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ANÁLISE
Honduras amplia fosso Washington-Brasília
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A reunião ontem do Conselho Permanente da OEA (Organização dos Estados Americanos) ampliou o fosso que se
abriu nos últimos meses entre
as políticas de Brasil e EUA na
América Latina.
Parece que se passaram anos,
e não quatro meses, entre a declaração do chanceler Celso
Amorim de que a "a OEA está
viva" e a constatação feita ontem pelo embaixador brasileiro
na entidade, Ruy Casaes, de que
"a OEA caminha para irrelevância".
Amorim saudara a preservação da organização hemisférica
no início de junho. Foi quando
a Assembleia Geral anual, em
Honduras, aprovou resolução
para anular decisão de 1962 que
suspendia o governo de Cuba,
ao mesmo tempo reafirmando
a vigência da Carta Democrática Interamericana, ao determinar que o reingresso da ditadura de partido único não seria
automático.
Naquela ocasião, Brasil e Argentina lideraram negociações
para impedir que a OEA rachasse ou os EUA ficassem isolados em sua oposição à revogação do ato da Guerra Fria.
Desde então, no entanto, o
governo de Barack Obama não
conseguiu ou não quis cruzar a
ponte oferecida pelo governo
brasileiro com a promessa de
uma relação mais amena com a
Venezuela e os demais países
da Alba, a aliança regional chavista à qual aderiu o presidente
deposto de Honduras.
Ontem, os representantes
americanos na OEA se recusaram a fornecer ajuda, sob a forma de pressões mais duras contra os golpistas hondurenhos,
para ajudar o Brasil, recentemente chamado de "parceiro
estratégico", a solucionar o imbróglio em que se meteu ao receber Manuel Zelaya em sua
embaixada em Tegucigalpa.
A resolução original da entidade que pede a volta de Zelaya
ao poder é baseada na mesma
Carta Democrática que impede
o retorno de Cuba. Mas, desde
que ela foi aprovada, os EUA se
abstiveram de usar seus laços
históricos com as elites política, empresarial e militar hondurenhas que depuseram o
presidente para pressioná-las a
voltar atrás.
É cedo para saber se as divergências entre Brasil e EUA em
nível regional terão repercussões em fóruns mais amplos,
como o G20, a conferência sobre mudanças climáticas ou a
OMC, onde já há embates contra medidas protecionistas
americanas.
Mas ela certamente é um
complicador para a pretensão
brasileira de ser líder reconhecido da América do Sul, que é a
região de fato definida pela diplomacia como a área vital de
influência do país -sendo o caso de Honduras um desvio no
qual não interessa ao Brasil
permanecer.
O Brasil patrocinou no ano
passado a criação da Unasul
(União de Nações Sul-Americanas) como fórum dessa liderança que se pretende "multilateralista", para tentar impedir
que as diferenças ideológicas
óbvias entre governantes da região provocassem disputas que
no fim tivessem impacto até na
integração econômica.
Mas, como se viu, a eficácia
mostrada pela Unasul na crise
de 2008 na Bolívia, quando os
governadores de oposição tentaram asfixiar o governo de Evo
Morales, não se repetiu agora
na discussão do acordo para o
uso de bases colombianas pelos
EUA. No caso boliviano, claro,
não havia interesses americanos importantes em jogo.
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