São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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ORIENTE MÉDIO

Eleição israelense tem abstenção recorde; Kadima fica em primeiro, seguido dos trabalhistas, e Likud cai

Vencedor, Olmert promete concessões

Emilio Morenatti/Associated Press
Judeus ultra-ortodoxos depositam seus votos em Jerusalém; alto índice de abstenção confirmou apatia detectada na campanha


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE JERUSALÉM

Ehud Olmert, premiê interino de Israel e líder do Kadima, declarou ontem o partido como vencedor da eleição e reafirmou, no discurso da vitória, que o país vai definir as fronteiras com os palestinos de maneira unilateral caso as negociações de paz não avancem. Os resultados da contagem de votos apontam para uma coalizão de centro-esquerda.
"Se os palestinos forem sábios o suficiente para agir, então no futuro próximo vamos nos sentar juntos à mesa de negociações para criar uma nova realidade. Se não forem, Israel vai tomar seu destinos com as próprias mãos", disse Olmert. "Chegou a hora de agir", acrescentou, apelando para o presidente palestino, Mahmoud Abbas, voltar aos debates de paz.
Olmert disse que Israel está disposto a abrir mão de parte da "amada Terra de Israel", mas que espera que os palestinos também desistam de parte de seu sonho.
Com mais de 99% das urnas contadas, o Kadima conseguia 28 deputados, o que representa queda em relação às previsões, mas o suficiente para liderar a formação do próximo governo. O Partido Trabalhista surpreendeu e subiu para 20.
O líder sindicalista Amir Peretz disse que aceitará participar de um governo com Olmert em troca de um pacote de medidas sociais. Com o avanço nas urnas e a queda do Kadima, os trabalhistas ganham poder de negociação e podem exigir alguma pasta importante, como a das Finanças.
A apatia detectada na reta final da campanha foi confirmada na votação, que registrou o maior índice de abstenção da história de Israel. Apesar dos apelos de última hora dos partidos, a participação foi de 63,2%, queda significativa em relação à última votação, em 2003, quando chegou a 68,9%.
A apuração também demonstra a ascensão do partido de direita Israel Nossa Casa, do líder radical Avigdor Liberman, que deve ficar com 12 deputados, e o colapso do Likud, tradicionalmente um dos principais partidos de Israel, que deve ter apenas 11 deputados.
Em 2003, sob liderança de Ariel Sharon, o Likud conquistou 38 cadeiras. O Likud cai para o quinto lugar em deputados na Knesset (Parlamento), atrás do Shas, partido religioso que representa os judeus de origem sefaradita e deve ficar com 13 vagas. Benjamin Netanyahu, líder do Likud, negou planos de abandonar a política.
Outra surpresa é o alto número de cadeiras conquistadas pelo Partido dos Aposentados, sete. A liderança do partido anunciou que aceita fazer parte de uma coalizão com o Kadima, desde que sua agenda pró-aposentados seja levada em conta.
Os partidos árabes também são cotados para entrar na coalizão, e obtiveram dez deputados.
A reação dos palestinos refletiu a sua atual divisão. Assim que projeções foram divulgadas, Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente Mahmoud Abbas, manifestou disposição em negociar a paz com o novo governo israelense. Já o Hamas, cujo gabinete foi aprovado ontem pelo Parlamento palestino, prometeu resistir ao plano de Olmert de determinar unilateralmente suas fronteiras.
"Vamos ver como as coisas vão se desenvolver no futuro. No momento, o que vemos e o que está sendo declarado é um plano de Olmert de separação unilateral. Este plano é rejeitado pelo povo palestino", disse Ismail Haniya, o primeiro-ministro designado da Autoridade Palestina.
O presidente de Israel, Moshé Katsav, afirmou que não vai esperar pelo anúncio oficial dos resultados da eleição, previsto para o dia 5 de abril. Ele disse que vai começar já no próximo domingo os contatos com as lideranças partidárias para decidir o partido que vai receber o direito de tentar formar a coalizão.
A polícia passou o dia em estado de alerta elevado, mas registrou apenas pequenos incidentes. Da faixa de Gaza foi disparado pela primeira vez um foguete Katiusha, ataque reivindicado pelo grupo terrorista Jihad Islâmico, que não deixou vítimas.


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