São Paulo, terça-feira, 28 de dezembro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Clérigo não foi atingido; após ataque, principal representação sunita descarta participação em pleito

Carro-bomba contra líder xiita mata 15

DE NOVA YORK

A pouco mais de um mês das eleições parlamentares fixadas pelos EUA no Iraque, um atentado com carro-bomba visou o líder do maior partido xiita do país, e a principal representação da minoria sunita anunciou que não participará do pleito.
O atentado de ontem atingiu o portão da casa do líder do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque (CSRII), em Bagdá, matou 15 pessoas e deixou ao menos 50 feridos, segundo porta-vozes do partido.
O clérigo Abdul Aziz al Hakim, que lidera a lista de candidatos da coalizão encabeçada pelo CSRII, estava em casa na hora do ataque, mas nada sofreu.
Os líderes da maioria xiita, que apóiam as eleições de 30 de janeiro diante da grande possibilidade de vencerem, têm sido alvo constante de atentados.
Reprimidos durante os 30 anos do regime deposto, os xiitas perfazem 60% da população do país e devem passar a dominar a cena política antes comandada pelos sunitas.
O filho de Al Hakim, Amar, acusou simpatizantes do ex-ditador Saddam Hussein de planejarem o atentado e disse que muitas das vítimas eram civis que passavam pela rua no momento da explosão. "Eles são os restos de um regime morto e já executaram ataques parecidos", disse.
Em agosto do ano passado, o irmão de Al Hakim e então líder do CSRII, aiatolá Mohammed Baqir al Hakim, foi morto em um atentado semelhante. Opositores do regime deposto, ambos retornaram de duas décadas de exílio no Irã após a derrubada de Saddam pelos EUA, em abril de 2003.
Apesar da presença maciça de soldados americanos no Iraque em detrimento do final oficial da ocupação, a violência no país não dá sinais de arrefecimento.
Anteontem, um vídeo na internet reivindicava para o grupo Exército de Ansar al Sunnah um ataque contra uma base americana em Mossul que matou 22 pessoas na semana passada.
Analistas vêem no problema o principal obstáculo para a eleição no país, onde o cenário político já é conturbado. O primeiro pleito livre em 45 anos é o ápice da estratégia americana para o Iraque, que em 19 meses pouco avançou além da derrubada de Saddam.
Mas o dia foi marcado por um segundo revés, quando a principal representação sunita anunciou sua retirada da eleição. "A situação de segurança está piorando e precisa ser tratada", disse Mohsen Abdel Hamid, líder do Partido Islâmico do Iraque (PII).
O movimento pode solapar ainda mais a credibilidade da votação patrocinada pelos EUA ante a minoria sunita, que pede o equilíbrio de poder entre as diferentes facções políticas e religiosas. Em novembro, grupos sunitas -incluindo o PII- pediram o adiamento do pleito em seis meses, mas receberam um "não" da Comissão Eleitoral.
"Não estamos pedindo um boicote, mas dissemos antes que só participaríamos se determinadas condições fossem cumpridas, e elas não foram", disse Hamid.


Com agências internacionais

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