São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Assessora admite falhas de inteligência antes da guerra

Saques impediram que arsenal fosse achado, diz Rice

Yasser al Zayyat/France Presse
No Kuait, americanos se preparam para treinamento de combate e técnica de sobrevivência antes de serem levados ao Iraque


DA REDAÇÃO

A assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, admitiu ontem a existência de falhas de inteligência e dúvidas antes da Guerra do Iraque, mas defendeu a decisão do presidente George W. Bush pelo confronto. Para ela, a verdade sobre o suposto arsenal proibido iraquiano "pode nunca vir à tona completamente por causa dos saques" que sucederam a invasão.
As declarações de Rice seguem o depoimento do ex-chefe da busca americana por armas no Iraque, David Kay, ao Comitê de Serviços Armados do Senado. Kay, que trabalhou no Iraque por sete meses procurando indícios de armas de destruição em massa, disse crer que o arsenal não exista.
Para o inspetor, as armas que Bagdá eventualmente manteve após a Guerra do Golfo e as sanções da ONU (1991) foram destruídas na metade da década passada. O ex-ditador Saddam Hussein nunca provou que aniquilou o arsenal, como exigia a ONU, mas até hoje nenhum indício da existência das armas foi achado.
"O que temos são provas de que há diferenças entre aquilo que sabíamos existir e o que encontramos em campo", disse Rice em entrevista ao canal CBS.
A suposta existência de armas de destruição em massa iraquianas foi a principal razão para a invasão, em março. "Quando se lida com regimes tão obscuros e que tentam despistar, nunca dá para ter certezas [sobre a inteligência]", disse ela para a TV NBC.
Kay afirmou, em seu depoimento anteontem, que os saques impediriam o mundo de saber com precisão o que ocorreu no país -quando o arsenal existiu e que tipos de armas o compunham. Já Rice citou os saques como o motivo pelo qual as armas, que segundo ela os EUA sabiam existir, não foram achadas.
Ela também atribuiu as lacunas sobre o arsenal ao fato de Saddam "ter deixado o mundo especulando" que armas ele tinha ou não.
Rice rechaçou a realização de uma investigação independente, como pedem congressistas democratas e como sugeriu Kay.
Mas ela disse que o inspetor "levantou algumas questões que queremos responder". "Ninguém quer saber melhor o que achamos no Iraque do que o presidente e o governo", declarou.

Morte
A violência no país prosseguiu ontem com um ataque com granadas-foguetes contra um posto de controle no sul de Kirkuk, no qual um membro da Defesa Civil iraquiana morreu.
Em Baquba, ao norte de Bagdá, uma carroça com diesel e explosivos foi detonada perto de uma base da Defesa Civil, ferindo dez pessoas. No sul, em Basra, três iraquianos foram feridos quando uma bomba explodiu na rua no momento em que passava um veículo civil.
A ONU -que retirou seus funcionários do Iraque após ter sua sede atacada duas vezes no ano passado, mas deve retornar em breve- recebeu em Bruxelas o prêmio Sakharov pela defesa dos direitos humanos.
O secretário-geral, Kofi Annan, recebeu a honraria, dedicada ao brasileiro Sérgio Vieira de Mello, seu enviado especial ao Iraque e um dos 24 mortos nos dois atentados contra a entidade.

Com agências internacionais

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