São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2000


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REINO UNIDO
Premiê resiste a tirar licença-paternidade, depois de aprovar lei sobre o tema e estimular outros a fazê-lo
Gravidez da mulher embaraça Blair

WARREN HOGE
do "The New York Times", em Londres

O premiê Tony Blair passou quase três anos no cargo dizendo aos britânicos que eles precisam livrar-se de suas tradições superadas e acompanhar os novos tempos. Agora sua mulher lhe está dizendo que não há melhor lugar para lançar a revolução do que a sua própria casa.
Cherie Blair, 45, está grávida de sete meses. Será o quarto filho do casal. Na semana passada ela declarou que espera que Blair, 46, aproveite pelo menos parte da licença-paternidade que seu governo acaba de aprovar.
Apressando-se a fechar a saída que a grande importância do cargo de premiê poderia proporcionar ao marido, Cherie observou, em tom de admiração, que o premiê da Finlândia, Pavvo Lipponen, 57, deixou o governo de lado no início do mês para passar uma semana em casa ao lado de sua filha recém-nascida.
"É claro que quero tirar algum tempo para ficar com o bebê quando ele ou ela nascer, mas, francamente, não sei o que fazer", disse Blair em entrevista à rádio, soando mais como um personagem confuso e distraído de Hugh Grant do que como o resoluto premiê britânico. Em seguida, deixou o assunto de lado com uma referência em tom de brincadeira à solução "blairiana" para todos os outros males: "Vou ter que encontrar uma terceira via".
É difícil imaginar que essa via possa conduzir a qualquer outro lugar senão o quarto do bebê, tão grande é a pressão. "Tony Blair tem a sua frente uma oportunidade única de liderar com seu exemplo, de mostrar que os pais têm um papel crucial a cumprir na vida de seus filhos desde o nascimento", disse Julie Mellor, presidente da Comissão por Direitos Iguais. Mary Newburn, da Fundação Nacional do Parto, foi mais direta, deixando implícito que, se não fizer bom uso dessa oportunidade, Blair será visto em todo o país como alguém que fugiu da raia: "O que Tony Blair fizer quando seu filho nascer será um sinal muito contundente enviado a outros homens".
A deputada trabalhista (como o premiê) Fiona Mactaggert, opinou: "É claro que ele terá que tirar algum tempo de licença, embora eu desconfie que o fará com constrangimento".
Pode servir de ajuda o fato de Blair residir no andar de cima de seu local de trabalho. Sua administração é muito sensível às pesquisas de opinião, e elas indicam que a decisão de tirar algum tempo para ficar em casa seria especialmente bem vista entre as mulheres. Há mais mulheres do que nunca nas fileiras trabalhistas, e o partido quer conservar sua popularidade entre as mulheres, que, em 97, foram às urnas em número recorde para votar em Blair.


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