone, à Folha.
 

Folha - Qual foi o objetivo da visita de Bush ao Iraque?
Ole Holsti -
A razão básica é que estamos a um ano da eleição presidencial de 2004, e uma visita às tropas é uma excepcional oportunidade para sair em todos os jornais do país ao lado dos militares.
Mais especificamente, porém, Bush tem sido criticado tanto pelos democratas quanto por alguns de seus colegas republicanos porque não tem ido às homenagens feitas aos soldados mortos no Iraque. A base aérea de Dover, em Delaware, à qual chegam os corpos, está fechada à imprensa, o que não deveria ocorrer. Há, portanto, uma tentativa de impedir que a mídia mostre as baixas militares, e isso é malvisto por uma parte considerável da população.
Embora os casos não pareçam ser relacionados, é claro que a visita do presidente ao Iraque no Dia de Ação de Graças, que é um dos feriados mais importantes para os americanos, tem ligação com as críticas que ele vem recebendo internamente. Os grandes jornais dos EUA publicarão sua foto amanhã [hoje], o que, logicamente, é bom para sua imagem.

Folha - Que impacto a visita terá sobre a opinião pública americana?
Holsti -
Uma vez dissipada a surpresa, não creio que a visita venha a ter um grande impacto. Afinal, não se trata de algo novo em situações de conflito. Embora fizesse tempo que isso não ocorria, inúmeros líderes americanos já visitaram os militares no terreno.
Ademais, se fosse questionada sobre a pertinência de uma visita de Bush ao Iraque, a população certamente a veria com bons olhos. Assim, a surpresa não torna a visita tão mais impactante.
Questões como os planos de saúde para os idosos, que tiveram uma reforma de sua lei aprovada há alguns dias, e a reforma do sistema de abastecimento de energia, cuja legislação não foi aprovada nesta semana, são mais importantes para os americanos hoje que uma visita de Bush ao Iraque.

Folha - E quanto às tropas?
Holsti -
A visita terá um impacto bastante forte sobre os militares. Como ela foi feita no Dia de Ação de Graças, os soldados pensarão que há pessoas muito importantes em Washington que, verdadeiramente, se preocupam com eles. Trata-se de algo muito simbólico, que deverá servir para dar mais ânimo às tropas.


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