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Avanço de rebeldes faz ONU e Exército recuarem no Congo
Grupo diz ter tomado cidade e cercado capital provincial; 30 mil civis deixam região
Conflito, cujo cessar-fogo de janeiro foi violado há 2 meses, opõe etnia tutsi a governo e a milícias hutus e está ligado a genocídio de 1994 em Ruanda
DA REDAÇÃO
As forças de paz da ONU e o
Exército da República Democrática do Congo recuavam ontem de suas posições no extremo leste do país à medida que
rebeldes liderados pelo general
renegado Laurent Nkunda se
aproximavam de Goma. Cerca
de 30 mil civis chegaram em
questão de horas ao campo de
refugiados de Kibati, da ONU,
10 km ao norte da cidade.
À noite, o porta-voz dos rebeldes, Bertrand Bisimwa, afirmou à Reuters que a cidade de
Rutshuru, a 100 km de Goma,
havia sido tomada. "A situação
é muito séria. Teremos que sair
daqui", tinha dito o comandante militar da região algumas horas antes. Da capital, Kinshasa,
o porta-voz da Monuc (missão
da ONU no país), Alan Doss,
não confirmou a informação.
Segundo Bisimwa, os rebeldes cercaram Goma, que, com
600 mil habitantes, é a capital
da província de Kivu do Norte.
A informação também não foi
confirmada, mas tropas da Monuc realizavam ontem operações aéreas nas imediações da
cidade para impedir o avanço
dos homens de Nkunda e enfrentavam artilharia antiaérea.
O comissário da União Européia de ajuda humanitária,
Louis Michel, chega hoje para
uma "visita de urgência". Na segunda, em meio a ataques à
Monuc de civis frustrados com
a sua incapacidade de protegê-los, o comandante da missão, o
espanhol Vicente Díaz de Villegas, havia renunciado.
O conflito no ex-Zaire já dura
14 anos, entre dois períodos de
conflitos abertos (1996-1997 e
1998-2003) e frágeis acordos de
cessar-fogo, o último deles de
janeiro, e remete ao genocídio
de 1994 de Ruanda. Na ocasião,
cerca de 1 milhão de ruandeses,
a maioria da etnia tutsi, foi
morta por radicais hutus.
Após guerra civil em Ruanda
em que os tutsis tomaram o poder, hutus implicados na matança atravessaram a fronteira
e se reorganizaram em milícias
no leste congolês. O tutsi congolês Nkunda acusa o governo e
o Exército de apoiarem os hutus no país. Já o Congo acusa
Ruanda de apoiar os rebeldes.
Pelo cessar-fogo, rompido
em agosto, a Monuc, com 17 mil
homens, deveria patrulhar uma
zona-tampão na região conflagrada, que Nkunda diz ter sido
entregue às milícias. Estima-se
que 250 mil tenham se refugiado desde então. Rebeldes, militares e mesmo soldados da
ONU são acusados de promover abusos contra a população.
O Congo, ex-colônia belga
com 66 milhões de habitantes,
é um dos países mais ricos em
recursos naturais da África, incluindo a região leste, que o governo de Joseph Kabila diz ser
alvo da cobiça de Ruanda. Entre 1998 e 2003, estima-se em
5,4 milhões os mortos, sobretudo por fome e moléstias.
Com agências internacionais
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