|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morte de opositor eleva violência no Quênia
Deputado era considerado um moderado na frente oposicionista que afirma ter vencido eleição presidencial de dezembro
No vale do Rift, onde grupo étnico kikuyu tem presença forte, a polícia precisou retirar moradores luos; mortos já são mais de 800
Yasuyoshi Chiba/France Presse
|
Simpatizante de Raila Odinga em Kisumu exorta Kofi Annan, que medeia crise no Quênia, a dizer "o que eles [líderes] querem ouvir' |
ANA FLOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM MAPUTO (MOÇAMBIQUE)
A morte de um deputado da
oposição na madrugada de ontem agravou a situação no Quênia, onde a violência pós-eleitoral já deixou ao menos 800
mortos desde dezembro.
Mugabe Were, deputado
eleito pela primeira vez para o
Parlamento, foi morto a tiros
quando chegava em casa em
um subúrbio de Nairóbi, capital
do país. Ainda não se sabe se
seu assassinato foi político ou
uma tentativa de assalto. Após
a notícia da morte, novos focos
de violência surgiram nas duas
maiores favelas da cidade, redutos da oposição.
Were foi atingido por tiros
enquanto esperava que um empregado abrisse o portão da sua
casa. Segundo a família, não
houve assalto. Ferido, ele foi levado a um hospital de Nairóbi,
onde morreu.
A morte do deputado reavivou as acusações entre governo
e oposição sobre quem está alimentando a violência que aterroriza várias áreas do Quênia.
O governo, reeleito sob acusação de fraudes eleitorais, foi
rápido em condenar a morte do
deputado. O partido de oposição ODM (Movimento Democrático Laranja, na sigla em inglês), que perdeu as eleições,
insinuou que os assassinos
eram do grupo que apóia o
atual presidente, Mwai Kibaki,
um kikuyu.
Were era considerado um
"moderado" dentro do ODM,
partido liderado por Raila
Odinga, candidato que ficou em
segundo lugar nas eleições. Ele
era favorável a um maior diálogo com o governo, ao contrário
de muitos de seus partidários.
Manifestantes se reuniram
para protestar em frente à casa
de Were. Em outras localidades, novos ataques contra kikuyus foram registrados.
Desde o fim de semana, a violência aumentou. No vale do
Rift, onde o grupo étnico kikuyu tem presença forte, a polícia
precisou retirar moradores
luos, grupo de Odinga.
A violência no local é vista como uma "revanche" dos kikuyus, que até agora tinham sofrido ataques, em especial no oeste do país. "Ao que tudo indica,
foi o momento dos kikuyus pagarem com violência o que receberam. A situação está cada
vez mais fora de controle", diz o
especialista em mediação de
conflitos Aggrey Otieno.
Negociação
A violência chegou até Naivasha, cidade turística a menos
de uma hora de Nairóbi. Muitos
ônibus eram parados e os passageiros, obrigados a descer. Os
reconhecidos como luos, pelo
nome ou cidade de origem,
eram atacados.
Ontem, uma nova rodada de
negociações entre o presidente
Kibaki e Odinga foi proposta
pelo ex-secretário-geral da
ONU, Kofi Annan.
Após encontro em Nairóbi,
Kibaki e Odinga garantiram
que irão fazer o possível para
"salvar o país da destruição".
Mas poucos foram os avanços
reais. Odinga continua insistindo que Kibaki precisa deixar a
Presidência. Kibaki não cogita
a hipótese, mas parece aberto a
oferecer mais espaço à oposição em seu governo.
Annan estimou que em um
mês as "questões políticas urgentes" estarão resolvidas. Para a situação como um todo se
normalizar, estimou um ano.
Para o historiador Macharia
Munene, o ex-secretário da
ONU está sendo otimista.
"Uma vez que esta violência
chega à população mais pobre,
perde-se o controle. Não será
em um ano que estas divisões e
feridas cicatrizarão. Políticas
para desmontar o tribalismo
serão necessárias."
Segundo Munene, os problemas econômicos da população
têm sido usados historicamente para ativar divisões. No oeste
do país, reduto luo, parte da estrada-de-ferro que conecta o
porto de Mombaça à vizinha
Uganda foi destruída. Manifestantes carregavam faixas que
diziam "Sem Raila [Odinga],
sem ferrovia".
EUA e terror
Países ricos ameaçam o governo queniano com cortes na
ajuda financeira -que chega a
6% do PIB do país. Ontem, a secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, fez um apelo
pelo fim da violência. O Quênia
deve receber a sede do novo comando militar dos EUA para a
África. O país é considerado um
dos principais pontos de combate ao terrorismo na região,
em especial na Somália.
Texto Anterior: Artigo: Obama e o passado Próximo Texto: No vale do Rift, disputa por terras alimenta violência Índice
|