São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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Universitários brasileiros são afetados por revolta estudantil

DO ENVIADO A PARIS

Os brasileiros que vivem em Paris e estudam em universidades francesas têm vivido a revolta estudantil intensamente, participando dos protestos contra a lei trabalhista CPE e sendo obrigados a mudar seu cotidiano por causa da greve que desde fevereiro afeta a maioria das instituições de ensino superior do país.
Mas o endurecimento do governo francês no controle de imigrantes fez a Apeb (Associação dos Pesquisadores e Estudantes Brasileiros na França), 800 associados, recomendar precauções aos que se juntam aos protestos.
A presidente da entidade, Cláudia Wanderley, passou a alertar os integrantes do grupo para levarem às manifestações uma carta atestando que sua presença ali está relacionada ao projeto de pesquisa que desenvolvem.
Isso impediria, explica ela, que um brasileiro eventualmente preso em meio a um tumulto nos protestos fosse deportado com base numa recente lei de imigração linha-dura, sob o argumento de que estava ali exercendo atividade política no país, em vez de estudar. Segundo ela, alguns associados já seguiram o conselho.
"O [presidente Jacques] Chirac, o [premiê Dominique de] Villepin e o [ministro do Interior Nicolas] Sarkozy querem limpar a França dos imigrantes. Então aconselho a todos que levem [às marchas] um documento que comprove que estão lá porque aquilo é parte de seu objeto de estudo", disse Wanderley, pós-doutoranda em multilingüismo e novas tecnologias de linguagem na Sorbonne Nouvelle (Paris 3).
Ontem havia vários estudantes brasileiros na manifestação de Paris. O paulista Edson Teles, 38, que faz um estágio de doutorado em filosofia política na Paris 8/ Saint Dennis, afirmou que não estava ali pelo protesto em si mas para auxiliar sua pesquisa. "A luta contra o CPE se transformou num símbolo de como o francês se manifesta contra a forma de organização social."
Para a cearense Sônia Oliveira, doutoranda em cinema e audiovisual na Paris 3/Sorbonne e crítica do CPE, "é interessante ver os franceses batalhando para manter conquistas que, embora taxadas de arcaicas por uns, nós nunca tivemos no Brasil".
Além de perderem aulas e reuniões de trabalho regulares por causa da greve, os universitários brasileiros estão impedidos de utilizar espaços importantes na sua rotina de estudos, como bibliotecas e laboratórios de informática das escolas, cujas entradas são vigiadas por manifestantes.


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