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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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EUA se isolam, afirma pesquisador

DA REPORTAGEM LOCAL

John Zogby é o presidente do instituto que, pelo segundo ano consecutivo, mensurou as opiniões da elite em seis países latino-americanos. A seu ver, os EUA são vistos como parceiros comerciais menos confiáveis, e a administração Bush como partidária da ação solitária no plano internacional, o que dispensa alianças.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha. (JBN)
 

Folha - Como explicar uma opinião tão desfavorável a Bush nas elites latino-americanas?
John Zogby -
Creio que há uma combinação da imagem negativa do presidente com a percepção das elites quanto a seus próprios interesses. Os Estados Unidos não são vistos como um bom parceiro comercial, um parceiro no qual se pode confiar. No passado, a América Latina foi uma região importante para a diplomacia norte-americana. Hoje prevalece a impressão de que ela foi relegada a um plano secundário.

Folha - Em razão da prioridade dada ao terrorismo?
Zogby -
Exatamente.

Folha - Há nas elites a percepção de que os latino-americanos não têm nada a ver com o Iraque?
Zogby -
O assunto não é sentido dessa forma apenas pelos latino-americanos, mas também na Europa, por aliados históricos dos Estados Unidos. A percepção é de que o modelo da administração Bush consiste em desenvolver políticas solitárias, com ou sem apoio de outros países.

Folha - Não há um paradoxo no fato de Lula ser mais bem avaliado que o argentino Kirchner, quando é este último que tromba de forma mais contundente com os EUA?
Zogby -
Em nossa pesquisa do ano passado, Lula estava em campanha. As elites temiam que ele desse uma guinada para a esquerda e governasse com os sindicatos. Se fizesse isso, ele estaria ao mesmo tempo enviando uma mensagem em que serviria de exemplo para o resto do hemisfério. A elites hoje estão convencidas de que Lula é um moderado. É inevitável que haja surpresa e efeito de alívio que repercute em sua avaliação.

Folha - E no caso do presidente argentino?
Zogby -
O sentimento por lá é outro. A crença é a de que o país chegou tão ao fundo de seu poço que, a partir de agora, as coisas poderão apenas melhorar.

Folha - Então o bode expiatório da pesquisa se tornou, afinal, Hugo Chávez, da Venezuela?
Zogby -
Se nós tivéssemos entrevistado pessoas do povo é provável que os resultados teriam sido outros. Mas o perfil de nossos entrevistados corresponde majoritariamente ao de pessoas que se opõem ao presidente venezuelano. Isso deve ser levado em conta para interpretar o resultado amplamente desfavorável que ele agora registra.


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