São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Muçulmanos formam minoria de 154 milhões

DA REDAÇÃO

Rivais históricos da majoritária parcela da população, de religião hindu, e maior minoria do país, os muçulmanos representam apenas 13,4% dos indianos. Mas isso significa mais de 154 milhões de pessoas, ou 83,7% da população brasileira em 2007.
A fratura entre os grupos, refletida, por exemplo, na reivindicação de um dos supostos envolvidos na ação que deixou ao menos 125 mortos em Mumbai nos últimos dois dias -que cobrou "o fim da injustiça contra os muçulmanos na Índia"- teve mais de um episódio na cidade mais populosa do país ao longo da história.
Antes mesmo de povos ocidentais dominarem a região, cedida em 1534 aos portugueses que a batizaram de "Bom Baía" -nome depois transformado em Bombay pelos ingleses-, hindus e muçulmanos combateram.
No século 14, islâmicos conquistaram as sete ilhas em que a cidade hoje se espalha, encerrando o domínio de dinastias hindus estabelecidas lá desde o século 6º a.C.
Além da disputa por território, o sistema de castas hindu teve seu papel em jogar um grupo contra o outro.
Conversões de intocáveis (a casta mais baixa, cuja função basicamente era limpar dejetos de integrantes de castas mais altas, normalmente de origem ariana e pele mais clara) ao islamismo revoltavam hindus, em choques que apelavam até para a cor da pele. Em sânscrito clássico, "varna", termo usualmente empregado como sinônimo de casta, significa, literalmente, "cor".
Sob jugo britânico, as tensões entre os grupos ficaram congeladas. Em 1885, quando foi fundado, em Bombaim, o Congresso Nacional Indiano -embrião do Partido do Congresso, até hoje hegemônico na política do país- o grupo tinha em suas filas membros muçulmanos, entre eles, Muhammad Ali Jinnah, o "pai" do Paquistão.
Nos anos 40, fase final do período colonial, quando o movimento "Quit India", lançado em Bombaim pelo mahatma Gandhi pelo fim do domínio britânico caminhava inexoravelmente para a vitória, hindus e muçulmanos discordavam sobre a organização do novo Estado.
Embora Gandhi defendesse um país unificado e aceitasse até ceder o governo a Jinah e outros integrantes de sua Liga Muçulmana, o Partido do Congresso bateu o pé.
A solução então foi a partilha da Índia entre um Estado hindu e outro muçulmano (o Paquistão, que à época englobava também o atual território de Bangladesh), motivando migrações forçadas de pessoas que acabaram minoritárias em seus novos países, num movimento que agravou o sectarismo.
Isso foi refletido até na mudança do nome da cidade, em 1996, de Bombaim para Mumbai -termo em marathi, idioma dos hindus nativos da região.
A alteração veio como corolário à eleição de um partido nacionalista hindu de direita, o Shiv Sena, que assumiu o controle da cidade em eleição em 1985 e promoveu políticas discriminatórias contra os muçulmanos.
Em 1993, depois da destruição de uma mesquita na cidade de Ayodhia (no Estado de Uttar Pradesh, ao norte do país), a retaliação foi a explosão de uma dúzia de bombas em Mumbai, atentados que deixaram mais de 300 mortos e danificaram o prédio da Bolsa de Valores.


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