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Livro liga embaixador equatoriano às Farc
Amigo de Chávez, representante de Rafael Correa na Venezuela teve encontro oculto com Raúl Reyes
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Amigo de Hugo Chávez, o
embaixador do Equador na Venezuela, general aposentado
René Vargas, manteve ao menos um encontro clandestino
com o número dois das Farc
(Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes.
A informação é revelada no
livro "O Jogo do Camaleão", do
jornalista Arturo Torres, a ser
publicado nesta semana em
Quito. É o terceiro funcionário
de alto escalão do governo Rafael Correa vinculado com a
guerrilha colombiana.
O encontro entre Vargas e
Reyes -morto em ataque colombiano a um acampamento
das Farc no Equador em março
do ano passado- foi presenciado por Torres em julho de
2003, quando o repórter do jornal "El Comércio" esteve no
acampamento de Reyes para
entrevistá-lo, em território da
Colômbia próximo à fronteira
equatoriana.
"Ele explicou que, ainda que
fosse amigo de Reyes, não compartilhava seus métodos, e que
por isso lhe pediu não atentar
contra o Equador. Enfatizou
que não era um delito ser amigo
de Reyes", disse à Folha Torres, ganhador em 2004 do reconhecido prêmio Instituto
Prensa y Sociedad (Ipys), dado
às melhores reportagens sobre
corrupção publicadas na América Latina.
Na entrevista a Torres incluída no livro, Vargas, 75, disse que visitou o acampamento
como representante do Grupo
de Monitoramento do Plano
Colômbia, formado no Equador por militantes de esquerda
críticos da política linha-dura
do presidente Álvaro Uribe.
"Eu lhe pedi que não viessem
ao Equador, que não atentem
contra o país, que não queremos participar nem contra
nem a favor e lhe disse que nos
manteríamos neutros", afirmou Vargas, em entrevista gravada em 2008. Ontem, o embaixador não foi localizado.
Além de se considerar amigo
de Reyes, Vargas mantém um
longo e conhecido relacionamento com Chávez. Foi essa
amizade que lhe assegurou o
posto de embaixador em Caracas quando Correa assumiu o
governo equatoriano, no início
de 2006.
"São amigos desde que Chávez foi preso por tentativa de
golpe, no início dos anos 90.
Escreveram juntos o livro "A
União Cívico-Militar para o Sucesso de uma Revolução", me
contou o general", diz Torres.
Ele descreve com detalhes os
casos já conhecidos de dois ex-altos funcionários de Correa:
Gustavo Larrea, que ocupou o
Ministério de Segurança Interna e Externa, e José Ignacio
Chauvin, ex-subsecretário de
Assuntos Políticos do Ministério de Governo.
O livro mostra que o território já servia de refúgio para tratamento médico, lavagem de
dinheiro e rota de fuga das Farc
antes da posse de Correa. Os
países têm extensa fronteira,
na maior parte, pouco povoada.
O jornalista só publicou o encontro e a foto entre Vargas e
Reyes agora porque, na época,
o general aposentado não ocupava cargo público.
Tolerância com as Farc
Torres também revela relatórios militares equatorianos
que descreviam constante movimento das Farc na região
fronteiriça de Angostura, onde
estava o acampamento de Reyes bombardeado pela Colômbia. O episódio causou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, até hoje
não restabelecidas.
Embora não negue os encontros entre as Farc e membros
de seu governo, Correa repele
qualquer vínculo com a guerrilha colombiana. Sobre Larrea,
ele disse que os encontros com
Reyes visavam acelerar a liberação de reféns políticos.
Correa mantém uma tumultuada convivência com o colombiano Álvaro Uribe desde o
ataque. As relações se deterioraram ainda mais depois que
arquivos supostamente encontrados nos computadores do líder das Farc indicavam proximidade com vários membros
do governo equatoriano.
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