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análise
Risco Paquistão é medido em escala nuclear
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Em conversa com a Folha
em Davos, há um ano e meio,
o presidente do Afeganistão,
Hamid Karzai, jurava que todos os problemas de seu país
estão além-fronteiras, mais
exatamente "nos países vizinhos" (ele evidentemente se
referia ao Paquistão).
Na época parecia uma maneira simplória de tirar dos
ombros o fardo do fracasso
em estabilizar o país depois
da ocupação por tropas da
coalizão liderada pelos EUA.
Continua parecendo escapismo, mas bem menos depois que a guerra permanente na região tornou-se mais
intensa no Paquistão. E menos ainda depois do atentado
de anteontem em Lahore, cidade-ícone do que há de liberal na cultura paquistanesa e
centro de sua comunidade
cinematográfica.
É eloquente que Imran
Khan, repórter da rede qatariana Al Jazeera, com a experiência da cobertura de 13
atentados na mesma área,
diga agora que "o ataque em
Lahore tem todas as indicações de algo mais organizado
e mais letal".
Combina à perfeição com
a avaliação de Karzai à Folha, segundo a qual nem
mesmo o Taleban afegão é
um problema feito em casa.
"A versão nativa dos membros do Taleban não é extremista. São estudantes de escolas religiosas" (o que passa
por cima do fato de que as
madrassas, as escolas religiosas, são muitas vezes centros
de formação de extremistas).
Seja como for, a comunidade acadêmica e diplomática internacional já assumiu
uma nova designação para
aquele ponto que é o mais explosivo do planeta hoje: Afe-Paqui, para designar o fato de
que a crise no Afeganistão é
inseparável da crise no Paquistão, mais ou menos nos
termos da avaliação do presidente afegão.
Daria até para dizer que a
estabilização do Afeganistão
depende da estabilização do
Paquistão, mas o inverso não
é necessariamente verdadeiro. O Paquistão, não o Afeganistão, passou a ser (ou sempre foi, se Karzai tiver razão)
a chave da estabilidade no
subcontinente indiano.
O repórter da Al Jazeera
dá uma ideia do tamanho da
encrenca: "O medo agora entre muitos amigos, particularmente aqueles com os
quais falei em Lahore, é que,
mesmo que o Exército paquistanês vença a batalha pelo vale do Swat, o próprio Paquistão estará em risco".
O Paquistão tem 170 milhões de habitantes -é o sétimo país mais povoado do
planeta. Tem pouco menos
de 1 milhão de homens nas
Forças Armadas, a sétima
maior potência militar do
mundo. Como se não bastasse, possui armas atômicas.
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