São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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análise

Tensão cresce na região desde eleição nos EUA

TOBIAS BUCK
DO "FINANCIAL TIMES"

O ataque israelense à faixa de Gaza é a mais recente reviravolta sangrenta num ciclo de violência iniciado quase dois meses antes.
No início de novembro, Israel e o Hamas ingressavam no quinto mês de um cessar-fogo mediado pelo Egito que deveria vigorar até 19 de dezembro. A maioria das autoridades e dos analistas em Gaza e Israel previa uma extensão da trégua e talvez a inclusão da Cisjordânia.
Os dois lados se queixaram de que seu adversário violou os termos do acordo. O Hamas pedia a abertura dos postos de travessia da fronteira para permitir a entrada de alimentos, combustíveis e outros bens, e Israel lamentava os disparos esporádicos de foguetes e morteiros vindos de Gaza. Mas, para o 1,5 milhão de palestinos da faixa de Gaza e as centenas de milhares de israelenses das cidades vizinhas, até essa calma instável representava um alívio bem-vindo da violência aguda na qual a região mergulhara no início do ano.
Na noite de 4 de novembro, porém, quando Barack Obama celebrava sua vitória na eleição presidencial americana, Israel lançou uma operação em Gaza para destruir um túnel escavado por militantes do Hamas alegando que este era usado para o seqüestro de israelenses.
A incursão resultou na morte de seis militantes do Hamas, desencadeando uma resposta furiosa do grupo e uma saraivada de foguetes disparados a partir da faixa de Gaza. Ela marcou o início de uma escalada de ataques que em pouco tempo jogaram por terra quaisquer esperanças de alongar a trégua.
Tanto o Hamas quanto Israel declararam repetidamente seu interesse em devolver a calma à região da fronteira, mas a realidade em campo sugeriu que nenhum dos lados estava disposto a limitar sua ação por um período mais longo. O grupo islâmico -e grupos humanitários internacionais- também estava revoltado com a decisão de Israel de intensificar o bloqueio econômico a Gaza, que não demorou a provocar grave escassez de suprimentos essenciais.
Poucos dias antes do término do cessar-fogo, o Hamas acabou por declarar que não iria renová-lo. Na semana passada, o grupo e outros militantes sediados na faixa de Gaza dispararam um volume incomumente grande de foguetes e morteiros contra Israel, apesar de avisos repetidos do governo israelense de que uma ofensiva era uma questão de tempo.
Em Israel, enquanto isso, a questão de como lidar com o Hamas e a ameaça representada pelos militantes na faixa de Gaza começara a emergir como tema dominante da campanha para as eleições gerais de 10 de fevereiro.
Binyamin Netanyahu, o líder do partido oposicionista de direita Likud, junto com muitos outros políticos dentro e fora do governo, pediu uma ação militar decisiva. A chanceler e líder do partido governista Kadima, Tzipi Livni, reiterou seus chamados, aumentando a pressão sobre Ehud Olmert, o premiê em final de mandato, e Ehud Barak, o ministro da Defesa e líder do Partido Trabalhista, de centro-esquerda.
Ambos vinham defendendo uma atitude moderada, avisando que o momento para uma ofensiva militar ainda não chegara. No sábado, porém, com bombas caindo por toda parte na faixa de Gaza, Barak declarou: "Há um momento para a calma e um momento para a luta, e este é o momento de lutar".


Tradução de CLARA ALLAIN


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