São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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China tenta estancar o desemprego entre os recém-formados

Crescimento de até 6,5% não bastará para absorver 6,1 milhões de formandos de 2009; governo acena com trabalho em áreas remotas

Geração que conheceu apenas o "milagre" chinês enfrenta desaceleração econômica ao deixar os bancos das universidades

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Cerca de 6,1 milhões de universitários chineses se formam em junho. Entre os graduados em 2008, 1,4 milhão não achou emprego, ou perdeu o que tinha. É o desemprego desses 7,5 milhões com diploma que tira o sono do governo chinês.
Com a desaceleração da economia chinesa, é quase certo que milhões de jovens que só viveram a prosperidade da China não encontrarão trabalho.
No ano passado, 11 milhões de empregos urbanos foram criados na China com um crescimento de 9% do PIB. Ainda assim, 20 milhões de migrantes rurais perderam empregos urbanos, na construção e nas linhas de montagem para exportação. Neste ano, as estimativas apontam que a economia chinesa crescerá entre 5% e 6,5%.
Em fevereiro, o premiê chinês, Wen Jiabao, disse que achar empregos para os universitários era a "maior prioridade na política de emprego da China para o ano de 2009".
Surgiram no último mês diversos programas especiais para tentar conter o desemprego dos com diploma. Sob ordem do governo central, Províncias e prefeituras do interior estão organizando grandes feiras de empregos em Pequim e Xangai para tentar atrair os estudantes urbanos das melhores universidades do país.
O número de vagas na pós-graduação cresceu 5% em relação a 2008, segundo o Ministério da Educação. A ideia é que pelo menos 50 mil chineses passem alguns anos a mais nos bancos escolares. Só em Pequim, 10 mil vagas para mestrado e doutorado foram criadas.
"Escolas primárias e secundárias irão contratar 3.000 recém-formados este ano como professores", diz o vice-prefeito de Pequim, Ding Xiangyang.
A Prefeitura de Pequim irá criar 2.000 vagas de "trabalhadores sociais" para empregar outros universitários.

Viagem ao interior
Algumas das ideias que o governo pretende adotar em breve incluem o perdão da dívida de parte dos empréstimos universitários de recém-formados que aceitem trabalhar nas remotas áreas do oeste do país.
Universitários que trabalhem como médicos ou professores rurais receberão previdência social. Estudantes que tenham atuado em serviços sociais no interior terão prioridade na hora de se candidatar a vagas na pós-graduação.
Outro projeto é que os recém-formados desempregados possam se candidatar a empréstimos de 50 mil yuans (R$ 17 mil) para começar os seus próprios negócios.
O governo quer evitar o descontentamento estudantil às vésperas do aniversário de uma das maiores crises enfrentadas pelo regime comunista.
Em abril de 1989, há 20 anos, estudantes universitários começaram a organizar protestos pedindo democracia, abertura e reforma universitária, e tomaram a principal praça de Pequim, a Tiananmen (da Paz Celestial). O movimento terminou em massacre. Militares desocuparam a praça, matando de 300 a 2.000 pessoas, segundo variadas fontes.
"Parece razoável esperar que os desafios de uma preocupada classe média, de recém-formados frustrados e de migrantes desempregados possam ser uma ameaça à liderança do Partido Comunista. Seriam, mas só se esses grupos se unissem", escreveu o cientista político Minxin Pei, na última edição da revista "Foreign Affairs".
"Mas isso não vai acontecer. Esse cenário revolucionário perde de vista as forças que bloqueiam mudanças políticas na China: a capacidade de repressão e a unidade entre a elite."


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