|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORIENTE MÉDIO
Pesquisas de popularidade e resultado negativo em eleições municipais refletem fracasso no combate ao terrorismo
Sharon perde apoio, e Likud perde eleição
STEPHANIE LE BARS
DO "LE MONDE", EM JERUSALÉM
Pesquisas indicavam que o Likud (conservador) -partido do
premiê israelense, Ariel Sharon-
deveria ser o principal perdedor
nas eleições municipais realizadas
ontem em Israel, que foram marcadas por uma elevada abstenção
-apenas 41% dos eleitores votaram. A expectativa era de queda
no número de prefeituras e de cadeiras nas câmaras municipais
nas mãos do partido.
Já Partido Trabalhista, o principal da oposição, deveria aumentar seu poder na esfera municipal
ontem, após uma de suas maiores
derrotas nas eleições parlamentares de janeiro deste ano.
Pela primeira vez desde que
chegou ao poder, em fevereiro de
2001, Sharon vem sendo alvo de
críticas vindas de seu próprio partido, da esquerda e da imprensa.
Mesmo a opinião pública, que até
agora o apoiava, parece começar a
duvidar do premiê.
De acordo com uma sondagem
publicada no último dia 10 no jornal "Maariv", apenas 36% dos entrevistados consideram positivo o
histórico de realizações de Sharon, enquanto 54% anunciaram
opinião extremamente negativa
sobre ele. Após três anos de grande apoio popular, 55% dos israelenses se dizem hoje convencidos
de que "Sharon não sabe como
combater o terror".
A segurança ainda é a principal
preocupação da população, e o líder de direita se elegeu justamente com a promessa de trazer paz e
segurança ao país, abalado por
três anos de revolta palestina contra a ocupação israelense, iniciada
em 1967.
Segundo analistas, a queda de
popularidade, iniciada há pouco
mais de um mês, sugere a possibilidade de Sharon não chegar ao
fim de seu mandato de quatro
anos.
Os sinais nesse sentido vêm
principalmente do Likud, onde
vários de seus ministros se autoproclamaram candidatos a sucessores de Sharon. Em setembro, a
votação do Orçamento gerou
uma primeira tentativa de revolta:
três membros do Likud e pretendentes à sucessão (o vice-premiê,
Ehud Olmert, o ministro da Defesa, Shaul Mofaz, e o ministro da
Educação, Limor Livnat) votaram
contra o Orçamento, defendido
por Binyamin Netanyahu, ministro das Finanças e outro potencial
sucessor de Sharon.
As desavenças no interior do
governo -que tem partidos de
extrema direita e forças mais moderadas- com relação à construção da barreira entre Israel e a Cisjordânia, ao destino do presidente
da ANP (Autoridade Nacional
Palestina), Iasser Arafat, e à conveniência do bombardeio de um
campo na Síria em represália a
um atentado em Israel também
reforçaram essa impressão.
Essas disputas por influência
certamente não teriam o mesmo
impacto se o governo pudesse
apresentar avanços reais. Mas a
situação econômica de Israel
nunca esteve tão degradada
quanto hoje. As greves no setor
público se multiplicam há várias
semanas. O desemprego pode alcançar índice recorde até o final
do ano, e os cortes no Orçamento
2004 correm o risco de ter consequências pesadas para as famílias
de renda mais baixa.
No que diz respeito à segurança,
os atentados regulares só fazem
lembrar aos israelenses que a chamada "cerca de segurança", a presença militar israelense nos territórios ocupados e os assassinatos
de dirigentes de grupos palestinos
não trazem a garantia de segurança total prometida por Sharon.
A essas críticas políticas e dificuldades sociais é preciso ainda
acrescentar os tropeços pessoais
de Ariel Sharon. O premiê deve
ser ouvido pela polícia nesta semana sobre dois escândalos relativos ao pagamento de propinas
nos quais ele próprio foi implicado, juntamente com seus filhos.
Apesar dos desmentidos do pai
e do silêncio dos filhos, 69% dos
israelenses acreditam que os Sharon têm alguma coisa a esconder.
Até agora a opinião pública vinha
se mostrando compreensiva: 64%
dos entrevistados opinavam que
esses deslizes não necessitariam a
renúncia do premiê.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Casa Branca exorta Síria e Irã a "cuidar" de fronteiras Próximo Texto: Arafat pede a Korei que siga como premiê Índice
|