São Paulo, sexta-feira, 29 de maio de 2009

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análise

Risco Paquistão é medido em escala nuclear

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Em conversa com a Folha em Davos, há um ano e meio, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, jurava que todos os problemas de seu país estão além-fronteiras, mais exatamente "nos países vizinhos" (ele evidentemente se referia ao Paquistão).
Na época parecia uma maneira simplória de tirar dos ombros o fardo do fracasso em estabilizar o país depois da ocupação por tropas da coalizão liderada pelos EUA.
Continua parecendo escapismo, mas bem menos depois que a guerra permanente na região tornou-se mais intensa no Paquistão. E menos ainda depois do atentado de anteontem em Lahore, cidade-ícone do que há de liberal na cultura paquistanesa e centro de sua comunidade cinematográfica.
É eloquente que Imran Khan, repórter da rede qatariana Al Jazeera, com a experiência da cobertura de 13 atentados na mesma área, diga agora que "o ataque em Lahore tem todas as indicações de algo mais organizado e mais letal".
Combina à perfeição com a avaliação de Karzai à Folha, segundo a qual nem mesmo o Taleban afegão é um problema feito em casa. "A versão nativa dos membros do Taleban não é extremista. São estudantes de escolas religiosas" (o que passa por cima do fato de que as madrassas, as escolas religiosas, são muitas vezes centros de formação de extremistas).
Seja como for, a comunidade acadêmica e diplomática internacional já assumiu uma nova designação para aquele ponto que é o mais explosivo do planeta hoje: Afe-Paqui, para designar o fato de que a crise no Afeganistão é inseparável da crise no Paquistão, mais ou menos nos termos da avaliação do presidente afegão.
Daria até para dizer que a estabilização do Afeganistão depende da estabilização do Paquistão, mas o inverso não é necessariamente verdadeiro. O Paquistão, não o Afeganistão, passou a ser (ou sempre foi, se Karzai tiver razão) a chave da estabilidade no subcontinente indiano.
O repórter da Al Jazeera dá uma ideia do tamanho da encrenca: "O medo agora entre muitos amigos, particularmente aqueles com os quais falei em Lahore, é que, mesmo que o Exército paquistanês vença a batalha pelo vale do Swat, o próprio Paquistão estará em risco".
O Paquistão tem 170 milhões de habitantes -é o sétimo país mais povoado do planeta. Tem pouco menos de 1 milhão de homens nas Forças Armadas, a sétima maior potência militar do mundo. Como se não bastasse, possui armas atômicas.


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