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China tenta estancar o desemprego entre os recém-formados
Crescimento de até 6,5% não bastará para absorver 6,1 milhões de formandos de 2009; governo acena com trabalho em áreas remotas
Geração que conheceu apenas o "milagre" chinês enfrenta desaceleração econômica ao deixar os bancos das universidades
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Cerca de 6,1 milhões de universitários chineses se formam
em junho. Entre os graduados
em 2008, 1,4 milhão não achou
emprego, ou perdeu o que tinha. É o desemprego desses 7,5
milhões com diploma que tira o
sono do governo chinês.
Com a desaceleração da economia chinesa, é quase certo
que milhões de jovens que só
viveram a prosperidade da China não encontrarão trabalho.
No ano passado, 11 milhões
de empregos urbanos foram
criados na China com um crescimento de 9% do PIB. Ainda
assim, 20 milhões de migrantes
rurais perderam empregos urbanos, na construção e nas linhas de montagem para exportação. Neste ano, as estimativas
apontam que a economia chinesa crescerá entre 5% e 6,5%.
Em fevereiro, o premiê chinês, Wen Jiabao, disse que
achar empregos para os universitários era a "maior prioridade
na política de emprego da China para o ano de 2009".
Surgiram no último mês diversos programas especiais para tentar conter o desemprego
dos com diploma. Sob ordem
do governo central, Províncias
e prefeituras do interior estão
organizando grandes feiras de
empregos em Pequim e Xangai
para tentar atrair os estudantes
urbanos das melhores universidades do país.
O número de vagas na pós-graduação cresceu 5% em relação a 2008, segundo o Ministério da Educação. A ideia é que
pelo menos 50 mil chineses
passem alguns anos a mais nos
bancos escolares. Só em Pequim, 10 mil vagas para mestrado e doutorado foram criadas.
"Escolas primárias e secundárias irão contratar 3.000 recém-formados este ano como
professores", diz o vice-prefeito de Pequim, Ding Xiangyang.
A Prefeitura de Pequim irá
criar 2.000 vagas de "trabalhadores sociais" para empregar
outros universitários.
Viagem ao interior
Algumas das ideias que o governo pretende adotar em breve incluem o perdão da dívida
de parte dos empréstimos universitários de recém-formados
que aceitem trabalhar nas remotas áreas do oeste do país.
Universitários que trabalhem como médicos ou professores rurais receberão previdência social. Estudantes que
tenham atuado em serviços sociais no interior terão prioridade na hora de se candidatar a
vagas na pós-graduação.
Outro projeto é que os recém-formados desempregados
possam se candidatar a empréstimos de 50 mil yuans
(R$ 17 mil) para começar os
seus próprios negócios.
O governo quer evitar o descontentamento estudantil às
vésperas do aniversário de uma
das maiores crises enfrentadas
pelo regime comunista.
Em abril de 1989, há 20 anos,
estudantes universitários começaram a organizar protestos
pedindo democracia, abertura
e reforma universitária, e tomaram a principal praça de Pequim, a Tiananmen (da Paz Celestial). O movimento terminou em massacre. Militares desocuparam a praça, matando de
300 a 2.000 pessoas, segundo
variadas fontes.
"Parece razoável esperar que
os desafios de uma preocupada
classe média, de recém-formados frustrados e de migrantes
desempregados possam ser
uma ameaça à liderança do Partido Comunista. Seriam, mas só
se esses grupos se unissem", escreveu o cientista político Minxin Pei, na última edição da revista "Foreign Affairs".
"Mas isso não vai acontecer.
Esse cenário revolucionário
perde de vista as forças que bloqueiam mudanças políticas na
China: a capacidade de repressão e a unidade entre a elite."
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