São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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ANÁLISE

Honduras amplia fosso Washington-Brasília

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

A reunião ontem do Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) ampliou o fosso que se abriu nos últimos meses entre as políticas de Brasil e EUA na América Latina.
Parece que se passaram anos, e não quatro meses, entre a declaração do chanceler Celso Amorim de que a "a OEA está viva" e a constatação feita ontem pelo embaixador brasileiro na entidade, Ruy Casaes, de que "a OEA caminha para irrelevância".
Amorim saudara a preservação da organização hemisférica no início de junho. Foi quando a Assembleia Geral anual, em Honduras, aprovou resolução para anular decisão de 1962 que suspendia o governo de Cuba, ao mesmo tempo reafirmando a vigência da Carta Democrática Interamericana, ao determinar que o reingresso da ditadura de partido único não seria automático.
Naquela ocasião, Brasil e Argentina lideraram negociações para impedir que a OEA rachasse ou os EUA ficassem isolados em sua oposição à revogação do ato da Guerra Fria.
Desde então, no entanto, o governo de Barack Obama não conseguiu ou não quis cruzar a ponte oferecida pelo governo brasileiro com a promessa de uma relação mais amena com a Venezuela e os demais países da Alba, a aliança regional chavista à qual aderiu o presidente deposto de Honduras.
Ontem, os representantes americanos na OEA se recusaram a fornecer ajuda, sob a forma de pressões mais duras contra os golpistas hondurenhos, para ajudar o Brasil, recentemente chamado de "parceiro estratégico", a solucionar o imbróglio em que se meteu ao receber Manuel Zelaya em sua embaixada em Tegucigalpa.
A resolução original da entidade que pede a volta de Zelaya ao poder é baseada na mesma Carta Democrática que impede o retorno de Cuba. Mas, desde que ela foi aprovada, os EUA se abstiveram de usar seus laços históricos com as elites política, empresarial e militar hondurenhas que depuseram o presidente para pressioná-las a voltar atrás.
É cedo para saber se as divergências entre Brasil e EUA em nível regional terão repercussões em fóruns mais amplos, como o G20, a conferência sobre mudanças climáticas ou a OMC, onde já há embates contra medidas protecionistas americanas.
Mas ela certamente é um complicador para a pretensão brasileira de ser líder reconhecido da América do Sul, que é a região de fato definida pela diplomacia como a área vital de influência do país -sendo o caso de Honduras um desvio no qual não interessa ao Brasil permanecer.
O Brasil patrocinou no ano passado a criação da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) como fórum dessa liderança que se pretende "multilateralista", para tentar impedir que as diferenças ideológicas óbvias entre governantes da região provocassem disputas que no fim tivessem impacto até na integração econômica.
Mas, como se viu, a eficácia mostrada pela Unasul na crise de 2008 na Bolívia, quando os governadores de oposição tentaram asfixiar o governo de Evo Morales, não se repetiu agora na discussão do acordo para o uso de bases colombianas pelos EUA. No caso boliviano, claro, não havia interesses americanos importantes em jogo.


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