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VENEZUELA
Analista político vê intimidação do presidente contra coleta de assinaturas e diz que oposicionistas estão divididos
Oposição inicia hoje campanha anti-Chávez
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Depois de uma fracassada tentativa de golpe e de paralisar a Venezuela com uma greve geral, a
oposição a Hugo Chávez aposta a
partir de hoje todas as suas fichas
na campanha de coleta de assinaturas em favor de um referendo
para decidir se o polêmico presidente deixa ou não o poder.
Os oposicionistas terão até a
próxima segunda-feira para reunir ao menos 2,4 milhões de assinaturas (20%) e, em seguida, entregar ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que analisará a validade ou não do pedido.
As pesquisas de opinião apontam que a oposição deve conseguir o número necessário -estimativa contestada por Chávez.
"Temos 96 horas para começar
o processo para tirar esse governo", disse ontem o governador de
Miranda, Enrique Mendoza, um
dos principais líderes da oposição
ao governo.
Procurados pela Folha, representantes do governo Chávez não
atenderam a pedidos de entrevista feitos nos últimos três dias.
As assinaturas serão recolhidas
em 2.680 pontos. O forte esquema
de segurança terá 60 mil homens
do Exército e 12 mil policiais.
Em entrevista à Folha, o cientista político norte-americano David Myers, da Universidade Estadual da Pensilvânia, disse acreditar que a oposição tenha chances
de convocar o referendo, mas enfrentará muitas dificuldades para
tirar Chávez do poder.
"Se houver longas filas amanhã
em Caracas para o convocatório
contra o presidente, será uma bola de neve. Se poucas pessoas aparecerem, significará que as pessoas estão com medo de comparecer ou que não querem o referendo. Chávez declarou que a pessoa que assinar a petição terá seu
nome na história. Isso tem um
teor intimidativo", disse Myers,
que voltou ontem de Caracas, onde mantém um instituto de pesquisas de opinião.
O cientista político também vê o
risco de que chavistas realizem
manifestações de intimidação durante a coleta de assinaturas.
Myers disse que o segundo passo será a validação das assinaturas
pelo CNE, o que também é imprevisível. "O fator-chave será quantas assinaturas da petição oposicionista serão consideradas válidas. Muito disso depende da política interna do CNE."
Se houver o referendo -que seria realizado no final de março ou
início de abril- e Chávez for
afastado, o CNE também terá de
decidir se ele tem direito a concorrer à Presidência. Pela Constituição, as eleições teriam de ocorrer até 30 dias após o resultado do
referendo. "Será difícil negar a
candidatura a Chávez", acredita
Myers.
Oposição dividida
Em caso de novas eleições presidenciais, a oposição terá pela
frente o difícil desafio de escolher
um candidato único.
"Há uma grande chance de
Chávez ser reeleito, porque a oposição é dividida. Eu penso que, se
Chávez enfrentar uma eleição, e
houver um candidato único da
oposição, este provavelmente
vencerá", disse Myers. O cientista
político, no entanto, não vê nenhuma indicação disso. "[Na
oposição], há um grupo de centro-direita e outro de centro-esquerda, e eles não se gostam."
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