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A REVOLUÇÃO AOS 50 / UMA VOZ À DIREITA
"Mudanças são cosméticas e patéticas"
Para Roger Noriega, subsecretário de Estado de Bush para a região, Cuba vive uma "tragédia", e Raúl não merece concessões
Diplomata defende diálogo apenas com "governo de transição" e vê sucessor de Fidel como mais do mesmo em uma "ditadura brutal"
DE CARACAS
Subsecretário de Estado dos
EUA para a América Latina sob
George W. Bush entre 2003 e
2005, Roger Noriega diz que a
Revolução Cubana tem sido
uma "tragédia" para a sua população e classificou de "cosméticas e patéticas" as mudanças introduzidas por Raúl Castro. Sua entrevista à Folha:
(FM)
FOLHA - Como a Revolução Cubana
chega aos seus 50 anos?
ROGER NORIEGA - É um evento
histórico que dura 50 anos contra todas as adversidades. Mas
é uma tragédia para o povo cubano. Quando Fidel Castro tomou o poder, ele estava na vanguarda dos movimentos de libertação latinos confrontando
ditaduras e regimes não-representativos. Mas hoje o restante
da América Latina tem, em
grande medida, ampliado a democracia, e as pessoas não tiveram de sacrificar a sua liberdade para ter essa realidade.
Cuba, que foi um dos melhores países em termos de alfabetização e riqueza, caiu para níveis de Haiti e Bolívia em termos de bem-estar material.
FOLHA - Como o sr. vê as mudanças
implantadas por Raúl?
NORIEGA - Cosméticas e patéticas. Os cubanos ainda estão
presos num sistema em que a
vasta maioria não pode ter
acesso a todas essas facilidades
e eles ainda não são livres. Esses falsos brilhantes não significam muito para quem vive
sob um Estado policial.
FOLHA - Quando o sr. estava no Departamento de Estado, o governo
Bush endureceu o bloqueio a Cuba.
Qual foi o resultado dessa política?
NORIEGA - Acho que sempre temos de revisar onde estamos
em termos de política. Geralmente, acredito que temos de
reservar qualquer tipo de concessão a um governo de transição. Certamente, Raúl não representa transição, ele é mais
do mesmo. Mas pode haver, no
futuro, cubanos que realmente
queiram ajudar o país a sair do
pesadelo em que está hoje.
Creio que devamos estender as
relações econômicas e políticas
a um governo de transição a fim
de fortalecer reformas e assegurar mudanças profundas,
amplas e irreversíveis.
Sou contrário -e a história
tem confirmado- a fazer concessões incondicionais a ditaduras brutais. Não produz resultados verdadeiros.
FOLHA - Por que os EUA hoje estão
isolados na região quanto a Cuba?
NORIEGA - Desde os anos 70, os
países latino-americanos começaram a normalizar as suas
relações com Cuba. Não acho
que agora seja particularmente
diferente. Certamente, há líderes como Evo Morales, Daniel
Ortega e Hugo Chávez que copiam e admiram Castro. Mas
isso não pode ser dito da vasta
maioria de líderes eleitos tanto
da direita quanto da esquerda.
Não creio que Lula tenha muito
o que aprender sobre governar
com Fidel ou Raúl Castro.
FOLHA - O que muda com a chegada de Barack Obama?
NORIEGA - Acho que ele preservará a política em linhas gerais
e que não fará mudanças drásticas até que haja mudanças
significativas em Cuba.
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