São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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INTERNET

Sites também articulam esforços de assistência às vítimas; para veterano da mídia online, ainda falta confiança

Blogs viram fonte instantânea de detalhes da tragédia

JOHN SCHWARTZ
DO "NEW YORK TIMES"

Para informações vívidas sobre a enorme zona de desastre causada pelo tsunami, os blogs são uma fonte difícil de superar.
A chamada "blogosfera", com seus diários pessoais publicados na Web, se tornou mais conhecida como fórum para discussões políticas virulentas e críticas à mídia. Mas a tecnologia oferece uma mídia imediatamente disponível para obter notícias instantâneas sobre o desastre causado pelo tsunami, e para organizar os esforços de assistência.
Podemos começar pela foto de um barco azul brilhante esmagado contra uma palmeira a beira-mar, em Jaffna, no Sri Lanka, em www.thiswayplease.com/extra.html. "Todas as casas e barcos de pesca foram destruídos, toda a extensão da costa leste", escreveu Fred Robart, que tirou e postou a foto. "Pessoas que conhecem e respeitam o mar agora falam dele em tom de choque, desespero e medo".
No sumankumar.com, Nanda Kishore, um dos responsáveis pelos posts, ofereceu fotos e comentários, de Chennai, Índia. "Homens e mulheres, velhos e crianças, todos correndo para salvar suas vidas. Foi uma cena horrível de se contemplar. Os trabalhadores das equipes de assistência não conseguiam cuidar dos mortos e dos vivos que iam encontrando. Os mortos foram abandonados onde caíram, e pessoas meio vivas, meio mortas foram carregadas para locais mais seguros".
Os posts de Kishore incluem a foto de um cadáver em uma calçada, com um búfalo caminhando ao lado. "A imagem parece profética agora", escreveu, "porque de acordo com a mitologia hindu, Lorde Yama [o deus da morte] cavalga um búfalo".
Os responsáveis por blogs que vivem na região são afetados pelos acontecimentos de maneira mais profunda que os jornalistas, os quais se transferem de um desastre para o próximo, disse Xeni Jardin, uma dos co-editores do BoingBoing.net, que conduz seus visitantes a muitos dos blogs que tomaram o desastre por tema.
"Eles estão nos ajudando a compreender o impacto desse evento de forma que nenhuma outra mídia poderia", afirma Jardin.
Isso faz dos blogs uma leitura atraente e no momento essencial, diz Siva Vaidhyanathan, professor-assistente de cultura e comunicação na Universidade de Nova York, ele mesmo responsável por um blog. Tão logo foi informado sobre o desastre, "comecei a recorrer aos blogs", disse.
"A idéia de que agora dispomos de olhos e ouvidos em todo o mundo é mais que algo a que nos acostumamos: tornou-se algo que exigimos", disse.
Os blogueiros da worldchanging.com, alguns dos quais vivem nos países atingidos, começaram a postar a respeito do desastre assim que as ondas atingiram a costa, e logo passaram a discutir maneiras de ajudar.
Blogueiros do sul da Ásia criaram o tsunamihelp.blogspot.com, para direcionar os interessados a sites de organizações assistenciais. "Não tinha visto esse nível de envolvimento, tanta gente dizendo que era possível fazer alguma coisa para ajudar, para promover a união", disse Alex Steffen, de Seattle, que edita a worldchanging.com. "É comovente, e inspirador".
Veterano da mídia online, Paul Saffo, diretor do Instituto for the Future, na Califórnia, disse, porém, que estava "um pouco decepcionado" com as informações providas pelos blogs. Saffo disse que, com o uso generalizado de câmeras digitais e acesso de banda larga, esperava ver mais vídeos da do desastre, e mais análise.
Os blogs que tratam do tsunami são "mais crus e mais imediatos", mas os posts ainda não oferecem o nível de confiança de que a mídia mais estabelecida desfruta. "Não existe ombudsman na blogosfera. Uma coisa não substituirá a outra, e as duas conviverão, o que é bom para ambas."


Tradução de Paulo Migliacci


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