São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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A REVOLUÇÃO AOS 50 / UMA VOZ À DIREITA

"Mudanças são cosméticas e patéticas"

Para Roger Noriega, subsecretário de Estado de Bush para a região, Cuba vive uma "tragédia", e Raúl não merece concessões

Diplomata defende diálogo apenas com "governo de transição" e vê sucessor de Fidel como mais do mesmo em uma "ditadura brutal"


DE CARACAS

Subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina sob George W. Bush entre 2003 e 2005, Roger Noriega diz que a Revolução Cubana tem sido uma "tragédia" para a sua população e classificou de "cosméticas e patéticas" as mudanças introduzidas por Raúl Castro. Sua entrevista à Folha: (FM)

 

FOLHA - Como a Revolução Cubana chega aos seus 50 anos?
ROGER NORIEGA
- É um evento histórico que dura 50 anos contra todas as adversidades. Mas é uma tragédia para o povo cubano. Quando Fidel Castro tomou o poder, ele estava na vanguarda dos movimentos de libertação latinos confrontando ditaduras e regimes não-representativos. Mas hoje o restante da América Latina tem, em grande medida, ampliado a democracia, e as pessoas não tiveram de sacrificar a sua liberdade para ter essa realidade. Cuba, que foi um dos melhores países em termos de alfabetização e riqueza, caiu para níveis de Haiti e Bolívia em termos de bem-estar material.

FOLHA - Como o sr. vê as mudanças implantadas por Raúl?
NORIEGA
- Cosméticas e patéticas. Os cubanos ainda estão presos num sistema em que a vasta maioria não pode ter acesso a todas essas facilidades e eles ainda não são livres. Esses falsos brilhantes não significam muito para quem vive sob um Estado policial.

FOLHA - Quando o sr. estava no Departamento de Estado, o governo Bush endureceu o bloqueio a Cuba. Qual foi o resultado dessa política?
NORIEGA
- Acho que sempre temos de revisar onde estamos em termos de política. Geralmente, acredito que temos de reservar qualquer tipo de concessão a um governo de transição. Certamente, Raúl não representa transição, ele é mais do mesmo. Mas pode haver, no futuro, cubanos que realmente queiram ajudar o país a sair do pesadelo em que está hoje. Creio que devamos estender as relações econômicas e políticas a um governo de transição a fim de fortalecer reformas e assegurar mudanças profundas, amplas e irreversíveis. Sou contrário -e a história tem confirmado- a fazer concessões incondicionais a ditaduras brutais. Não produz resultados verdadeiros.

FOLHA - Por que os EUA hoje estão isolados na região quanto a Cuba?
NORIEGA
- Desde os anos 70, os países latino-americanos começaram a normalizar as suas relações com Cuba. Não acho que agora seja particularmente diferente. Certamente, há líderes como Evo Morales, Daniel Ortega e Hugo Chávez que copiam e admiram Castro. Mas isso não pode ser dito da vasta maioria de líderes eleitos tanto da direita quanto da esquerda. Não creio que Lula tenha muito o que aprender sobre governar com Fidel ou Raúl Castro.

FOLHA - O que muda com a chegada de Barack Obama?
NORIEGA
- Acho que ele preservará a política em linhas gerais e que não fará mudanças drásticas até que haja mudanças significativas em Cuba.


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