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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Pesquisas de popularidade e resultado negativo em eleições municipais refletem fracasso no combate ao terrorismo

Sharon perde apoio, e Likud perde eleição

STEPHANIE LE BARS
DO "LE MONDE", EM JERUSALÉM

Pesquisas indicavam que o Likud (conservador) -partido do premiê israelense, Ariel Sharon- deveria ser o principal perdedor nas eleições municipais realizadas ontem em Israel, que foram marcadas por uma elevada abstenção -apenas 41% dos eleitores votaram. A expectativa era de queda no número de prefeituras e de cadeiras nas câmaras municipais nas mãos do partido.
Já Partido Trabalhista, o principal da oposição, deveria aumentar seu poder na esfera municipal ontem, após uma de suas maiores derrotas nas eleições parlamentares de janeiro deste ano.
Pela primeira vez desde que chegou ao poder, em fevereiro de 2001, Sharon vem sendo alvo de críticas vindas de seu próprio partido, da esquerda e da imprensa. Mesmo a opinião pública, que até agora o apoiava, parece começar a duvidar do premiê.
De acordo com uma sondagem publicada no último dia 10 no jornal "Maariv", apenas 36% dos entrevistados consideram positivo o histórico de realizações de Sharon, enquanto 54% anunciaram opinião extremamente negativa sobre ele. Após três anos de grande apoio popular, 55% dos israelenses se dizem hoje convencidos de que "Sharon não sabe como combater o terror".
A segurança ainda é a principal preocupação da população, e o líder de direita se elegeu justamente com a promessa de trazer paz e segurança ao país, abalado por três anos de revolta palestina contra a ocupação israelense, iniciada em 1967.
Segundo analistas, a queda de popularidade, iniciada há pouco mais de um mês, sugere a possibilidade de Sharon não chegar ao fim de seu mandato de quatro anos.
Os sinais nesse sentido vêm principalmente do Likud, onde vários de seus ministros se autoproclamaram candidatos a sucessores de Sharon. Em setembro, a votação do Orçamento gerou uma primeira tentativa de revolta: três membros do Likud e pretendentes à sucessão (o vice-premiê, Ehud Olmert, o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, e o ministro da Educação, Limor Livnat) votaram contra o Orçamento, defendido por Binyamin Netanyahu, ministro das Finanças e outro potencial sucessor de Sharon.
As desavenças no interior do governo -que tem partidos de extrema direita e forças mais moderadas- com relação à construção da barreira entre Israel e a Cisjordânia, ao destino do presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, e à conveniência do bombardeio de um campo na Síria em represália a um atentado em Israel também reforçaram essa impressão.
Essas disputas por influência certamente não teriam o mesmo impacto se o governo pudesse apresentar avanços reais. Mas a situação econômica de Israel nunca esteve tão degradada quanto hoje. As greves no setor público se multiplicam há várias semanas. O desemprego pode alcançar índice recorde até o final do ano, e os cortes no Orçamento 2004 correm o risco de ter consequências pesadas para as famílias de renda mais baixa.
No que diz respeito à segurança, os atentados regulares só fazem lembrar aos israelenses que a chamada "cerca de segurança", a presença militar israelense nos territórios ocupados e os assassinatos de dirigentes de grupos palestinos não trazem a garantia de segurança total prometida por Sharon.
A essas críticas políticas e dificuldades sociais é preciso ainda acrescentar os tropeços pessoais de Ariel Sharon. O premiê deve ser ouvido pela polícia nesta semana sobre dois escândalos relativos ao pagamento de propinas nos quais ele próprio foi implicado, juntamente com seus filhos.
Apesar dos desmentidos do pai e do silêncio dos filhos, 69% dos israelenses acreditam que os Sharon têm alguma coisa a esconder. Até agora a opinião pública vinha se mostrando compreensiva: 64% dos entrevistados opinavam que esses deslizes não necessitariam a renúncia do premiê.


Com agências internacionais


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