São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Déficit social continua

do enviado especial

Se há um reconhecido déficit democrático no Chile, mesmo após oito anos do fim do ciclo autoritário, ficou igualmente um segundo déficit, o social.
É verdade que os dois governos democráticos (o de Patrício Aylwin, de 90 a 94, e o de Eduardo Frei, daí em diante, ambos democrata-cristãos) fizeram um enorme esforço para reduzir a pobreza.
A ditadura deixou 3,4 milhões de pobres (renda mensal de até US$ 60) e 2 milhões de indigentes (renda de US$ 30 por mês). Total: 5,4 milhões ou 41,7% da população da época.
Hoje, pobres e indigentes são pouco mais de 25%, ainda assim um número elevado, em especial para um país que manteve, na sua estabilidade democrática pré-golpe de 73, um padrão de desigualdade social menos agudo que o da maioria de seus vizinhos.
Recente relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento considera "exagerada" a brecha entre ricos e pobres, classificação idêntica à do Brasil, de conhecido apartheid social.
De fato, os 10% mais ricos entre os chilenos ficam com 46% da renda nacional, deixando os 54% restantes para dividir entre a grande maioria (90%).
A participação dos salários na renda chilena chegou a 66% em 71, primeiro ano completo do governo de Salvador Allende, deposto por Pinochet. Hoje, não vai além de 40%.
Frei, indiretamente, aceitou a existência do déficit social, ao assumir como slogan de campanha eleitoral "crescimento com equidade". Crescimento houve, com Aylwin antes e com Frei agora: a média anual dos oito anos de democracia foi de quase 8%.
Equidade nem tanto. Pior: a crise internacional e problemas estruturais da economia chilena provocaram uma forte desaceleração da atividade econômica. O crescimento previsto para este ano não irá além de 4,8%. É muito, se comparado com o magro desempenho previsto para o Brasil. Mas é pouco para o padrão chileno e para ajudar a reduzir o déficit social. (CR)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.