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EUA se isolam, afirma pesquisador
DA REPORTAGEM LOCAL
John Zogby é o presidente do
instituto que, pelo segundo ano
consecutivo, mensurou as opiniões da elite em seis países latino-americanos. A seu ver, os EUA
são vistos como parceiros comerciais menos confiáveis, e a administração Bush como partidária
da ação solitária no plano internacional, o que dispensa alianças.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
(JBN)
Folha - Como explicar uma opinião tão desfavorável a Bush nas
elites latino-americanas?
John Zogby - Creio que há uma
combinação da imagem negativa
do presidente com a percepção
das elites quanto a seus próprios
interesses. Os Estados Unidos não
são vistos como um bom parceiro
comercial, um parceiro no qual se
pode confiar. No passado, a América Latina foi uma região importante para a diplomacia norte-americana. Hoje prevalece a impressão de que ela foi relegada a
um plano secundário.
Folha - Em razão da prioridade
dada ao terrorismo?
Zogby - Exatamente.
Folha - Há nas elites a percepção
de que os latino-americanos não
têm nada a ver com o Iraque?
Zogby - O assunto não é sentido
dessa forma apenas pelos latino-americanos, mas também na Europa, por aliados históricos dos
Estados Unidos. A percepção é de
que o modelo da administração
Bush consiste em desenvolver políticas solitárias, com ou sem
apoio de outros países.
Folha - Não há um paradoxo no
fato de Lula ser mais bem avaliado
que o argentino Kirchner, quando é
este último que tromba de forma
mais contundente com os EUA?
Zogby - Em nossa pesquisa do
ano passado, Lula estava em campanha. As elites temiam que ele
desse uma guinada para a esquerda e governasse com os sindicatos. Se fizesse isso, ele estaria ao
mesmo tempo enviando uma
mensagem em que serviria de
exemplo para o resto do hemisfério. A elites hoje estão convencidas de que Lula é um moderado. É
inevitável que haja surpresa e efeito de alívio que repercute em sua
avaliação.
Folha - E no caso do presidente
argentino?
Zogby - O sentimento por lá é
outro. A crença é a de que o país
chegou tão ao fundo de seu poço
que, a partir de agora, as coisas
poderão apenas melhorar.
Folha - Então o bode expiatório
da pesquisa se tornou, afinal, Hugo
Chávez, da Venezuela?
Zogby - Se nós tivéssemos entrevistado pessoas do povo é provável que os resultados teriam sido
outros. Mas o perfil de nossos entrevistados corresponde majoritariamente ao de pessoas que se
opõem ao presidente venezuelano. Isso deve ser levado em conta
para interpretar o resultado amplamente desfavorável que ele
agora registra.
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