São Paulo, domingo, 29 de novembro de 1998

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MULTIMÍDIA
El País

Cuba suspende venda de "revistas de fofocas'

de Madri

MAURICIO VICENT
em Havana

Há duas semanas, "Hola!" e mais meia dúzia de outras revistas femininas desapareceram das recepções dos hotéis e das agências dos correios de Havana. Motivo: sua "banalidade e espírito consumista" não combinam com o espírito da revolução cubana.
O fato pegou de surpresa tanto os funcionários quanto os clientes que costumavam comprar esse tipo de revista -em sua maioria estrangeiros, mas também cubanos-, pois as chamadas "revistas de fofocas" vinham sendo vendidas livremente nos pontos turísticos da capital, ao lado da imprensa séria como a "Time", o "El País" e o "Financial Times".
Como um presságio do que estava por acontecer, alguns dias antes do misterioso desaparecimento de "Hola!" -publicação semelhante à brasileira "Caras"- alguém mandou recolher das agências dos correios os romances de Corín Tellado, que eram vendidos com sucesso ao preço de US$ 1,30.
As revistas vetadas são as espanholas "Hola!", "Semana", "Pronto" e "Diez Minutos", assim como "Buen Hogar" e as edições mexicanas de "Vanidades" e "Cosmopolitan". No caso da "Elle", foi suspensa apenas a venda da edição em espanhol. A versão francesa continua sendo comercializada.
As vendas dessas revistas oscilavam entre cerca de cem exemplares semanais de "Hola!" (cujo preço ao público era de US$ 5,40, cerca de três vezes mais do que o preço na Espanha), e cerca de 350 exemplares de "Vanidades" (semanário vendido a US$ 5,90).
Os compradores dessas revistas eram sobretudo turistas, diplomatas e estrangeiros residentes em Cuba.
Só alguns poucos cubanos privilegiados as compravam. O salário de um trabalhador cubano é de aproximadamente 200 pesos mensais, o equivalente a US$ 10 ao câmbio oficial.
Apesar disso, as revistas acabavam chegando ao público cubano, por meio de amigos ou de "bancas de "Holas!' ", que alugavam números atrasados a preços módicos.
Até agora nenhuma instituição oficial explicou a suspensão das vendas. Ninguém explicou, tampouco, porque de duas semanas para cá só se pode vender o "El País" e outras publicações estrangeiras em hotéis e não mais em agências do correio.
A World Service Publications, empresa cubana que comercializa periódicos estrangeiros na ilha, limitou-se a dizer que se trata de uma suspensão temporária, mas sem divulgar razões ideológicas ou políticas para a proibição.
No mês passado, o semanário "Juventud Rebelde" publicou um longo artigo tecendo críticas aos romances de Corín Tellado e à tolerância de algumas instituições cubanas, que permitiram sua venda. "Devemos nos precaver contra regressões perigosas que possam resultar da imitação daquilo que o consumismo capitalista tem de pior e mais decadente."
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Tradução de Clara Allain



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