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IRAQUE SOB TUTELA
Levantamento publicado pela revista "Lancet" diz que a maioria dos mortos é formada por mulheres e crianças
Guerra matou 100 mil civis, diz estudo
DA REDAÇÃO
Um estudo publicado ontem
estima que 100 mil pessoas tenham morrido a mais no Iraque
nos 18 meses desde o início da invasão liderada pelos EUA do que
se poderia prever a partir de estatísticas anteriores à guerra.
Não há números oficiais sobre o
número de civis mortos desde
que o conflito começou, mas estimativas de organizações não-governamentais variavam de 10 mil
a 30 mil. Segundo o Departamento da Defesa dos EUA, 1.081 militares morreram até quarta-feira.
Concebido e coordenado por
pesquisadores das universidades
Columbia (Nova York), Johns
Hopkins (Baltimore) e Al Mustansiriya (Bagdá), o estudo foi publicado ontem no site da revista
acadêmica especializada em artigos médicos "Lancet".
"A maior parte dos indivíduos
mortos por forças da coalizão
eram mulheres e crianças", afirmaram os pesquisadores.
O artigo foi publicado poucos
dias antes da eleição presidencial
nos EUA. Segundo o coordenador da pesquisa, Les Roberts, o
"timing" foi proposital.
"Enviei o artigo em 30 de setembro, autorizando a publicação
contanto que ocorresse antes da
eleição", disse. "Minha motivação
não era influenciar o resultado da
eleição. Meu raciocínio foi o de
que, se o estudo saísse durante a
campanha, ambos os candidatos
seriam forçados a prometer proteger a vida de civis no Iraque."
Richard Peto, especialista em
metodologia científica que não
esteve envolvido no estudo, disse
que o método usado pelos cientistas, de amostragem aleatória por
grupos, é plausível para o fim a
que se propõe.
No estudo, pesquisadores visitaram 33 bairros em todo o Iraque
em setembro e selecionaram aleatoriamente grupos de 30 domicílios. Dos 988 domicílios visitados,
808 -compreendendo 7.868 pessoas- concordaram em participar. Em cada um deles, os entrevistadores perguntaram quantas
pessoas viviam no local e quantas
mortes e nascimentos haviam
ocorrido desde janeiro de 2002.
Os cientistas compararam então as taxas de mortalidade nos 15
meses anteriores à invasão com as
taxas durante os 18 meses subseqüentes. Os números foram ajustados, pois um dos períodos é
mais longo.
Apesar de a amostra parecer pequena, esse tipo de estudo é bem
aceito por cientistas e já foi usado
para calcular o número de mortos
na guerra em Kosovo.
As causas mais comuns de morte antes da invasão do Iraque
eram ataques cardíacos, derrames
e doenças crônicas. Depois do início da guerra, a violência passou a
ser a principal causa de mortes. E
95% dos episódios de violência fatal foram ataques por bomba ou
tiros disparados de helicópteros,
atribuídos pelos entrevistados à
coalizão liderada pelos EUA.
Os pesquisadores pedem no artigo que órgãos independentes
como o Comitê Internacional da
Cruz Vermelha (CICV) ou a Organização Mundial da Saúde analisem os resultados para corroborá-los ou não.
Procurado pela Folha, Michel
Minnig, representante do CICV
no Brasil, disse que a entidade
"não está em posição de comentar estimativas sobre o número
total de civis mortos no Iraque".
Explosivos desaparecidos
O secretário da Defesa dos EUA,
Donald Rumsfeld, disse ontem
que considera "muito provável"
que as cerca de 350 toneladas de
explosivos que desapareceram no
Iraque tenham sido removidas
antes da guerra pelo ex-ditador
Saddam Hussein. "A idéia de que
tenham sido saqueadas é muito
discutível. É muito provável que
Saddam Hussein tenha trocado
os explosivos de lugar quando
compreendeu que a guerra se
aproximava."
Já a rede de TV ABC exibiu gravação em vídeo que aparentemente confirma que os explosivos
desapareceram depois que os
EUA assumiu o controle do depósito em que estavam. Segundo a
TV, o vídeo mostrado foi gravado
em 18 de abril do ano passado por
uma emissora afiliada que estava
embutida junto a uma tropa do
Exército. A TV entrevistou especialistas que estudaram as imagens e disseram que os contêineres selados com marcas da ONU
tinham o explosivo HMX.
Também ontem, a ONU e a
ONG Human Rights Watch disseram ter alertado os EUA a respeito da vulnerabilidade dos locais
em que estavam armazenados explosivos do regime de Saddam.
Com agências internacionais
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