São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2011

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ANÁLISE

Desafio do Fundo porá em xeque a capacidade da mulher no poder


HÁ UMA LONGA ESTRADA ATÉA AFIRMAÇÃO DAS MULHERES NA POLÍTICA, MESMO NO BRASIL PÓS-DILMA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Lá se vai quase meio século desde que Indira Gandhi e Golda Meir viraram primeiras- ministras -uma da Índia, em 1966, outra de Israel, em 1969-, mas as mulheres ainda estão em forte desvantagem na relação de poder.
Esse desequilíbrio parece estar mudando com maior rapidez neste novo século, e a vitória de Christine Lagarde para a chefia do poderoso e antes temido Fundo Monetário Internacional é uma vitória e tanto nessa direção.
Lagarde não é apenas a primeira mulher a ocupar o cargo, mas a primeira advogada numa função antes exclusiva de economistas. Só sendo muito competente, com um currículo sólido, consistente.
Como também foi a "dama de ferro" Margaret Thatcher, premiê do Reino Unido de 1979 a 1990, capaz de pensar estrategicamente e ter coragem de pôr as contas em dia à custa do índice de emprego e da própria popularidade.
Depois delas, a presença da mulher no poder passou a ser mais suave, ou mais feminina, com Angela Merkel, chanceler da Alemanha, Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, e as presidentes Dilma Rousseff no Brasil, Cristina Kirchner na Argentina e Michelle Bachelet (que saiu do governo do Chile com aprovação superior a 70%).
Há, porém, uma longa estrada pela frente até a efetiva afirmação da mulher na política, principalmente dentro do próprio Brasil, apesar da eleição de Dilma em 2010.
Oito entre 10 brasileiros dizem que votam ou votariam em mulheres, conforme pesquisa Ibope-Instituto Patrícia Galvão, mas a representação feminina continua sendo muito pequena -e não evolui. Exemplo: dos 513 deputados federais eleitos em 2010, só 43 eram mulheres.
No Executivo, uma curiosidade: apesar da forte onda favorável à reeleição de governadores em 2010, duas mulheres estão entre os raros que naufragaram: Yeda Crusius (PSDB), do Rio Grande do Sul, e Ana Júlia Carepa (PT), do Pará. Partidos diferentes, regiões diferentes, derrotas semelhantes.
Uma explicação subjetiva é que a mulher, ao chegar ao poder, não apenas passa a ser vidraça, mas também é uma vidraça mais vulnerável. É mais fiscalizada, criticada, cobrada. E, se algo dá errado, "é porque é mulher".
Lagarde tem boas credenciais e já estreará com um baita desafio: a crise na Grécia. É dupla responsabilidade, pois estará em xeque a capacidade não só dela, mas da mulher no poder.


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