São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Rússia e Venezuela assinam acordo nuclear

Cooperação visa gerar energia, dizem Chávez e Medvedev; compra de novas armas não foi acordada

Fernando Llano/Associated Press
Medvedev (esq.) e Chávez a bordo de navio russo na Venezuela

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Na primeira visita de um chefe de Estado russo à Venezuela, os presidentes Dmitri Medvedev e Hugo Chávez assinaram um acordo de cooperação nuclear "para fins pacíficos" e inspecionaram um dos quatro navios de guerra enviados por Moscou para exercícios militares binacionais.
O convênio nuclear, que já havia sido anunciado em setembro, prevê a construção de um reator voltado à produção de energia elétrica na Venezuela. Atualmente, apenas o Brasil e a Argentina dominam essa tecnologia na América do Sul.
O acordo fala em "promover o desenvolvimento da cooperação em matéria de energia nuclear, suscitando a adoção de projetos bilaterais de distintas aplicações da energia nuclear, em particular aquelas que satisfaçam as necessidades energéticas internas e contribuam para a diversificação das fontes de energia".
Para Andrés Matas Axpe, especialista em energia, o acordo está sendo tratado de forma mais política do que técnica: "A energia nuclear não aparece em nenhum planejamento do governo como alternativa para aumentar a produção do setor elétrico", disse à Folha.
Na avaliação de Matas Axpe, ao privilegiar a energia nuclear, Chávez deixa em segundo plano fontes de energia mais acessíveis à Venezuela, como o gás natural e o carvão.
Os outros seis acordos, assinados anteontem à noite no Palácio Miraflores, incluem transferência tecnológica na área energética, um estudo para que a russa Gazprom explore petróleo na faixa do Orinoco e convênios na área naval e de serviços aéreos, entre outros. Os dois governos também decidiram suspender a exigência de visto para viagens entre os dois países e acordaram a criação de um banco binacional.
Outro acordo celebrado foi a compra de dois aviões comerciais russos Ilyushin Il-96 para a empresa estatal de aviação venezuelana. Não foi assinada nenhuma nova compra de material bélico russo.
No final dessa primeira cerimônia, Medvedev participou de um jantar com presidentes de países presentes na cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da América), entre os quais o mandatário boliviano, Evo Morales.

Cuba
Depois de inspecionar um dos navios militares russos ancorados perto de Caracas, ontem de manhã, Medvedev embarcou rumo a Cuba, aonde chegou no meio da tarde. Ali, estava previsto um encontro com o ex-ditador Fidel Castro.
Os exercícios militares entre os dois países, com início na segunda-feira, têm provocado reações principalmente da Colômbia, com quem a Venezuela mantém uma disputa marítima. Recentemente, o presidente Álvaro Uribe obteve do governo russo a garantia de que sua frota não navegará pela área em litígio.
A realização das manobras conjuntas num país que faz fronteira marítima com os EUA foi acertada durante o conflito na Geórgia e tem sido vista como uma resposta da Rússia às críticas americanas contra a atuação de Moscou.
Medvedev, no entanto, disse anteontem que a cooperação militar "não está dirigida contra um terceiro país".
Principal aliado de Moscou na América Latina, Chávez também é o maior comprador de armas russas. As vendas devem chegar US$ 10 bilhões nos próximos anos, o que inclui 24 caças Sukhoy -uma parte já foi entregue- e a possível aquisição de submarinos.


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