São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Líder palestino diz que ninguém o substituirá agora, mas "velha guarda" e jovens já almejam a liderança

Disputa por vaga de Arafat se intensifica

Goran Tomasevic/Reuters
Palestinos caminham diante do QG (Muqata) de Iasser Arafat, em Ramallah, de onde o líder palestino seria transferido de helicóptero para Amã de madrugada

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, determinou, por meio de assessores próximos, que não deve ser designada nenhuma pessoa para substituí-lo interinamente enquanto ele estiver realizando tratamento na França.
"Não há substituto. A ANP será governada como sempre foi", disse Nabil Abu Rudeinah, porta-voz do líder palestino. A declaração desmente informações que circularam anteontem de que teria sido criado um triunvirato para assumir o poder temporariamente.
Mas, apesar de as autoridades palestinas insistirem em negar, informações que circulavam ontem na imprensa israelense e entre especialistas em Oriente Médio indicavam que as discussões e as disputas para saber quem será o substituto de Arafat no comando palestino se intensificaram.
Segundo a lei fundamental dos palestinos, caso Arafat morra ou fique incapacitado, o cargo de presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) seria do presidente do Conselho Legislativo Palestino, Rawhi Fattouh, por um período de 60 dias, quando então deveriam ser convocadas eleições para escolher o novo líder.
Porém, segundo o cientista político israelense Gershon Baskin, diretor do Centro Israelo-Palestino de Pesquisa e Informação em Jerusalém, Fattouh é uma figura secundária, sem força para se impor entre os palestinos.
A saída mais óbvia seria a formação do tal triunvirato que, por enquanto, não passa de especulação. Os nomes que fariam parte dessa tríade, além de Fattouh, seriam o do atual premiê, Ahmed Korei, e o seu antecessor, Mahmoud Abbas, também conhecido como Abu Mazen, que hoje é o número dois da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) -entidade com enorme importância no cenário palestino.
Os dois fazem parte do que é conhecido como a "velha guarda" palestina e são contemporâneos de Arafat no exílio. Abbas inclusive é um dos fundadores do Fatah com Arafat nos anos 60.
Apesar de serem influentes politicamente e serem considerados moderados por Israel e EUA, Abbas e Korei não são tão populares, além de estarem longe possuir o carisma e a importância histórica de Arafat. "Não há ninguém à altura de Arafat na política palestina", disse à Folha a israelense Rutie Adler, especialista em Oriente Médio da UCLA, na Califórnia.
Arafat nunca escolheu um sucessor e sempre barrou todas as lideranças que quiseram enfrentá-lo. Abbas deixou o cargo de premiê após perceber que não teria como assumir o controle da segurança palestina -conforme exigiam os acordos de Ácaba, em 2003, que obrigavam a transferência dos poderes do líder palestino para o então premiê.

Jovens
Além da "velha guarda", existem as jovens lideranças, cujas principais figuras são o ex-chefe da segurança palestina na faixa de Gaza Mohammed Dahlan e o líder do Fatah na Cisjordânia, Marwan Barghouti, hoje preso em Israel sob a acusação de envolvimento com o terrorismo.
Barghouti é, de acordo com pesquisas, o segundo palestino mais popular, depois de Arafat. No passado, foi visto como um moderado, mas agora os israelenses o vêem como um aliado do terrorismo. Não há no curto prazo a menor possibilidade de que Israel o liberte da prisão, o que inviabiliza a sua chegada ao poder.
Dahlan é popular entre os seguidores do Fatah em Gaza, além de ser um dos poucos palestinos que tiveram coragem de enfrentar Arafat. Respeitado por Israel, é visto como um dos poucos capazes de ter o controle sobre a segurança palestina. "Mas as suas forças são muito limitadas", diz o cientista político Baskin à Folha.
Por outro lado, Dahlan é um ponto de ligação com a "velha guarda", devido às suas boas relações com Abbas -a presença dele no governo foi o principal motivo do racha entre o ex-premiê e Arafat. "Dahlan certamente pode ficar mais forte sem Arafat e com o possível retorno de Abu Mazen [Abbas] ao centro de poder", disse o diretor do centro israelo-palestino.
Fora do cenário laico, onde se concentra tanto a "velha guarda" como os jovens lideranças, está o Hamas e os outros grupos extremistas islâmicos palestinos -ligados ou não ao terrorismo.
Porém o Hamas está sem um comando forte desde que Israel matou os seus dois principais líderes, o xeque Ahmed Yassin e Abdel Aziz Rantisi, na primeira metade deste ano. O grupo hoje é liderado por Khaled Meshaal, que vive na Síria.
Independentemente de quem esteja na frente da disputa pela liderança, analistas concordam que, enquanto Arafat estiver vivo, a sua figura estará acima de todos palestinos. Descartando outro líder, Hanan Ashrawi, proeminente parlamentar palestina, disse: "Arafat é um homem que, como gostamos de dizer, é maior do que a vida em muitos sentidos".

Com agências internacionais


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