São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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TRAGÉDIA NA ÁSIA

Segundo institutos da França e da Itália, o eixo de rotação da Terra foi alterado após a catástrofe, mas não deve afetar clima

Sismo mudou planeta, dizem cientistas

Kieran Doherty/Reuters
Casal recolhe pertences de destroços de sua casa no distrito de Mount Lavinia, no Sri Lanka


DA FRANCE PRESSE

O terremoto que atingiu o sudeste da Ásia e parte da África no domingo mudou o mapa do continente asiático e sacudiu levemente todo o planeta, além de ter alterado o eixo de rotação da Terra, afirmaram ontem cientistas.
Segundo Paul Tapponier, diretor do laboratório de análises tectônicas do Instituto de Física do Globo, da França, o abalo provocou um deslocamento de até 20 metros da crosta terrestre em certas áreas do Índico, o que equivale a dizer que ilhas inteiras "andaram" 20 metros no sentido sudeste de uma só vez.
"Baseando-se em modelos sísmicos, pode-se dizer que algumas ilhas menores no sudoeste de Sumatra podem ter avançado 20 metros em direção ao sudoeste", disse Ken Hudnut, do Serviço Geológico dos EUA. "O terremoto mudou o mundo", afirmou.
Para dar uma idéia do quão colossal é esse avanço em relação ao processo extremamente lento da movimentação das placas tectônicas, basta dizer que os continentes -que estão assentados sobre placas que flutuam no manto terrestre, como se boiassem em um líquido- se afastam ou se aproximam à razão de poucos centímetros por ano.
O terremoto, de 9 graus na escala Richter, "produziu 3 minutos e 20 segundos de vibração contínua, o que é colossal", afirmou o pesquisador francês.
Terremotos e vulcões sempre mudam a paisagem da Terra, de maneira sutil. É o movimento das placas tectônicas que produz todo o relevo da Terra. Mas erupções e abalos muito violentos, como o de domingo, causam alterações mais visíveis. No Alasca, em 1964, por exemplo, bancos de ostras que estavam submersos foram parar a 12 metros acima do nível do mar após um abalo de 9,1 graus na escala Richter.
A falha geológica entre as placas da Birmânia e da Índia, onde ocorreu o tremor, se deslocou 20 metros para sudeste ao longo de 40 quilômetros, afirmou Tapponier. Em outros 100 quilômetros da falha -que tem, no total, 400 quilômetros de extensão-, o deslocamento foi de 15 metros.
Segundo ele, houve ainda movimentos verticais que puderam alcançar, em certos setores, um ou dois metros -ou seja, o chão simplesmente afundou.
Tapponier disse, ainda, que houve pedaços de terra que se levantaram, como em Siberut, ilha a 100 km a oeste de Sumatra. A ponta nordeste da ilha pode ter "caminhado" 36 metros.
"É possível que, ao sul do Equador, algumas regiões de Sumatra tenham desaparecido totalmente", afirmou o francês.
"Tais catástrofes irradiam suficiente energia para dar um impulso à Terra", disse Tapponier.

Mudança no eixo
A Agência Espacial Italiana (AEI) afirmou ontem que o terremoto de fato alterou a inclinação do eixo de rotação da Terra. A afirmação foi feita com base em cálculos realizados por pesquisadores do Centro de Geodesia Espacial, em Matera, no sul da Itália.
Segundo a agência italiana, os cientistas calcularam que a mudança foi de cerca de 2 milésimos de segundo (um segundo, no caso, é uma "fatia" de uma circunferência), o equivalente a 5 a 6 centímetros em linha reta -o eixo terrestre é levemente inclinado.
A alteração foi constatada na direção do epicentro do terremoto, 250 km ao sudeste de Sumatra. Segundo análises preliminares, não foi detectado nenhum efeito na direção do meridiano de Greenwich.
"São resultados registrados até o meio-dia de terça-feira [ontem]", disse Giuseppe Bianco, porta-voz da AEI. "A análise dos dados continua de maneira que possamos obter confirmações a nossas observações, apesar de que estamos quase seguros da modificação", acrescentou.
Para Paul Tapponier, o que ocorreu foi uma sacudida "ínfima, como quando se dá um peteleco em um pião".
Os pesquisadores italianos também consideraram que a variação é pequena e que, por isso, não afetará o clima. "Para que isso ocorresse, a mudança teria de ter sido maior", disse Giuseppe Bianco, porta-voz da AEI.


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