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Ausência do palestino
muda política de Israel
MICHEL GAWENDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE TEL AVIV
A ausência de Iasser Arafat no
comando palestino impõe uma
mudança drástica na política de
Israel, coloca um ponto de interrogação sobre o futuro do plano
de retirada de Gaza do primeiro-ministro Ariel Sharon e reúne, pelo menos em teoria, a esquerda e a
direita do país em torno de propostas de reabertura de negociações com os palestinos.
O governo de Israel sustenta
que Arafat é o obstáculo para a
paz e que nunca deixou de ser um
terrorista. Sharon afirma que o
país foi obrigado a adotar políticas unilaterais, como a retirada de
Gaza, por não ter um parceiro de
negociação.
Durante meses a liderança militar e política de Israel debateu como matar ou expulsar Arafat dos
territórios palestinos.
Agora, com o presidente da Autoridade Nacional Palestina fora
do poder sem interferência direta
israelense, as medidas unilaterais
não seriam mais necessárias e as
portas para as negociações voltariam a ser abertas.
O governo de Sharon e a oposição ao primeiro-ministro -tanto
dentro quanto fora da sua coalizão- concordam com isso.
Com a chance de retomada de
negociações, o roteiro para a paz,
apoiado pela comunidade internacional, mas engavetado por
Sharon, poderia voltar à agenda
política e ofuscar a proposta de retirada de Gaza.
O Avodá (Partido Trabalhista),
o maior da oposição, mas que
aderiu à proposta do primeiro-ministro e salvou Sharon da derrota na votação do plano de Gaza
nesta semana no Parlamento,
passará a exigir a volta das negociações com os palestinos como
preço para manter o apoio ao ex-general. E o roteiro para a paz é a
opção predileta da oposição trabalhista.
O chanceler de Israel, Silvan
Shalom, integrante do grupo de
rebeldes do partido de Sharon, o
Likud, apressou-se em sair à mídia na quinta-feira e afirmou que
agora o projeto de Gaza deve ser
revisto e realizado por meio de
negociações, mas somente com
uma eventual liderança palestina
moderada. "Nada pode ser pior
do que Arafat", disse Shalom à televisão de Israel.
Os partidos nacionalistas religiosos da coalizão do governo
Sharon, que são contra a devolução de qualquer território aos palestinos, tratam o afastamento de
Arafat como ferramenta para refutar o fim dos assentamentos de
Gaza.
Eli Yishai, presidente da legenda
ortodoxa Shas, pediu publicamente o congelamento da iniciativa de Gaza, também usando o
argumento de que a medida não
pode seguir adiante antes que Israel saiba quem assumirá o controle político entre os palestinos.
A visão do presidente do partido da coalizão de esquerda Iachad-Meretz, Yossi Beilin, co-autor do plano alternativo de paz conhecido como Iniciativa de Genebra, também é a de que israelenses e palestinos têm agora uma
chance de voltar a conversar. Para
ele, o afastamento de Arafat tirou
o "álibi" que Sharon usava até
agora para negar o debate.
Beilin tenta com isso aproveitar
a brecha política e devolver o
campo da esquerda ao cenário. O
grupo continua isolado e sem poder eleitoral, mas agora tem mais
esperança de ganhar espaço se a
diplomacia voltar aos trilhos.
O debate no momento em Israel
é sobre o futuro das políticas de
governo diante de um substituto
moderado para Arafat.
Mas, caso a saída do líder provoque conflito armado e mais
caos entre os palestinos, as decisões vão escapar dos políticos e
voltarão para as mãos dos generais de Israel.
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