São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Para Teerã, o Conselho de Segurança tem de devolver o caso à AIEA

Sob pressão, Irã sugere a volta da inspeção da ONU

DA ASSOCIATED PRESS

Em uma aparente oferta para evitar que seu programa nuclear seja motivo para que o Conselho de Segurança da ONU adote sanções contra o país, o Irã se disse ontem disposto a permitir o retorno de inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica -mas declarou que o enriquecimento de urânio vai continuar.
"Se o caso voltar à AIEA, estamos prontos a aceitar inspeções intrusivas", disse Mohammed Saeedi, o vice-chefe do programa nuclear iraniano.
Mohamed El Baradei, o chefe da AIEA, confirmou anteontem que o Irã teve sucesso na produção de urânio enriquecido e que desafiou o ultimato do Conselho de Segurança para que interrompesse essa atividade. A informação ampliou a possibilidade de punição diplomática ao Irã e elevou o risco de uma ação armada.
Além de manter a intransigência em relação ao enriquecimento de urânio, Saeedi disse que o Irã está procurando ampliar sua capacidade tecnológica na área.
Os cientistas do país estão estudando centrífugas mais avançadas do que aquelas cuja pesquisa o presidente Mahmoud Ahmadinejad anunciara no início do mês. O equipamento mais sofisticado acelera o processo de enriquecimento. "Nossos esforços estão direcionados ao uso de máquinas mais avançadas, como na Alemanha, na Holanda, no Japão e no Brasil", disse Saeedi.
O relatório da AIEA provocou reações imediatas. O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que o mundo está preocupado "não só com o desejo do Irã de ter uma arma nuclear mas também com sua capacidade de fazer uma arma nuclear".
Bush disse que não se sentiu desencorajado pelo desafio iraniano à pressão internacional: "Acho que as opções diplomáticas estão apenas começando".
O documento apresentado por El Baradei deve deflagrar um debate intenso no Conselho de Segurança, quando os chanceleres dos cinco membros permanentes (EUA, Rússia, China, Reino Unido e França) mais o representante da Alemanha se reunirem em Nova York no próximo dia 9.
França e Reino Unido se uniram aos EUA no apoio a uma ação enérgica contra o Irã, enquanto Rússia e China querem que a AIEA tome a frente na discussão de uma solução diplomática.
O vice-embaixador da Rússia na ONU, Konstantin Dolgov, disse à agência russa Itar-Tass que "as sanções não são o caminho para resolver o problema iraniano, ao menos no estágio atual, tendo em vista as informações disponíveis".
Ontem, o governo iraniano reiterou que "não responde bem à pressão". O embaixador do país na ONU, Javid Zarif, afirmou que o Irã está buscando um caminho para solucionar a crise. "Há uma variedade de possibilidades para encontrar uma saída, se partirmos da premissa de que o Irã tem o direito [de ter energia nuclear] e que o Irã não deve desenvolver armas nucleares", afirmou Zarif à rádio britânica BBC.
O Irã vetou as inspeções intrusivas a seus complexos nucleares em fevereiro, depois que seu programa foi levado ao Conselho de Segurança, devido ao fato de que muitos países ocidentais suspeitam que Teerã esteja desenvolvendo armas nucleares.
O governo iraniano diz que seu programa é para fins pacíficos.


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