São Paulo, quarta-feira, 29 de abril de 2009

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Crise obriga Obama a estender a mão a inimigos, diz analista

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O analista David Rothkopf acha uma bobagem avaliar um presidente dos EUA pelos primeiros cem dias, ainda mais em apostas de longo prazo como política externa, mas cita a regra de ouro em que se baseia a doutrina Obama, em especial no trato com os inimigos: faça com os outros o que você gostaria que fizessem com você, porque os EUA não têm energia ou recursos para nenhuma guerra para valer neste momento.
Para Rothkopf, que foi subsecretário do Comércio no governo Clinton (1993-2001) e é ex-diretor do escritório de consultoria de Henry Kissinger, os parâmetros pelos quais Obama será julgado em 2012 estarão baseados no funcionamento ou não dessa regra.
"O "primeiro encontro" com o mundo acabou. E foi tudo muito bem. Agora tudo é previsão. Todo mundo que passou dos 18 anos já atravessou essa fase e sabe o que vem depois", ironiza Rothkopf em seu blog, no site da revista "Foreign Policy".
Entre os dez pontos que cairão na prova de fim de mandato de Obama estarão: os problemas no Afeganistão e Paquistão -"Obama passará de ano se não terminarmos [2012] com mais tropas do que temos agora e se todo o Paquistão não for governado por fundamentalistas"- e a relação com a China, que representa o desafio de Obama de "forjar uma doutrina de interdependência com um crítico parceiro que é um possível rival", além de Iraque e economia, onde vai mal.
À Folha, ele falou sobre a relação com a América Latina. Para o autor de "Running the World: The Inside Story of the National Security Council and the Architects of American Power" (governando o mundo: a história interna do Conselho de Segurança Nacional e os arquitetos do poder americano), Obama mudou o tom da relação para melhor e está comprometido com a nova parceria.
Mas a relação com América Latina, diz, será premida pelo tempo -a região não está no topo da agenda- e dinheiro, que os EUA não têm. Avalia que é difícil uma mudança na problemática política antidrogas, que pauta parte da agenda com a região. Aposta em mudança interna. "Mas temo que ela não avance o suficiente."
Ele diz que ainda há uma discussão interna no governo Obama sobre a renovação dos postos-chave da diplomacia na região, se devem ir para diplomatas de carreira ou para indicados políticos. "A indicação para o Brasil pesa a balança nessa discussão", diz.
Quanto a Hugo Chávez, ele é mais que pessimista. Acha que a relação Caracas-Washington abriga problemas por conta da aproximação de Chávez com Irã e Rússia, por exemplo. "Há um tema que me preocupa: com Irã e outros países dominando "tecnologia nuclear" com fins "pacíficos", quanto tempo levará até a Venezuela achar que é permitido seguir esse caminho?", alarma-se.


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