São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Racha exposto em Honduras contamina a eleição na OEA

Chávez ameaça não endossar Insulza; Brasil, que apoia chileno, minimiza gesto

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

As divisões políticas entre países do hemisfério novamente expostas na crise hondurenha ameaçam se trasladar para a eleição de secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), que, até há pouco, parecia destinada a reeleger o chileno José Miguel Insulza.
Na reunião ordinária do Conselho Permanente da entidade, nesta semana, a Venezuela pediu o adiamento de uma votação que decidiria a data da eleição argumentando que o bloco que lidera, a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), estuda lançar um candidato próprio.
Se isso ocorrer, o frágil consenso em torno de Insulza pode se desfazer, e os EUA, que foram voto vencido na eleição do chileno em 2005, podem se sentir livres para apoiar também um nome alternativo. Esse seria o pior cenário para o Brasil, que apoia Insulza e quer evitar essa polarização. Por ora, segundo a Folha apurou, a diplomacia brasileira considera esse desfecho improvável.
O Brasil vê tanto no movimento de Chávez como na reticência dos EUA em declarar apoio público ao chileno estratégias para forçar Insulza a se inclinar a um ou outro bloco -a insatisfação dupla, na avaliação brasileira, é prova de que ele está faz um bom trabalho.
Para o argentino Juan Gabriel Tokatlian, professor da Universidade Torcuato Di Tella, em Buenos Aires, pode haver mais do que blefe. No raciocínio dele, a eleição se transformaria em mais um palco para explorar as divisões da região e debater o papel da entidade na crise em Honduras -há consenso de que a OEA foi de uma posição unitária forte a um frágil segundo plano.
"O raciocínio do bloco chavista pode ser: perdemos em Honduras, mas vamos fazer dessa eleição uma grande oportunidade para expor nossas críticas à OEA", diz Tokatlian.
No caso americano, o argentino afirma que o Departamento de Estado jamais se sentiu confortável com Insulza -o primeiro eleito à revelia de Washington. Compara-o ao egípcio Boutros Boutros-Ghali (1992-1996), cuja reeleição como secretário-geral da ONU foi vetada pelos EUA -a primeira vez que não houve recondução.
Ajudariam ainda a mudança de posição dizer que o chileno não conta com suficiente apoio em Washington. Nesta semana, atuação de Insulza foi criticada como fraca e excessivamente política num relatório preparado pelo gabinete do republicano Richard Lugar, líder da minoria na Comissão de Assuntos Exteriores do Senado.
"O Brasil precisa atuar com países da América do Sul e do Caribe por Insulza. A não reeleição dele seria um sinal muito claro de castigo à América Latina que quis ter seu candidato progressista na OEA, um sinal de divisão na região", diz ele.
O mau momento de Insulza tem ainda ingrediente doméstico. O presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera (conservador), faz suspense para confirmar seu apoio a ele -do Partido Socialista de Michelle Bachelet. Para o analista argentino e para o Brasil, não há risco de que Piñera o abandone.
A resposta se haverá disputa para valer ou não na eleição da OEA -que elege o secretário para os próximos cinco anos- deve sair na próxima semana, quando o bloco chavista promete anunciar a decisão final sobre a candidatura.


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