São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Levantamento publicado pela revista "Lancet" diz que a maioria dos mortos é formada por mulheres e crianças

Guerra matou 100 mil civis, diz estudo

DA REDAÇÃO

Um estudo publicado ontem estima que 100 mil pessoas tenham morrido a mais no Iraque nos 18 meses desde o início da invasão liderada pelos EUA do que se poderia prever a partir de estatísticas anteriores à guerra.
Não há números oficiais sobre o número de civis mortos desde que o conflito começou, mas estimativas de organizações não-governamentais variavam de 10 mil a 30 mil. Segundo o Departamento da Defesa dos EUA, 1.081 militares morreram até quarta-feira.
Concebido e coordenado por pesquisadores das universidades Columbia (Nova York), Johns Hopkins (Baltimore) e Al Mustansiriya (Bagdá), o estudo foi publicado ontem no site da revista acadêmica especializada em artigos médicos "Lancet".
"A maior parte dos indivíduos mortos por forças da coalizão eram mulheres e crianças", afirmaram os pesquisadores.
O artigo foi publicado poucos dias antes da eleição presidencial nos EUA. Segundo o coordenador da pesquisa, Les Roberts, o "timing" foi proposital.
"Enviei o artigo em 30 de setembro, autorizando a publicação contanto que ocorresse antes da eleição", disse. "Minha motivação não era influenciar o resultado da eleição. Meu raciocínio foi o de que, se o estudo saísse durante a campanha, ambos os candidatos seriam forçados a prometer proteger a vida de civis no Iraque."
Richard Peto, especialista em metodologia científica que não esteve envolvido no estudo, disse que o método usado pelos cientistas, de amostragem aleatória por grupos, é plausível para o fim a que se propõe.
No estudo, pesquisadores visitaram 33 bairros em todo o Iraque em setembro e selecionaram aleatoriamente grupos de 30 domicílios. Dos 988 domicílios visitados, 808 -compreendendo 7.868 pessoas- concordaram em participar. Em cada um deles, os entrevistadores perguntaram quantas pessoas viviam no local e quantas mortes e nascimentos haviam ocorrido desde janeiro de 2002.
Os cientistas compararam então as taxas de mortalidade nos 15 meses anteriores à invasão com as taxas durante os 18 meses subseqüentes. Os números foram ajustados, pois um dos períodos é mais longo.
Apesar de a amostra parecer pequena, esse tipo de estudo é bem aceito por cientistas e já foi usado para calcular o número de mortos na guerra em Kosovo.
As causas mais comuns de morte antes da invasão do Iraque eram ataques cardíacos, derrames e doenças crônicas. Depois do início da guerra, a violência passou a ser a principal causa de mortes. E 95% dos episódios de violência fatal foram ataques por bomba ou tiros disparados de helicópteros, atribuídos pelos entrevistados à coalizão liderada pelos EUA.
Os pesquisadores pedem no artigo que órgãos independentes como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) ou a Organização Mundial da Saúde analisem os resultados para corroborá-los ou não.
Procurado pela Folha, Michel Minnig, representante do CICV no Brasil, disse que a entidade "não está em posição de comentar estimativas sobre o número total de civis mortos no Iraque".

Explosivos desaparecidos
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse ontem que considera "muito provável" que as cerca de 350 toneladas de explosivos que desapareceram no Iraque tenham sido removidas antes da guerra pelo ex-ditador Saddam Hussein. "A idéia de que tenham sido saqueadas é muito discutível. É muito provável que Saddam Hussein tenha trocado os explosivos de lugar quando compreendeu que a guerra se aproximava."
Já a rede de TV ABC exibiu gravação em vídeo que aparentemente confirma que os explosivos desapareceram depois que os EUA assumiu o controle do depósito em que estavam. Segundo a TV, o vídeo mostrado foi gravado em 18 de abril do ano passado por uma emissora afiliada que estava embutida junto a uma tropa do Exército. A TV entrevistou especialistas que estudaram as imagens e disseram que os contêineres selados com marcas da ONU tinham o explosivo HMX.
Também ontem, a ONU e a ONG Human Rights Watch disseram ter alertado os EUA a respeito da vulnerabilidade dos locais em que estavam armazenados explosivos do regime de Saddam.


Com agências internacionais


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