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Vitória da extrema direita seria
"desastrosa", dizem empresários
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O presidente do Medef (Movimento das Empresas da França,
sua maior organização patronal),
Ernest-Antoine Seillière, declarou
ontem que a vitória de Jean-Marie
Le Pen no pleito presidencial teria
"efeitos desastrosos sobre o país".
E, "em nome da tolerância, da legalidade, da democracia e da República", exortou os empresários
a "cumprir seu dever eleitoral".
Todavia a retórica democrática
do início do pronunciamento do
homem-forte do empresariado
francês só serviu de introdução
para o que realmente interessava
à sua audiência: o impacto econômico de um eventual (e improvável) triunfo da extrema direita.
"Privilegiar o isolacionismo e o
protecionismo levaria o país a um
declínio sem precedentes. O projeto de Le Pen provocaria um aumento do desemprego, uma crise financeira, um surto inflacionista
e o empobrecimento da população", afirmou o empresário.
Sem dar conselho formal de voto aos membros do Medef, Seillière disse ainda que "sair da União Européia [como prega Le Pen] seria uma aberração". "Sabemos o
quanto 50 anos de integração européia contribuíram para o crescimento econômico de nosso país". Ora, retirar a França da UE
talvez seja o mais ambicioso plano do candidato de extrema direita na esfera internacional.
"Isso teria um impacto catastrófico sobre a economia francesa, o
que preocupa o empresariado.
Embora, segundo pesquisas, Le
Pen não tenha grandes chances de
eleger-se, ninguém quer correr o
risco de ver a surpresa do primeiro turno repetir-se", disse à Folha
Dominique Reynié, do Instituto
de Estudos Políticos de Paris.
"Assim, todos vêm a público
para conclamar seus pares a votar. Nesse caso, criticar Le Pen significa apoiar [Jacques] Chirac
[candidato de centro-direita]. Este, diga-se de passagem, já era o
candidato preferido de boa parte
dos empresários", acrescentou.
Para Christian Lequesne, do
Centro de Estudos e de Pesquisas
Internacionais (Paris), vários fatores explicam a atitude dos empresários. "Para os setores industrial e de serviços, haveria um aumento de custos, sobretudo se a França abandonasse o euro. Afinal, as tarifas alfandegárias e as taxas de câmbio, por exemplo, teriam de ser somadas aos custos."
"Já os agricultores ficariam despojados da Política Agrícola Comum, o que os deixaria em desvantagem em relação à concorrência externa. Sem subsídios, os
produtos agrícolas franceses tem custo de produção mais elevado do que os americanos ou os brasileiros", apontou Lequesne.
Outros pontos controversos do programa de Le Pen são a reforma fiscal e a restrição ao trabalho de estrangeiros. "A irrealizável e populista reforma fiscal proposta pela Frente Nacional [partido de Le Pen], que incluiria até o fim progressivo do imposto de renda, acarretaria um déficit fiscal extraordinário, o que também seria prejudicial ao franco -se ele voltasse a circular", afirmou Reynié.
"Já a restrição ao acesso dos estrangeiros ao mercado de trabalho afetaria as pequenas empresas e as propriedades rurais. Estas fazem uso de bom número de imigrantes para trabalhos sazonais, como as colheitas", acrescentou.
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