São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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Livro liga embaixador equatoriano às Farc

Amigo de Chávez, representante de Rafael Correa na Venezuela teve encontro oculto com Raúl Reyes

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Amigo de Hugo Chávez, o embaixador do Equador na Venezuela, general aposentado René Vargas, manteve ao menos um encontro clandestino com o número dois das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Raúl Reyes.
A informação é revelada no livro "O Jogo do Camaleão", do jornalista Arturo Torres, a ser publicado nesta semana em Quito. É o terceiro funcionário de alto escalão do governo Rafael Correa vinculado com a guerrilha colombiana.
O encontro entre Vargas e Reyes -morto em ataque colombiano a um acampamento das Farc no Equador em março do ano passado- foi presenciado por Torres em julho de 2003, quando o repórter do jornal "El Comércio" esteve no acampamento de Reyes para entrevistá-lo, em território da Colômbia próximo à fronteira equatoriana.
"Ele explicou que, ainda que fosse amigo de Reyes, não compartilhava seus métodos, e que por isso lhe pediu não atentar contra o Equador. Enfatizou que não era um delito ser amigo de Reyes", disse à Folha Torres, ganhador em 2004 do reconhecido prêmio Instituto Prensa y Sociedad (Ipys), dado às melhores reportagens sobre corrupção publicadas na América Latina.
Na entrevista a Torres incluída no livro, Vargas, 75, disse que visitou o acampamento como representante do Grupo de Monitoramento do Plano Colômbia, formado no Equador por militantes de esquerda críticos da política linha-dura do presidente Álvaro Uribe.
"Eu lhe pedi que não viessem ao Equador, que não atentem contra o país, que não queremos participar nem contra nem a favor e lhe disse que nos manteríamos neutros", afirmou Vargas, em entrevista gravada em 2008. Ontem, o embaixador não foi localizado.
Além de se considerar amigo de Reyes, Vargas mantém um longo e conhecido relacionamento com Chávez. Foi essa amizade que lhe assegurou o posto de embaixador em Caracas quando Correa assumiu o governo equatoriano, no início de 2006.
"São amigos desde que Chávez foi preso por tentativa de golpe, no início dos anos 90. Escreveram juntos o livro "A União Cívico-Militar para o Sucesso de uma Revolução", me contou o general", diz Torres.
Ele descreve com detalhes os casos já conhecidos de dois ex-altos funcionários de Correa: Gustavo Larrea, que ocupou o Ministério de Segurança Interna e Externa, e José Ignacio Chauvin, ex-subsecretário de Assuntos Políticos do Ministério de Governo.
O livro mostra que o território já servia de refúgio para tratamento médico, lavagem de dinheiro e rota de fuga das Farc antes da posse de Correa. Os países têm extensa fronteira, na maior parte, pouco povoada.
O jornalista só publicou o encontro e a foto entre Vargas e Reyes agora porque, na época, o general aposentado não ocupava cargo público.

Tolerância com as Farc
Torres também revela relatórios militares equatorianos que descreviam constante movimento das Farc na região fronteiriça de Angostura, onde estava o acampamento de Reyes bombardeado pela Colômbia. O episódio causou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, até hoje não restabelecidas.
Embora não negue os encontros entre as Farc e membros de seu governo, Correa repele qualquer vínculo com a guerrilha colombiana. Sobre Larrea, ele disse que os encontros com Reyes visavam acelerar a liberação de reféns políticos.
Correa mantém uma tumultuada convivência com o colombiano Álvaro Uribe desde o ataque. As relações se deterioraram ainda mais depois que arquivos supostamente encontrados nos computadores do líder das Farc indicavam proximidade com vários membros do governo equatoriano.


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