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A REVOLUÇÃO AOS 50 / UMA VOZ À ESQUERDA
"Regime tem hoje mais condição de resistir"
Para o cientista político Heinz Dieterich, lenta abertura econômica e manutenção do monopólio de poder do PC revigoram comunismo
Gradualidade das mudanças garantirá sua eficiência e a modernização, diz alemão; para ele, a situação é melhor hoje do que era nos anos 90
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Ex-assessor do presidente
venezuelano, Hugo Chávez, o
cientista político alemão Heinz
Dieterich vê o regime comunista cubano em melhores condições hoje para permanecer do
que nos anos 90. Em entrevista
à Folha, o professor da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), na Cidade do México, também elogia os primeiros meses de Raúl Castro no poder:
FOLHA - Como a revolução cubana
chega aos 50 anos?
HEINZ DIETERICH - Ao menos chega aos 50 anos. Esse já é o primeiro mérito da revolução, sobreviver a esse entorno hostil.
Em segundo lugar, a situação é
muito mais favorável do que os
anos 90, no chamado período
especial após a queda do bloco
socialista europeu. E também
se rompeu o cerco que George
W. Bush implantou.
FOLHA - Como foram os primeiros
meses de Raúl Castro no governo?
DIETERICH - Com acertos. Houve
uma modificação considerável
tanto do modelo econômico
quanto de política futura. No
econômico, é muito óbvio, há
um modelo comparável à política de Lênin ou com os primeiros passos de Deng Xiaoping,
na China. Ou seja, uma abertura de mercado. Isso é uma mudança qualitativa com alterações significativas, como o arrendamento da terra. Na cultura política, vejo uma tentativa
de reativar a democracia mantendo o controle do Partido Comunista, reativando a participação e ativando a economia
rumo à economia de mercado.
FOLHA - Mas é uma abertura sem
incluir liberdades civis.
DIETERICH - Isso é uma característica desse modelo de modernização. Assim foi na Alemanha, no Japão, na Coréia do Sul.
É um partido e um Estado que
controlam o poder, não há muita democracia formal. A leitura
que faz Cuba da União Soviética é a de que se tentou mudar
demasiadas coisas de uma vez e
se perdeu o controle. Nesse
sentido, eles seguem o modelo
chinês, de modernizar uma variável principal, a economia, e
não todas ao mesmo tempo.
Cuba liberou alguns direitos
civis. Raúl disse que é absurdo
que os cubanos não pudessem
se hospedar em hotéis do país
nem ir ao exterior. Ele liberou a
compra de eletrônicos. Há
abertura em certas liberdades
formais, mas controlada. O que
eles não cederão antes de mudar o bloqueio americano é o
monopólio de poder do partido.
O partido único é indiscutível.
FOLHA - O que muda com Obama?
DIETERICH - Os imperativos de
Obama são os mesmos que
Bush tentou implementar. Mas
Obama deve usar o poder dos
EUA de uma forma muito mais
inteligente na América Latina.
FOLHA - Há uma disputa entre Lula
e Chávez por influência em Cuba?
DIETERICH - Há diferentes intensidades na relação com os
Estados de acordo com o que
podem oferecer. Mas o governo
cubano tem uma enorme maturidade política para não fomentar essas coisas. Lula, Chávez e Raúl sabem que tensão
não beneficia a nenhum deles.
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