São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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Jovens chineses rejeitam volta ao campo

Promessas de emprego atraem multidão; às vésperas da formatura, turma de 2009 sonha com trabalho urbano

DE PEQUIM

Na manhã de sexta-feira, sob 4ºC, 5.000 estudantes de várias universidades de Pequim se dividem em duas filas na entrada do ginásio da Universidade de Ciência e Tecnologia. Eles participam da Feira de Empregos organizada pela instituição, que apresenta estudantes a possíveis empregadores.
Os jovens chegaram cedo, às 8h, mas têm que esperar até 10h30, pois os formandos da universidade anfitriã do evento têm preferência. São mais de 7.000 candidatos para 1.400 vagas. Outras feiras pelo país reúnem de 10 mil a 20 mil candidatos para menos de mil vagas.
Zheng Ting, 22, passa frio na fila do ginásio. No último ano do curso de Gerenciamento de Recursos Humanos, ela procura emprego desde setembro. Há quatro anos, a jovem não visita os pais, camponeses, que moram na Província de Guizhou, a 2.536 km de Pequim. Diz que só os visitará quando tiver emprego garantido.
"Eu vou continuar procurando trabalho em Pequim e nas cidades vizinhas, não quero voltar ao campo", diz a universitária. "Paguei meus estudos com empréstimo escolar e preciso quitar essa dívida nos próximos anos." Mesmo as universidades públicas cobram anuidade na China.
A direção da universidade não permitiu o acesso da Folha ao interior do ginásio, onde funcionários de empresas, principalmente estatais, ficam sentados em pequenas cabines, recebendo um a um os currículos e fazendo minientrevistas ao vivo com os candidatos.
Na fila, muitos candidatos não parecem animados com os paliativos oferecidos pelo governo chinês.
"Para mim, o oeste da China é muito remoto, não quero ir trabalhar lá", diz Li Weijie, 22, estudante do 4º ano de Ciências da Computação.
"Meus pais estão preocupados comigo, somos de Hebei [Província vizinha a Pequim], mas eu não quero voltar pra lá. Me acostumei à cidade."
Apesar da história de meritocracia inspirada nos conceitos confucionistas, alguns formandos acreditam no universal "quem indica". O estudante de logística Gu Xuewei, 22, de Pequim, diz que está passando por grande pressão, mas é otimista. "Se não achar meu emprego aqui, meus pais vão me ajudar com seus contatos. No final, isso é o que funciona."


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