São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

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Rússia veta na ONU condenação ao Irã

Texto mais duro no Conselho de Segurança recriminando detenção de militares britânicos foi suavizado por iniciativa de Moscou

Libertação da única mulher entre os presos é adiada por Teerã; marinheira, em nova carta, pede ao Parlamento o fim da ocupação do Iraque

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

O Conselho de Segurança das Nações Unidas expressou ontem "grave preocupação" com a prisão de 15 militares britânicos pelo Irã há uma semana, quando patrulhavam as águas do golfo Pérsico. O texto proposto pelo Reino Unido, muito mais duro, foi suavizado por iniciativa da Rússia.
Foram retirados do texto original o trecho que "deplorava" a atitude do Irã e a alegação britânica de que os marinheiros estavam em águas iraquianas ao serem presos. O comunicado de imprensa, mecanismo diplomático de mais baixo nível à disposição do CS, causou imediato repúdio do Irã, que defendeu uma solução "bilateral".
O comunicado da ONU foi feito após o Irã voltar atrás na decisão de libertar Faye Turney, a única mulher do grupo, conforme havia sido prometido anteontem. O governo iraniano afirmou ter adiado a libertação de Turney devido à "atitude incorreta" do Reino Unido.
O Irã contesta as alegações britânicas de que os militares estariam em águas iraquianas quando foram presos. Anteontem, a TV iraniana Al Alam mostrou um depoimento e uma carta de Turney nos quais ela afirmava que seu grupo invadira as águas iranianas.
A polêmica exibição de Turney pela TV iraniana, criticada pelo governo britânico, ganhou novo lance ontem com a divulgação, pela embaixada iraniana em Londres, do que seria uma segunda carta da militar.
Endereçada aos "representantes da Câmara dos Comuns" britânica, a carta repete as alegações de que os 15 militares teriam invadido as águas iranianas e pede ainda o fim da ocupação do Iraque.
"Não é o momento de começarmos a retirar nossas forças do Iraque e deixá-los determinar seu próprio futuro?", diz Turney na carta, cuja autenticidade não foi comprovada.
A chanceler britânica, Margaret Beckett, afirmou que o uso de Turney como arma de propaganda era "ultrajante e cruel" e novamente expressou temor sobre coerções que os presos possam estar sofrendo.
"Não vimos essa carta, mas temos sérias preocupações sobre as circunstâncias em que ela foi preparada e enviada."
O premiê Tony Blair também se manifestou sobre a exibição dos presos britânicos ontem, afirmando que ela foi "uma desgraça", além de ilegal.
"É uma desgraça que pessoas sejam usadas dessa maneira. Isso contraria todas as leis e convenções internacionais e não vai fazer nenhuma diferença para nós", disse Blair.
Pouco antes da divulgação do comunicado de ontem na ONU, a Rússia expressou preocupação com a situação na região.
O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, lembrou que a tensão no golfo Pérsico vem se agravando desde que o Conselho de Segurança da ONU decidiu, no último sábado, impor sanções ao Irã por causa de seu programa nuclear. "O golfo Pérsico está hoje em tal agitação que qualquer ação na região, especialmente envolvendo forças militares, deve levar em conta a necessidade de não agravar mais a situação."


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