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Terror esvazia crítica à ação de Putin
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, buscará agora reiterar
sua identidade de objetivo com
seu colega americano, George W.
Bush -"pôr fim ao terrorismo
que ameaça a segurança nacional"-, porém uma linha tênue o
separa de (mais) uma condenação internacional por violação aos
direitos humanos, segundo analistas ouvidos pela Folha.
"Desde os atentados 11 de setembro, Putin dá um forte apoio
ao combate liderado pelos EUA,
deixando claro que a insurgência
que enfrenta na Tchetchênia é
uma ameaça similar à que pesa
sobre os EUA, afirmou Ole Holsti,
co-autor de "Unity and Disintegration in International Alliances" (unidade e desintegração em
alianças internacionais).
"Assim, Putin dirá que há terrorismo em Nova York, em Bali, em
Moscou etc., o que exige ações firmes. Com isso, conseguirá "legitimar" a guerra na Tchetchênia.
Washington, por sua vez, precisa
do apoio russo em outras áreas,
como um eventual ataque ao Iraque, e não deverá expressar grande oposição à ação de Moscou."
Internacionalmente, o trágico
desfecho da tomada de reféns em
Moscou deverá, de acordo com os
analistas, "confirmar opiniões
que já existiam". "Aqueles que já
eram favoráveis à ação russa na
república separatista dirão que
atos terroristas como o ocorrido
em Moscou provam que Putin
não pode dialogar com os rebeldes", apontou Andrew Bennett,
especialista em Rússia da Universidade de Georgetown (EUA).
"Os críticos de Putin, sobretudo
na Europa, afirmarão que se trata
de mais uma prova de que o governo russo é extremamente violento com os tchetchenos e exigirão que a comunidade internacional condene o modo como a crise
foi resolvida. Afinal, a maioria das
pessoas morreu por causa do gás
usado pelas forças de segurança
russas", acrescentou.
Portanto, se for demonstrado
que o gás não poderia ser utilizado da forma como foi ou se ficar
patente que houve negligência
oficial, pois, por razões de segurança, nenhum antídoto foi dado
às vítimas da ação do gás, a administração da crise poderá tornar-se bem mais difícil para Putin.
"Se vários dos mais de cem feridos que ainda estão hospitalizados morrerem e se for descoberto
que um gás muito forte foi utilizado em Moscou, a comunidade internacional deverá reagir mais
duramente. Na verdade, moralmente, a ação russa foi condenável. Porém, na prática, as grandes
potências, sobretudo os EUA, têm
outros interesses", avaliou Holsti.
Assim, tudo indica que, se não
ficar claro que uma substância tóxica "condenável" foi empregada
pelas forças de segurança russas,
Putin poderá manter-se irredutível em sua oposição a um diálogo
com os tchetchenos moderados.
Mas, se decidir endurecer a ação
na Tchetchênia, ele apenas dará
mais "motivos" aos insurretos.
"Infelizmente, a tomada de reféns poderá acarretar um retrocesso. Há pouco tempo, Putin até
admitiu que nem todos os rebeldes são terroristas, alterando dramaticamente sua posição anterior. Porém, após os eventos em
Moscou, a tendência é que ele evite dialogar. E, sem diálogo com os
moderados, não há solução para o
conflito", analisou Bennett.
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