São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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análise

Projeto dos EUA era ampliar base

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nova Guantánamo? Porta-aviões em terra, em condições de intervir na Colômbia e em outros países andinos. Foi como um ex-chefe da Escola de Guerra do Exército equatoriano, coronel reformado Fausto Cabo, definiu a base militar de Manta, que o Comando Sul dos EUA, com sede na Flórida, mantém na costa norte do Equador. Rafael Correa, presidente eleito do Equador, disse que não renovará a concessão da base, que vence em 2009.
A concessão foi dada em 1999, sem a necessária audiência do Congresso (por tratar-se de assuntos territoriais), e o projeto original só tem se ampliado, com a incorporação de pista em condições de receber aviões de transporte de tropas. A idéia confessada é de apoio ao Plano Colômbia, de combate ao narcotráfico, o que significa envolvimento inevitável em operações de contra-insurgência. Ou de intervenções na guerra civil colombiana.

Posições avançadas
Ambições de maior porte vinham se desenvolvendo "discretamente". Foram reveladoras as informações passadas ao "Financial Times", há cinco anos, por um funcionário da embaixada dos EUA em Quito. As estacas iniciais já continham a decisão de ultrapassar o acerto de 99. A presença militar cresceria.
O "Financial Times" deu a dimensão do projeto. Como parte do acordo de devolução do canal, os EUA entregaram suas instalações militares ao Panamá, e o Comando Sul, a cargo da América Latina, deslocou-se para a Flórida. Fez parte do espólio a base Howard, ponta-de-lança na direção do nosso continente. "De Howard, no Panamá, podíamos chegar ao Equador; não mais distante, no entanto, na direção sul", disse o diplomata americano.
Agora "estamos na área todo o tempo, cabem aventuras na direção do Peru, da Colômbia e do Pacífico". Manta não é peça isolada. É uma das quatro "posições avançadas" do Comando Sul. As outras três ficam em Curaçao, Aruba e El Salvador.
Os que encaram Manta como possível nova Guantánamo argumentam com a existência de concessões que transformam a base, na prática, em encrave militar. Militares americanos em Manta têm imunidade diplomática, não pagam impostos e são portadores de "licença para matar", segundo seus adversários mais radicais. O novo presidente do Equador promete acabar com isso, invocando o artigo 161 da Constituição, que exige aprovação do Congresso.
Será luta árdua.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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