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análise
Projeto dos EUA era ampliar base
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nova Guantánamo?
Porta-aviões em terra, em
condições de intervir na
Colômbia e em outros países andinos. Foi como um
ex-chefe da Escola de
Guerra do Exército equatoriano, coronel reformado Fausto Cabo, definiu a
base militar de Manta, que
o Comando Sul dos EUA,
com sede na Flórida, mantém na costa norte do
Equador. Rafael Correa,
presidente eleito do Equador, disse que não renovará a concessão da base, que
vence em 2009.
A concessão foi dada em
1999, sem a necessária audiência do Congresso (por
tratar-se de assuntos territoriais), e o projeto original só tem se ampliado,
com a incorporação de pista em condições de receber aviões de transporte
de tropas. A idéia confessada é de apoio ao Plano
Colômbia, de combate ao
narcotráfico, o que significa envolvimento inevitável em operações de contra-insurgência. Ou de intervenções na guerra civil
colombiana.
Posições avançadas
Ambições de maior porte vinham se desenvolvendo "discretamente". Foram reveladoras as informações passadas ao "Financial Times", há cinco
anos, por um funcionário
da embaixada dos EUA em
Quito. As estacas iniciais já
continham a decisão de ultrapassar o acerto de 99. A
presença militar cresceria.
O "Financial Times"
deu a dimensão do projeto. Como parte do acordo
de devolução do canal, os
EUA entregaram suas instalações militares ao Panamá, e o Comando Sul, a
cargo da América Latina,
deslocou-se para a Flórida. Fez parte do espólio a
base Howard, ponta-de-lança na direção do nosso
continente. "De Howard,
no Panamá, podíamos
chegar ao Equador; não
mais distante, no entanto,
na direção sul", disse o diplomata americano.
Agora "estamos na área
todo o tempo, cabem
aventuras na direção do
Peru, da Colômbia e do Pacífico". Manta não é peça
isolada. É uma das quatro
"posições avançadas" do
Comando Sul. As outras
três ficam em Curaçao,
Aruba e El Salvador.
Os que encaram Manta
como possível nova Guantánamo argumentam com
a existência de concessões
que transformam a base,
na prática, em encrave militar. Militares americanos
em Manta têm imunidade
diplomática, não pagam
impostos e são portadores
de "licença para matar",
segundo seus adversários
mais radicais. O novo presidente do Equador promete acabar com isso, invocando o artigo 161 da
Constituição, que exige
aprovação do Congresso.
Será luta árdua.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
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