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China censura Google até em discussão no Fórum Econômico
Vice-premiê se recusa a discutir contencioso entre país e empresa em sua participação em encontro
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Era para ser uma sessão informativa informal em que o vice-premiê chinês, Li Keqiang,
satisfaria a curiosidade de dois
dos conselhos criados pelo Fórum Econômico Mundial, o de
"business" e o de mídia. Mas
antes de abrir a sessão para as
perguntas dos presentes, o mediador, David Schlesinger, editor-chefe da agência Thomson
Reuters, foi avisando: "O ministro não está preparando para
responder a perguntas sobre o
assunto Google".
Trata-se da ameaça da empresa de sair da China, depois
de um ataque de piratas cibernéticos, supostamente de inspiração governamental, que resultou em roubo de sua propriedade intelectual. Foi a causa de uma reação irada da secretária de Estado americana,
Hillary Clinton, e uma resposta
igualmente irada dos chineses.
Impor, até em Davos, a censura sobre Google mostra claramente que a China não está
disposta, em nenhum auditório, a dar explicações sobre as
políticas que adota.
Já a falta de reação do público ao veto mostra, também claramente, que os homens de negócio, a principal presença em
Davos, não têm a mais leve intenção de desafiar os chineses.
Ao contrário: ficou evidente,
numa segunda sessão, à tarde,
que não há a menor intenção de
dizer à China o que fazer, nesse
assunto como em outro contencioso com os EUA, que é a
política cambial, que favorece
exportações e causa um desequilíbrio na economia global.
O presidente Barack Obama
tem insistido em que é preciso
corrigir o desequilíbrio, mas,
ontem, seu subsecretário de
Estado para Economia, Energia e Agricultura, Robert Hormats, preferiu contemporizar:
"Não adianta fazer sermões
para os chineses. Não adianta
dizer que uma economia que
depende de vender mais e mais
para os consumidores americanos não é sustentável".
A tese de Hormats é a de que
os chineses farão a mudança no
"modelo orientado para a exportação" não porque os outros
dizem mas porque se trata de
uma "realidade fundamental".
Que sermões não funcionam,
ficou claro não apenas pelo episódio Google, mas também pela
frase de Cheng Siwei, presidente do Fórum de Finança Internacional da China: "Podemos
coordenar posições com outros
países, mas manteremos nossos princípios".
Ou pela cândida admissão de
Yan Xuetong, diretor do Instituto de Estudos Internacionais
da Universidade Tsinghua, de
que a China faz, sim, mudanças
em suas políticas desde que
"sejam favoráveis a ela".
As sessões de ontem do Fórum de Davos sobre a China
serviram também para demonstrar que cresce o convencimento de que se está formando um G2, exatamente entre
China e EUA, para lidar com assuntos internacionais.
"É a única relação bilateral
que tem impacto no mundo",
diz Xuetong, pelo lado chinês.
Pelo norte-americano, ecoa
Hormats: "Trabalhando juntos,
podemos lidar com quase todos
os assuntos mundiais".
Já o vice-premiê Keqiang
prefere uma estudada modéstia, ao ser lembrado que a China
já passou a Alemanha como
maior exportador mundial e está para superar o Japão e se tornar a segunda economia do planeta. Rebate Keqiang: "Em termos de renda per capita, há cem
países que superam a China".
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