São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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Governo teme que a crise estenda-se à economia

do enviado especial

A crise financeira internacional e seus desdobramentos fizeram mais dano à economia chilena que os problemas políticos decorrentes da detenção em Londres do general Augusto Pinochet.
Mas o ministro da Fazenda chileno, Eduardo Aninat, avisa que essa situação só se manterá se a questão Pinochet se resolver em "tempo moderado".
"Se se prolongar, haverá um custo econômico a pagar", diz o ministro, na forma da retração dos investidores estrangeiros.
Até agora, a retração foi apenas dos investidores em papéis. Os investimentos diretos (na produção de bens e/ou serviços) até aumentaram, calcula o Banco Central.
Há, na equipe econômica do governo, quem seja até mais pessimista que Aninat. A Folha ouviu a avaliação de que, se o caso Pinochet se prolongar, "será absolutamente desestabilizador tanto na política como na economia".
Na oposição, a expectativa é a de que o quadro econômico será suficiente para provocar efeitos desestabilizadores mesmo sem o cruzamento com a crise política provocado pelo episódio Pinochet.
"Vem por aí uma situação econômica delicada e isso derruba os ânimos. Quando as pessoas não têm trabalho, tendem à polarização. Os próximos anos não serão fáceis", diz, por exemplo, a senadora pinochetista Evelyn Matthei, mulher do general Fernando Matthei, que foi o último comandante da Força Aérea no regime militar.
O desemprego de fato está crescendo: subiu em outubro para 6,9% da força de trabalho, um crescimento de quase 10% sobre os índices do ano passado.
E só tende a crescer mais, porque a economia está se desacelerando. Em 1997, o Chile cresceu 7,1%, um índice asiático (dos bons tempos), mas, este ano, não chegará a 5%.
Para 99, o Orçamento elaborado em setembro previa um crescimento menor ainda (3,8%), mas o próprio Banco Central admite que esse índice se tornou algo otimista em face da conjuntura internacional adversa.
O Chile tem na Ásia um de seus principais mercados, no qual desovou 37% de suas exportações em 97. Com a crise naquela área, as vendas para o mercado asiático se reduziram, este ano, até outubro, em 36% em comparação com janeiro/outubro do ano anterior.
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Ânimo afetado É natural que o ânimo dos chilenos se veja afetado, até porque "as pessoas davam como certo que a economia cresceria para sempre 7% ou 8% ao ano", como diz o senador democrata-cristão Alejandro Foxley, ex-ministro de Finanças chileno.
O caso Pinochet só acrescenta más notícias a um cenário já menos positivo.
Mas, até agora, não afetou os mercados financeiros: o dólar, por exemplo, habitual refúgio para momentos de turbulência, fechou sexta-feira apenas 45 centavos de peso mais caro, menos de 0,1% acima da abertura de quarta-feira, o dia em que Pinochet perdeu na Câmara dos Lordes. (CR)



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